Último debate televisionado acontece uma semana das eleições legislativas (AFP/AFP)
Carolina Riveira
Publicado em 26 de setembro de 2021 às 13h44.
Última atualização em 26 de setembro de 2021 às 19h47.
Os primeiros resultados de boca de urna nas eleições da Alemanha foram divulgados no começo da tarde após a votação neste domingo, 26. O pleito define a futura composição do Bundestag, parlamento alemão, e o próximo chanceler a substituir a atual líder, a conservadora Angela Merkel.
Merkel deixará o cargo após quase 16 anos de governo, e a disputa por sua sucessão ainda é uma incógnita.
Por ora, os resultados mostram vantagem pequena dos sociais democratas do SPD sobre os conservadores da aliança União Democrata-Cristã e União Social-Cristã (CDU/CSU), mesma legenda de Angela Merkel.
O candidato de CDU/CSU, apoiado por Merkel, é Armin Laschet, que caminha para levar o partido ao pior resultado da história. O conservador perdeu apoio em meio a gafes na campanha, pouco carisma e o desejo de alguma mudança por parte da população alemã.
Assim, o SPD, de centro-esquerda e cujo líder é o ministro das Finanças, Olaf Scholz, vinha liderando as pesquisas desde agosto.
As projeções do jornal alemão Deutsche Welle estavam da seguinte forma por volta das 18h50 (horário de Brasília):
Nos últimos dias, Merkel ampliou sua participação na campanha de Laschet diante dos maus resultados do partido.
Os números da boca de urna mostram que os conservadores conseguiram reduzir parte da desvantagem, mas não o suficiente para aumentar amplamente suas chances de formar uma coalizão.
O resultado dependerá das negociações para formar uma coalizão governista, o que pode levar meses. Nenhum cenário está descartado, com a Alemanha podendo ou seguir em um governo conservador de CDU/CSU, ou rumar para um governo à esquerda liderado pelo SPD.
As possibilidades de coalizão ventiladas são:
Na esteira das preocupações ambientais que marcaram parte da campanha na Alemanha, os Verdes, mais à esquerda que o SPD e que defendem medidas mais duras no combate à crise climática, se confirmam como o partido que mais cresceu desde a última eleição.
Também devem se confirmar como a terceira maior bancada do Parlamento, se tornando cruciais para qualquer possível coalizão governista.
Já o Alternativa para Alemanha (AfD), de extrema-direita, por ora confirma a previsão de que manterá seu atual tamanho no Parlamento. Criado por dissidentes ultraconservadores do CDU de Merkel na esteira da crise dos refugiados, o partido ganhou seus primeiros assentos no Bundestag na eleição de 2017.
Na atual legislatura, a AfD tem 87 cadeiras no Bundestag, sendo a terceira maior força do Parlamento, mas deve perder esta posição após os resultados de hoje, diante do crescimento dos Verdes. A depender do resultado, a extrema-direita pode ficar atrás até mesmo dos liberais do FDP.
A legenda também tem sido sistematicamente isolada das decisões pelos demais partidos, da direita à esquerda. Nenhum partido deve procurar a AfD para uma coalizão governista, independentemente dos resultados.
No parlamentarismo, não basta vencer, mas os partidos precisam formar uma coalizão de tal foram que consigam a maioria das cadeiras no Bundestag. As negociações após os resultados de hoje ainda podem levar semanas ou meses.
No entanto, os resultados de hoje deixarão mais claras quais alianças podem de fato ser formadas.
O SPD tem boas chances de formar uma coalizão governista, o que seria a primeira vez desde 2005, quando Merkel assumiu. A legenda, historicamente de oposição aos conservadores de CDU/CSU, vinha perdendo espaço na esquerda por ter participado de três dos quatro governos Merkel.
O mero fato de o SPD estar brigando de igual para igual com CDU/CSU nesta eleição, ao contrário do que ocorreu no último pleito, em 2017, foi comemorado como uma vitória no partido.
Mas sem nenhuma legenda tendo maioria absoluta, é dado como provável que a coalizão governista tenha não dois, mas três partidos, pela primeira vez desde o pós-Guerra. Se confirmado, esse cenário tornará as negociações mais complexas.
Uma das coalizões possíveis é a "Semáforo", entre os social democratas do SPD, os Verdes e os liberais do FDP, o que colocaria, no mesmo governo, visões políticas e econômicas opostas. Será preciso convencer sobretudo o FDP a se unir à coalizão, dominada pelas duas legendas de esquerda.
Na outra ponta, não está descartada a possibilidade de que o CDU/CSU de Merkel consiga seguir no governo com Laschet.
A opção seria a coalizão "Jamaica", com o CDU se unindo ao FDP, com o qual está mais alinhado ideologicamente, e completando as cadeiras com os Verdes, que eram oposição nos últimos governos. Este cenário é visto como de negociações também muito difíceis, embora não impossível.
Christian Lindner, líder do FDP, diz que prefere uma coalizão liderada pelos conservadores de CDU/CSU. Em 2017, ele descartou essa coalizão devido à presença dos Verdes.
Restou a Merkel, naquela ocasião, convencer os rivais sociais democratas a novamente integrarem o governo, o que de fato ocorreu.
Para as chances do SPD, outra dúvida é se o Die Linke ("A esquerda", em alemão), partido originário dos comunistas da Alemanha Oriental, conseguirá superar a cláusula de barreira de 5% para entrar no Parlamento e, se o conseguir, quantas cadeiras terá.
Por ora, é dado como certeza que o partido de esquerda encolherá em relação aos resultados de 2017, o que acontece em parte devido ao apelo da extrema-direita no leste da Alemanha, exatamente onde o Die Linke é mais forte.
O resultado do Die Linke era decisivo para as chances do SPD de formar uma coalizão sem precisar de amplo apoio dos liberais do FDP, que colocariam o governo mais à direita. Se o Die Linke conseguir cadeiras suficientes, uma coalizão possível (e mais alinhada) passaria a ser entre Die Linke, Verdes e SPD, mas essa possibilidade fica cada vez mais remota com os resultados fracos do partido.
Uma última possibilidade, embora remota, é de nova união entre os conservadores de CDU/CSU e o SPD, a mesma composição do atual governo. Mas com seu crescimento, é improvável que o SPD aceite novamente ser parte de um governo conservador.
Já a chance de os conservadores aceitarem ingressar em um governo de centro-esquerda do SPD também é vista como remota, embora tudo vá depender das negociações das próximas semanas.
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