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Duncan, min. da Ciência do Canadá: mais mulheres

Gian Kojikovski, de Toronto Quando anunciou seu gabinete de ministros em novembro de 2015, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, colocou nas vagas o mesmo número de homens e mulheres. Perguntado sobre o motivo, Trudeau respondeu com um simples “porque é 2015”. Desse gabinete, a ministra da Ciência, Kirsty Duncan, é um dos nomes que mais […]

KIRSTY DUNCAN: nós não queremos perder metade do nosso talento / Divulgação

KIRSTY DUNCAN: nós não queremos perder metade do nosso talento / Divulgação

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 13 de janeiro de 2017 às 16h54.

Última atualização em 27 de junho de 2017 às 18h01.

Gian Kojikovski, de Toronto

Quando anunciou seu gabinete de ministros em novembro de 2015, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, colocou nas vagas o mesmo número de homens e mulheres. Perguntado sobre o motivo, Trudeau respondeu com um simples “porque é 2015”. Desse gabinete, a ministra da Ciência, Kirsty Duncan, é um dos nomes que mais se destaca. Além de ser uma referência em seus campos de pesquisa – fez parte do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, no inglês) que ganhou, junto com Al Gore, o prêmio Nobel da Paz em 2007 – ela é conhecida no país pela defesa da igualdade de gêneros. Duncan construiu sua carreira como professora no departamento de Saúde da Universidade de Toronto, um dos mais destacáveis do mundo na área, onde estudou como a geografia influencia o aparecimento e a dispersão de doenças. Era membro do parlamento canadense desde 2008. Durante um evento no qual participou em Toronto, reservou parte de seu tempo para esta entrevista a EXAME Hoje sobre a evolução da ciência, inovação e igualdade de gêneros.

Que tipo de políticas são mais efetivas para melhorar a igualdade de gêneros nas ciências, mas também na sociedade?
Eu vou falar do exemplo do Canadá e do que estamos tentando fazer. Pela primeira vez na história, nós temos um gabinete de ministros que tem o mesmo número de homens e mulheres. E isso causou certa discussão, mas como o primeiro-ministro Justin Trudeau falou na época, isso tem que acontecer, porque é 2015! Quando eu viajo para outros países, as pessoas chegam para mim e dizem que olhando para cá, podem ver que “agora é possível!”, então acho que isso é algo muito importante. Fazer as pessoas perceberem que há igualdade é algo que tem mais impacto do que percebemos. Agora, tratando sobre o que eu, como ministra da Ciência do Canadá, faço: trabalho para criar mais posições femininas de trabalho nos campos de ciências, engenharias, tecnologia e matemática. Falo com pessoas com poder de decisão na área para explicar a importância e a necessidade de equilíbrio de gêneros, porque nós não queremos perder metade do nosso talento, não queremos perder a metade de nossas ideias, e sabemos, por exemplo, que quando se adiciona mulheres a um time, muda a maneira de conversar. As mulheres perguntam coisas diferentes, com um ponto de vista diferente, podem usar metodologias diferentes, o que leva a diferentes resultados.

Então, mais que uma questão de igualdade básica, tem a ver com melhoria da produtividade e da economia?
Vou te dar dois exemplos conhecidos e simples, mas que mostram esse impacto. Quando os airbags foram criados, foram feitos por engenheiros que eram em sua grande maioria homens. Então, eles fizeram protótipos que foram testados. Quando os primeiros airbags chegaram ao mercado, mulheres e crianças sofreram porque eles eram testados em bonecos com o formato de homens adultos. Eles foram feitos pensando apenas em homens. Outro exemplo: as primeiras válvulas para o coração. Os primeiros cientistas que desenvolveram isso eram em sua maioria homens, e as válvulas foram feitas em um tamanho que se encaixava para homens, mas não para mulheres, porque era grandes demais. Esses exemplos mostram como é importante ter mais vozes, ter vozes dissonantes, com ideias novas ou mesmo um diferente ponto de vista, em companhias e também na ciência. Homens, mulheres, governo, pensadores de políticas públicas, comunidade acadêmica, todo mundo tem que se unir para ser possível resolver esse problema.

Quais os desafios para termos uma sociedade e uma comunidade científica mais inclusiva? Trabalho ou investimento? 
Eu acho que todas as crianças nascem curiosas. Todas querem descobrir, explorar, e depende de nós estimular essa excitação com a curiosidade durante a escola primária, secundária, e assim por diante. Lembre-se, como país, e mais do que isso, para o bem da economia mundial, não queremos e não podemos perder metade dos nossos talentos por falta de estímulo. Não é suficiente somente atrair garotas para estudar nesses campos, é preciso mantê-las e isso começa na infância. Então não é caro, nem trabalhoso, mas é preciso vontade política.

O Canadá sempre foi reconhecido pelo seu investimento em ciência, mas estamos no meio de um período econômico ruim em todo o mundo. Isso pode inibir essa verba?
A ciência é uma área importante para qualquer país que queira se desenvolver. A maneira como fazemos isso no Canadá é tentar não depender apenas de dinheiro, principalmente para coisas simples. Por exemplo, temos um dia nacional para incentivar que as crianças aprendam a programar. Nesse dia, fazemos uma iluminação especial na CN Tower, criamos um clima diferente. Por todo o país existem grupos que ajudam pessoas a programar, que incentivamos. Um desses grupos ensinou 55.000 canadenses a programar em quatro anos. Isso é impressionante, e é uma habilidade que precisamos cada vez mais na ciência e na inovação. E esse é somente um grupo, e temos vários deles, em várias áreas. São grupos baratos, que dependem muito mais de um incentivo público do que de financiamento.

Esse mesmo tipo de política pública pode ser aplicado a países como o Brasil, ou outro país emergente?
É muito importante ter uma conversa internacional entre os países para tentar ao máximo fazer intercâmbio de políticas. Todos nós queremos mais inovação, queremos novos produtos, novos processos, isso seria bom para nossos países. Mas inovação não é mais algo nacional, é global, então temos que ter essa conversa global – e isso é algo que o Canadá tenta liderar. Eu estive no encontro do G7 recentemente e discutimos coisas como o aumento do papel das mulheres na inovação, a melhoria no treinamento e na preparação de jovens, a criação de oportunidades para menos favorecidos, o incentivo à troca de ideias entre grupos de pesquisa. Eu quero levar isso para outros encontros internacionais, com outros países, principalmente emergentes. Eu estou comprometida a, cada vez que eu viajar, me encontrar com jovens que estão no campo de trabalho para ouvir suas preocupações e dizer-lhes que é possível, que essas pessoas podem fazer o que querem, sejam homens ou mulheres.

 

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