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Em convenção remota, democratas se unem contra Trump

Primeira edição virtual do evento, que irá oficializar o nome de Joe Biden como candidato do partido, terá participação de Obama, Warren e Sanders

Joe Biden: na última semana, o político escolheu a senadora Kamala Harris como sua vice (Brendan McDermid/File Photo/Reuters)
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Carolina Ingizza

Publicado em 16 de agosto de 2020 às 08h31.

Última atualização em 16 de agosto de 2020 às 08h43.

A temporada eleitoral mais incomum da história americana entra em na fase decisiva a partir de segunda-feira. A convenção do Partido Democrata vai oficializar a candidatura presidencial de Joe Biden . Mas não haverá multidões para presenciar os discursos, nem a ruidosa votação dos delegados de cada estado, muito menos a tradicional chuva de balões vermelhos, azuis e brancos na conclusão do evento, na quinta à noite. O espetáculo foi cancelado.

A pouco mais de dois meses e meio da eleição, que acontece no dia 3 de novembro, os americanos estão assistindo a uma campanha feita no improviso. A pandemia do coronavírus, que infectou 5,3 milhões de pessoas e já deixou mais de 168.000 mortos, obrigou Biden a cancelar todas as aparições públicas desde o começo de março. Em junho Donald Trump tentou fazer um comício na cidade de Tulsa; foi um fiasco de público.

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O evento que começa amanhã aconteceria na cidade de Milwaukee, e a data prevista era o final de julho. Em vez disso, os eleitores vão acompanhar essencialmente uma teleconferência como a que todos nos acostumamos nos últimos meses.

Em vez de computadores na mesa de jantar e barulho de crianças no fundo, a parte técnica promete ser um pouco mais caprichada – ou pelo menos é o que esperam os produtores do evento. Idem para quem vai aparecer na tela. Michelle Obama será a grande atração da segunda, seguida pela mulher de Biden, Jill, na terça, por Barack Obama e a candidata a vice Kamala Harris, na quarta, culminando com o discurso de Joe Biden na quinta. (As estrelas da convenção devem falar por volta das 23h de Brasília.)

O evento terá temas diários, como “Nós, o povo” e “Liderança importa”, mas há poucas dúvidas de que o fio condutor da convenção serão as críticas à atuação desastrosa de Trump diante da maior emergência de saúde pública dos últimos cem anos.

Andrew Cuomo, governador de Nova York, inaugura o ataque logo na segunda-feira. De meados de março até junho, durante cem dias consecutivos, Cuomo fez pronunciamentos diários sobre a pandemia em seu estado, o mais atingido pela covid-19. As críticas contra Trump eram uma constante dessas aparições: a ausência de uma política nacional de testagem, as afirmações de que o vírus desapareceria num passe de mágica, as orientações contraditórias sobre a necessidade de isolamento e assim por diante.

Na sequência, quem sobe ao púlpito – ou melhor, se posiciona diante da câmera – é o senador Bernie Sanders. Líder da ala mais à esquerda do Partido Democrata e grande rival de Biden nas primárias, Sanders fez de sua bandeira principal a desigualdade e a ideia de uma revolução no sistema de saúde americano. Com milhões de americanos desempregados e, portanto, sem plano de saúde, suas ideias certamente serão ouvidas com atenção.

As mulheres terão destaque na agenda: a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, que foi alvo de comentários sexistas de Trump, a senadora Elizabeth Warren e a ex-primeira-dama Hillary Clinton aparecem no “horário nobre”. Sally Yates, ministra da Justiça interina na época em que se investigaram os supostos laços entre os russos a campanha presidencial de Trump em 2016, também vai aparecer no vídeo.

A transmissão das convenções pela TV sempre são um ponto alto do ano eleitoral e costumam marcar o início da fase decisiva da campanha. Este ano, com o formato incomum, ninguém sabe o que esperar dos eventos (a convenção republicana está marcada a semana seguinte).

As três redes abertas americanas vão passar apenas uma hora por noite, entre 22h e 23h (horário de Washington), e as redes a cabo, como CNN e Fox News, devem começar uma hora antes. Em termos de conteúdo visual, será um desafio criar um produto televisivo interessante. Os âncoras, que costumam cobrir as convenções in loco, estarão nos estúdios; muitos comentaristas aparecerão de suas casas.

Há quem acredite que a grandiosidade das convenções já não faça mais sentido nos dias de hoje. Historicamente, elas tinham o objetivo de escolher o indicado de cada partido à candidatura presidencial. Mas, desde os anos 1970, isso é feito nas eleições primárias. As convenções na prática servem apenas para formalizar o desejo dos membros do partido. Em entrevista à The Atlantic, Brian Bullard, que trabalha na arrecadação de fundos da campanha de Trump, afirmou que esses eventos “vão desparecer, e este pode ser o começo do fim”.

Apesar das especulações em relação ao formato, a “videconvenção” que começa na segunda-feira deve trazer a eleição presidencial para o primeiro plano, nem que por alguns dias. A pandemia do coronavírus, apesar das claras implicações políticas – incluindo a real ameaça de que Trump seja derrotado—, domina por completo a atenção dos Estados Unidos e do mundo há cinco meses. Até mesmo a guerra aberta de uma campanha presidencial pode representar um alívio.

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