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Eleição no Chile: imigração e segurança são temas centrais da disputa

Temas mais associados com a direita do espectro político, como imigração, deportação, e combate ao crime se tornam centro das preocupações da base eleitoral chilena, seguindo tendência política na América Latina

Jeanine Jara e José Antonio Kast, durante debate: os dois disputam a eleição presidencial (Raul Bravo/AFP)

Jeanine Jara e José Antonio Kast, durante debate: os dois disputam a eleição presidencial (Raul Bravo/AFP)

Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 08h00.

O Chile realiza neste domingo, 14, o segundo turno das eleições presidenciais. Estão na disputa o deputado José Antonio Kast, de direita, e Jeannette Jara, de esquerda e candidata do governo.

Kast é apontado como favorito para vencer, em uma campanha marcada pelos temas da segurança pública e da imigração, e em um cenário em que o governo enfrenta um momento de forte rejeição. As urnas fecham às 18h, e a expectativa é de que o resultado seja conhecido por volta das 20h (mesma hora de Brasilia).

Embora Jara tenha vencido Kast no primeiro turno em 16 de novembro, as pesquisas indicam que ele poderia vencer a segunda votação com ampla maioria ao angariar apoios de outros candidatos conservadores.

Se inspirando em políticas de Donald Trump, o conservador propõe a construção de muros e fossas na fronteira com a Bolívia, posicionar 3 mil soldados na área, além da criação de uma força de polícia especializada em lidar com imigrantes ilegais, de maioria venezuelanos, inspirada na americana ICE (Immigration and Customs Enforcement).

Kast promete deter e expulsar quase 340 mil imigrantes irregulares. O candidato disse que imigrantes ilegais teriam 92 dias – o tempo até sua possível posse como presidente – para deixar o Chile.

Também pediu ao incumbente Boric para abrir “corredores humanitários” que permitam essa evacuação.

“Após esses 92 dias, qualquer pessoa que solicitar qualquer serviço público — seja na área da saúde, educação, transporte, para uma remessa, para um contrato ou para vender algo — será registrada e convidada a sair”, disse.

“Todos têm que tomar suas próprias decisões livremente”, diz Kast. “Sei que é difícil, mas temos que fazer cumprir a lei.”

São suas políticas rígidas contra o crime e a imigração que o dão popularidade e favoritismo para ganhar as eleições. Kast também planeja construir grandes presídios, como Nayib Bukele fez em El Salvador.

Deportação sistemática e combate ao crime

Dos 20 milhões de habitantes do Chile, cerca de 2 milhões são imigrantes, segundo a revista The Economist.

Dessa parcela, cerca de 337.000 seriam irregulares. Além de esperar que, com sua eleição iminente, os imigrantes se sintam pressionados a sair, Kast também aposta no uso de serviços públicos para atingir uma deportação sistemática:

“Nossa abordagem é muito clara: sem violência, apenas fazendo cumprir a lei. Não preciso sair armado para procurar alguém: você virá até mim,” acreditando que o uso desses serviços, como registros para sistemas de saúde, será capaz de detectar cidadãos irregulares, que, esperançosamente, se entregariam pacificamente.

Kast também diz que os imigrantes irregulares ficariam detidos em campos enquanto aguardam a deportação.

Sua agenda em relação ao crime é simples: mais e maiores prisões, já que o sistema carcerário chileno já opera a 140% da capacidade, reporta o The Economist. Além disso, Kast também planeja enviar membros do exército para patrulhar não só a fronteira, mas também centros de atividade de gangues, medidas que geram certo alerta tendo em luz o passado de ditadura militar do Chile.

A trajetória de José Antonio Kast

Kast, de 59 anos, é casado e pai de nove filhos. Ele defendeu a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e se opõe ao aborto, mesmo em casos de estupro, à pílula do dia seguinte, ao divórcio e ao casamento homoafetivo.

É o mais novo de 10 filhos de um casal de alemães que emigrou para o Chile, onde seu pai fundou um próspero negócio de embutidos.

Investigações jornalísticas revelaram em 2021 que seu pai, nascido na Alemanha, foi membro do partido nazista de Adolf Hitler. Mas Kast afirmou que ele foi recrutado à força pelo Exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e negou que seu pai fosse partidário do movimento nazista.

O candidato foi deputado por 16 anos. Em 2016, deixou o União Democrata Independente (UDI), no qual militou por décadas, por considerar que o partido havia abandonado os princípios conservadores que o inspiravam.

Em 2019, fundou o Partido Republicano, que lidera com uma mistura de "simpatia pessoal" e um "controle rígido", explica à AFP Javiera González, coautora do livro "Kast, el mesías de la derecha chilena" ('Kast, o messias da direita chilena', em tradução livre).

A trajetória de Jeanine Jara

Embora milite no Partido Comunista desde os 14 anos, Jeannette Jara faz parte de sua ala mais liberal e crítica. Ela representa uma coalizão de nove partidos de centro-esquerda.

Durante a campanha, enfrentou publicamente a cúpula do PC devido à sua visão crítica sobre Cuba e Venezuela, que não considera democracias.

A origem popular de Jara contrasta com a elite da política chilena. "Pela primeira vez (...) uma pessoa que vem dos setores populares pode chegar a governar", disse a própria Jara à AFP antes do primeiro turno.

Ela nasceu há 51 anos em El Cortijo, bairro pobre no norte de Santiago, onde viveu com os avós até a adolescência "em uma meia-água (casa com telhado de única queda)", segundo contou.

Trabalhou como colhedora de frutas e caixa, antes de ingressar na universidade. Casou-se aos 19 anos enquanto ainda estudava e ficou viúva aos 21, após o suicídio do marido. Casou-se novamente, teve um filho, divorciou-se e atualmente está em um relacionamento.

É formada em administração pública e direito. Seu salto para a política ocorreu durante o governo de Boric, que a nomeou ministra do Trabalho. No cargo, ganhou notoriedade ao impulsionar a redução da jornada semanal de trabalho de 45 para 40 horas e a reforma da previdência privada.

Porém, não teme ser drástica. Em 2023, em plena discussão da reforma da previdência, demitiu o então subsecretário do Trabalho, Christian Larraín, que mais entendia do tema, devido a denúncias de assédio sexual.

Ela propõe aumentar o salário mínimo para quase 800 dólares (cerca de 4.330 reais), quase 250 a mais que o atual, fortalecer os direitos trabalhistas e aumentar a produção de lítio.

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