Macron vive um momento de grande turbulência na França (AFP)
Redator na Exame
Publicado em 12 de junho de 2024 às 08h53.
A decisão do presidente Emmanuel Macron de convocar novas eleições na França gerou preocupações entre investidores, aumentando os custos de empréstimos do país, derrubando os preços das ações e levando a agência de classificação Moody's a alertar sobre um possível rebaixamento da dívida soberana francesa. As preocupações com a instabilidade política se intensificaram após Macron dissolver a Assembleia Nacional em resposta ao crescimento do partido de extrema-direita de Marine Le Pen nas eleições para o Parlamento Europeu.
A dissolução da Câmara dos Deputados foi motivada pelo mau desempenho do partido de Macron frente ao partido de Le Pen. Este movimento gerou receios de que o governo francês enfrente um impasse legislativo, prejudicando a capacidade de enfrentar desafios econômicos.
De acordo com o The New York Times, investidores reagiram negativamente à instabilidade, fazendo o índice da Bolsa de Paris cair 1,33% na terça-feira, 11, após uma queda acentuada na segunda-feira, 10. Os rendimentos dos títulos do governo francês de 10 anos subiram pelo segundo dia consecutivo, refletindo a preocupação com a capacidade do país de gerenciar suas finanças.
A França enfrenta um período econômico difícil, com os impactos das guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, desacelerações econômicas na Alemanha e China e taxas de juros recordes. Recentemente, o governo de Macron alertou que o crescimento econômico seria menor que o esperado este ano.
Após gastar pesadamente durante a pandemia para apoiar a economia, a dívida da França alcançou 3 trilhões de euros (R$ 17 trilhões), ou 110,6% do PIB. O déficit do governo para 2023 é de 154 bilhões de euros (R$ 888 bilhões), representando 5,5% do PIB, uma das piores performances da zona do euro. A França corre o risco de violar as regras orçamentárias da União Europeia, que limitam o endividamento do governo, e pode enfrentar sanções da Comissão Europeia.
Na terça-feira (11), a Moody's advertiu que a decisão de Macron poderia agravar os problemas financeiros da França ao criar um ambiente político polarizado. O aviso da agência destacou o risco de maior instabilidade política no futuro, com a possibilidade de o Parlamento enfrentar um impasse político prolongado.
Marine Le Pen e seu partido, o Rassemblement National, defendem maiores gastos públicos para enfrentar questões como a perda de poder aquisitivo devido à inflação alta e aos custos de energia, além de criar empregos em áreas afetadas pela desindustrialização. Le Pen tem atraído eleitores, especialmente em áreas rurais, prometendo proteger a França das políticas europeias que expandiram a globalização.
Macron tentou contrapor o crescimento do partido de Le Pen, abordando a desaceleração econômica, questões de imigração e exigências regulatórias impostas pela União Europeia. Em meio ao seu segundo mandato, Macron tem tentado mostrar que está movendo a França de volta aos negócios, reformando o código trabalhista e implementando um programa de industrialização subsidiada que atraiu centenas de bilhões de euros em compromissos de empresas multinacionais.
A decisão de Macron de dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições visa garantir um governo mais estável e capaz de enfrentar os desafios econômicos, mas traz consigo o risco de aumentar a polarização política e a incerteza econômica. A votação das eleições está marcada para 30 de junho, e o resultado pode ter um impacto significativo no futuro político e econômico da França.