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Dilma vence batalha nas urnas; desafio no Planalto começa agora

Dilma Rousseff terá de manter a economia crescendo com força, administrar uma coligação de dez partidos e lidar com a oposição

Dilma Rousseff e Antonio Palocci: desafios para o próximo governo serão enormes (Roberto Stuckert Filho/PT)
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Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2010 às 05h41.

Brasília - Dilma Rousseff (PT) foi eleita neste domingo a primeira mulher presidente da República do país, mas os desafios de verdade começam agora: manter a economia crescendo com força, administrar uma coligação de dez partidos e lidar com a oposição. Tudo isso sem o carisma ou habilidade política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Beneficiada pela popularidade de Lula, pelo bom momento econômico e pelos ganhos sociais dos últimos oito anos, Dilma derrotou José Serra, do PSDB, e garantiu ao PT seu terceiro mandato consecutivo à frente do Executivo federal.

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A eleição presidencial mais disputada desde 1989 acabou tendo um resultado mais folgado do que chegou a se projetar no início da campanha do segundo turno e do que a "guerra" política parecia mostrar.

Faltando 51 seções eleitorais, de um total de 400 mil, Dilma somou 56,05 por cento dos votos válidos, contra 43,95 por cento de Serra. Uma diferença de mais de 12 milhões de votos.

Em seu primeiro pronunciamento já eleita, a petista repetiu compromissos de campanha como a erradicação da miséria e a manutenção de uma política econômica responsável. Agradeceu a Lula, prometeu "zelar" pela liberdade de imprensa e religiosa e acenou à oposição.

"Acima de tudo, quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas."

Prometeu que será feito um esforço grande pela "melhoria da qualidade do gasto público", mas fez questão de ressaltar que rejeita "visões de ajuste que recaem sobre programas sociais" e investimentos.

Isso, porém, pode não bastar para agradar o mercado, garantir que o país continue crescendo ou mesmo contentar todos os setores da economia.

"O mercado gostaria de ver uma mudança na política fiscal, com certeza", disse Tony Volpon, chefe de pesquisa para mercados emergentes nas Américas, da Nomura Securities. "Você não tem que ter um corte de gastos, você precisa ter uma queda na taxa de crescimento dos gastos."

Para Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), "o novo governo deve tomar sérias medidas que permitam ao Brasil consolidar a sua competitividade internacional".

O presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho, foi ainda mais duro.


"Penso que a presidente tem que fazer algo que o Lula não fez: fazer com que a agricultura tenha uma papel político semelhante ao papel econômico que ela tem", disse Ramalho. "Se o governo não valorizar politicamente a agricultura do país, vamos continuar com esses problemas a vida inteira."

Oposição e negociação política

Mas depois de uma campanha eleitoral de duras trocas de acusação, denúncias e boatos, em que até o sentimento religioso de boa parte da população foi moeda de troca eleitoral, Dilma quis logo na primeira oportunidade fazer um gesto à oposição, de olho nos desafios políticos que tem à frente.

"Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles, de minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio"

Tomando por base o pronunciamento que Serra fez pouco depois, porém, parece claro que Dilma não terá vida fácil da oposição.

Falando a militantes e aliados, em São Paulo, o tucano falou em "vitória estratégica".

"Nesses meses, quando enfrentaram forças terríveis, vocês alcançaram uma vitória estratégica, cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza... de defesa da liberdade... das grandes causas sociais e econômicas do nosso país, que estão vivas no sentimento de toda nossa população."

E arrematou. "Para os que nos imaginam derrotados, eu quero dizer: nós apenas estamos começando uma luta."

Analistas políticos veem dificuldades no horizonte do novo governo e a necessidade de Dilma se cercar de bons negociadores.

"Ela não tem muita experiência em lidar com políticos e partidos. Nessa área, ela terá que chamar pessoas com aptidão para assessorá-la", disse Ricardo Ismael, cientista político da PUC-Rio.

Rubens Figueiredo, cientista político do Cepac, vai na mesma linha. "Ela tem uma experiência muito pequena na negociação parlamentar, e ela não tem o talento na comunicação que o Lula tem."

Com oito governadores estaduais --entre eles os dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais--, o PSDB sai forte da eleição, apesar da terceira derrota seguida para o Palácio do Planalto. Mesmo o DEM, com Santa Catarina e Rio Grande do Norte, saiu no lucro nas disputas estaduais.

"Você teve uma vitória da continuidade, mas essa continuidade não se dará de forma tranquila", disse Carlos Melo, cientista político do Insper. "A oposição não sai enfraquecida em virtude dos governos estaduais que foram conquistados nesse processo."

Se é verdade que Dilma terá, ao menos em teoria, maioria folgada na Câmara e mesmo no Senado, não será fácil administrar isso. A começar pelas conhecidas disputas internas do próprio PT e a gula do PMDB por cargos.

Como resumiu Figueiredo: "A Dilma vai precisar fazer muita ginástica, um 'pilates político', para ter a governabilidade necessária."

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