Dinamarquesas vão às ruas pelo direito de muçulmanas
Lei que afeta somente as muçulmanas residentes no país tem incomodado as mulheres que enxergam nela uma violação da livre escolha
EXAME Hoje
Publicado em 1 de agosto de 2018 às 06h44.
Última atualização em 1 de agosto de 2018 às 07h47.
Mulheres da Dinamarca vão às ruas nesta quarta-feira para protestar contra uma lei que proíbe o uso de burcas no país. Em maio deste ano, o Parlamento dinamarquês aprovou uma lei em que proíbe o véu integral em locais públicos, e que passará a valer a partir de hoje. Segundo a maioria do Parlamento, o uso de véus é incompatível com os “valores da sociedade dinamarquesa”, e um desrespeito à comunidade do país. Por isso, as mulheres que não obedecerem à proibição receberão multas entre 598 e 5.800 reais (entre 1.000 e 10.000 coroas dinamarquesas), e serão encaminhadas às suas casas.
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A lei, que afeta somente as muçulmanas residentes no país, tem incomodado as mulheres que enxergam nela uma violação da livre escolha e à própria religião islâmica. Foi deste incômodo que surgiu o grupo Kvinder I Dialog (Mulheres em Diálogo) — composto por muçulmanas que utilizam véus, que não utilizam, e também por não muçulmanas — que defende o direito de a mulher expressar sua identidade como quiser. Foi deste grupo que surgiram as manifestações de hoje.
Não é a primeira vez que um país europeu tenta decidir sobre os hábitos da religião islâmica. França, Bélgica, Holanda, Bulgária e o estado alemão da Baviera já impuseram algum tipo de restrição ao uso de véus por mulheres islâmicas.
Na França, por exemplo, o uso de véu integral é proibido desde 2011, e uma multa de 150 euros pode ser aplicada para aquelas que desrespeitarem o veto. Embora esta proibição tenha sido aprovada e colocada em vigor, uma vitória ao hábito religioso foi registrada em 2015. O uso dos burquinis (trajes de banho para mulheres que desejam cobrir seu corpo) foi proibido pelo governo francês, mas recursos judiciais e uma série de protestos fizeram com que a Corte francesa revogasse a lei, e permitisse seu uso no país.
Na Dinamarca, está em jogo a conquista do poder por parte dos conservadores dinamarqueses. O Partido do Povo dinamarquês se tornou o segundo maior partido no país, e faz parte do governo desde 2015. O partido, que valoriza o “valor do povo dinamarquês”, já propôs, entre outras coisas, o ensino desses valores a crianças que moram em áreas marginalizadas, conhecidas como guetos.