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Eleição de Trump pode ter "efeito bumerangue" para Netanyahu

Para acadêmicos e políticos israelenses, a chegada de Trump à Casa Branca fez com que, pela primeira vez, Israel se veja "mais ou menos livre" para decidir

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu (Jack Guez/AFP)

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu (Jack Guez/AFP)

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EFE

Publicado em 3 de fevereiro de 2017 às 14h49.

Tel Aviv,- Em pleno relançamento desde a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, a política de colonização de Israel pode se transformar em um "efeito bumerangue" para o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, em meio às reivindicações da extrema-direita nacionalista de anexar a Cisjordânia.

Círculos acadêmicos e políticos israelenses advertem que a chegada de Trump à Casa Branca gerou uma "nova realidade política" na região, na qual pela primeira vez em sua história Israel se vê "mais ou menos livre" para decidir.

"Acabaram as desculpas", concordaram a deputada e ex-ministra Tzipi Livni e o chefe do Conselho Regional de Samaria (norte do território ocupado da Cisjordânia), Yossi Dagan, na recente conferência anual do Instituto de Estudos de Segurança Nacional.

Robert Danin, da Universidade de Harvard, argumentou que "a dinâmica no terreno em momentos nos quais há um governo mais simpatizante (com Israel) é realmente um bumerangue".

Após sucessivos presidentes americanos que tiveram como política de Estado a posição de que o território ocupado em 1967 é fundamental para a solução de dois Estados e que os assentamentos são "ilegítimos", a eleição do imprevisível Trump "devolve a Israel a pergunta de que tipo de Estado quer ser e qual tipo de acordo" busca com os palestinos.

Por pressões dos ultranacionalistas, em particular o ministro da Educação, Naftali Benet, Netanyahu autorizou desde a posse de Trump a construção de mais de 6.000 casas em território palestino ocupado, incluindo Jerusalém Oriental, o que faz temer uma colonização em massa que acabe com a viabilidade de um Estado palestino.

Ontem, em uma tímida crítica comparada com as do ex-presidente Barack Obama, o novo governo americano disse que estas construções "podem não ajudar" nos esforços pela paz, mas lembrou que Trump ainda não adotou uma posição oficial sobre as colônias.

Trump e Netanyahu vão se reunir no próximo dia 15.

A comunidade internacional considera as colônias ilegais, conforme especificou na resolução 2334 do Conselho de Segurança da ONU, em dezembro do ano passado.

A extrema-direita israelense quer aproveitar a nova situação para ganhar terreno e conseguir seu histórico sonho: derrubar definitivamente os Acordos de Oslo (1993).

"Pela primeira vez em 50 anos, Israel deve determinar seu próprio destino. Devemos nos perguntar o que queremos, e há duas opções: soberania israelense em área C ou um Estado palestino (..) controlado pelo terrorismo como em Gaza", afirmou Benet na conferência do Instituto de Estudos de Segurança Nacional ao pedir abertamente a anexação de 60% da Cisjordânia.

Para Benet, Israel deveria criar um "cantão" sob um regime autônomo que incluísse as zonas A e B da Cisjordânia, onde vive a maioria dos palestinos, e anexar o restante ao país, junto com sua população.

A ex-ministra Tzipi Livni, de tendência mais moderada, defende por sua vez uma separação unilateral ou dentro de um acordo para que Israel continue a ser um "Estado judeu" por maioria demográfica e "democrático" em seus valores.

"A cantonização é inviável e enganosa porque todos sabemos que não pararão na zona C", alertou, ressaltando que, desta forma, 2,5 milhões de palestinos ficariam dentro de Israel.

Entre as duas opções está Netanyahu, ideologicamente inclinado pela colonização ("ninguém a defende mais do que eu", afirmou em várias ocasiões), mas sujeito à responsabilidade de governo e ao equilibrismo político.

Como exemplo está a recente evacuação da colônia de Amona, ordenada pela Suprema Corte e que lhe valeu duras críticas de ultranacionalistas ansiosos por uma "mudança drástica".

"O primeiro-ministro ficou sem desculpas nem bode expiatório (em referência ao ex-presidente americano Barack Obama) para jogar a culpa por sua relativamente contida política de crescimento nos territórios", disparou o comentarista do jornal "Ha'aretz" Yossi Verter.

Os primeiros sinais de pressão foram vistos antes mesmo da posse de Trump, com um leque de propostas como a regularização retroativa de cerca de 50 colônias ou a de convencer Washington a transferir sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém.

Netanyahu sempre dependeu das pressões da Casa Branca para conter seus próprios impulsos ideológicos, e agora, além disso, precisa delas para não se transformar em uma marionete de Benet, que tenta assumir liderança do campo nacionalista.

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