Soldados combatem guerrilheiros das Farc: as Farc monopolizaram o protagonismo midiático com declarações diárias sobre diversos assuntos (Luis Robayo/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2012 às 19h14.
Havana - O diálogo pela paz na Colômbia completou nesta segunda-feira sua primeira semana, durante a qual o Governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chegaram a um acordo sobre a participação cidadã no processo, uma das reivindicações da sociedade civil.
Nesta segunda-feira a mesa de negociação não se reuniu, em cumprimento da mecânica pactuada pelas partes de trabalhar de forma conjunta três dias consecutivos para fazer uma pausa na jornada seguinte.
Após sete dias de diálogo, o primeiro acordo foi o anúncio de um Fórum de Política de Desenvolvimento Agrário Integral que será realizado em Bogotá nos dias 17, 18 e 19 de dezembro organizado pelas Nações Unidas e pela Universidade Nacional da Colômbia.
Trata-se do primeiro mecanismo para que a sociedade civil colombiana coloque propostas sobre a mesa de negociação, neste caso sobre o complexo problema da distribuição de terra, que está na origem do conflito e que é também o primeiro dos temas fixados no ''roteiro'' das conversas.
A participação cidadã no processo de diálogo é uma das regras de funcionamento recolhidas no ''Acordo Geral'' que Governo e guerrilha pactuaram após seis meses de conversas secretas em Cuba.
Salvo o anúncio desse fórum praticamente nada vazou do conteúdo das conversas realizadas no Palácio de Convenções de Havana, onde a equipe negociadora do Governo, liderada pelo ex-vice-presidente Humberto de la Calle, se caracterizou pela mais absoluta discrição sem fazer declarações à imprensa.
Pelo contrário, as Farc monopolizaram o protagonismo midiático com declarações diárias sobre diversos assuntos.
A mais importante destas declarações foi o anúncio de um cessar-fogo unilateral de dois meses para facilitar o diálogo de paz que a guerrilha lançou no dia do início da negociação na capital cubana.
O Governo da Colômbia por sua vez manteve sua postura de ordenar que continuem as operações militares para blindar a segurança no país e porque não confia que a guerrilha cumprirá sua trégua.
A guerrilha defende que o cessar-fogo está sendo cumprido, mas ressalta que se defenderá se for atacada, ao mesmo tempo em que acusa o Exército de simular combates para responsabilizar às Farc de descumprir a trégua.
Ao longo destes dias, os negociadores da guerrilha liderados por Luciano Marín Arango, conhecido como ''Ivan Márquez'', o número dois das Farc, se mostraram otimistas com o processo de diálogo, negaram que haja tensões na mesa de negociação e criticaram o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, a quem acusam de ''sabotar'' as conversas.
Outro protagonista da semana foi ''Simón Trinidad'', como é conhecido Juvenal Ricardo Ovidio Palmeira, a quem as Farc designaram como um de seus negociadores apesar de estar preso nos Estados Unidos cumprindo uma pena de 60 anos de prisão por sequestro.
Além de pedir aos EUA o indulto para Trinidad, as Farc quiseram tê-lo presente na mesa de negociação. No entanto, ''Simón Trinidad'' seguirá preso, segundo disse Ricardo Zúñiga, assessor para a América Latina na Casa Branca, em entrevista publicada hoje no jornal colombiano ''El Tiempo''.
Um dos rostos do processo de paz mais perseguidos pelos flashes esta semana foi o de Tanja Nijmeijer, a guerrilheira holandesa que faz parte da equipe de negociação das Farc e que diariamente compareceu ao Palácio de Convenções junto com seus companheiros.
Neste primeiro ciclo das conversas, o acesso dos meios de comunicação ao processo de diálogo se limitou a esperar no começo da manhã a chegada das delegações ao Palácio de Convenções.
No dia em que se completa a primeira semana de diálogo, as Farc, em carta em seu site, reivindicaram hoje a repatriação dos corpos de 20 guerrilheiros mortos em uma operação militar colombiana desdobrada em 2008 contra um acampamento no Equador e também a entrega dos restos do então número dois dessa guerrilha, ''Raúl Reyes'', que morreu no mesmo local.
O corpo de Reyes foi levado à Colômbia pelos militares e foi enterrado pela polícia em um lugar não revelado.