Diálogo dá fôlego a Maduro, mas revolta base opositora
Muitos apoiadores de base ficaram surpresos com um comunicado conjunto emitido depois da segunda rodada de conversas
Reuters
Publicado em 14 de novembro de 2016 às 16h55.
Caracas - O diálogo entre o governo e a oposição diminuiu a pressão sobre o presidente da Venezuela , Nicolás Maduro , revoltando muitas pessoas do país assolado por uma crise que estavam depositando suas esperanças em uma eleição antecipada para retirar o impopular líder socialista do poder.
Líderes opositores haviam prometido se afastar das conversas apoiadas pelo Vaticano se Caracas não colocasse em andamento um referendo revogatório sobre Maduro ou realizasse a próxima eleição presidencial, marcada para o final de 2018.
Muitos apoiadores de base ficaram surpresos com um comunicado conjunto emitido depois da segunda rodada de conversas, no sábado, que não fez menção a nenhuma votação, e ao invés disso louvou a cooperação para melhorar os suprimentos de comida e medicamento e devolver os poderes do Congresso.
Separadamente, a oposição disse ter fechado acordos ainda incertos para libertar alguns ativistas presos, possivelmente abrir caminho para ajuda do exterior, escolher novos diretores para a comissão eleitoral e realizar eleições para parlamentares do Estado do Amazonas suspensos de seus cargos por alegações de fraude.
Alguns ativistas antigoverno temem que Maduro tenha ludibriado a oposição, cujos protestos de rua foram cancelados quando as conversas começaram, e ganhado um respiro enquanto a crise econômica avassaladora da Venezuela obriga milhões de cidadãos a ficar sem alimento nem remédios.
"O que aconteceu com o direito dos venezuelanos de votar? O que aconteceu com a luta pelo referendo?", indagou o líder opositor preso Leopoldo López em uma postagem na sua conta de Twitter. O partido Vontade Popular de López vem comandando as manifestações e não participou das tratativas.
Procurando conter os danos, porta-vozes da coalizão opositora enfatizaram que as conversas deram alguns resultados, que os protestos não estão descartados e que continuarão pressionando pela saída de Maduro.
Carlos Ocariz, um dos representantes da oposição nas negociações, foi repreendido por ouvintes revoltados durante um programa matinal de rádio e reagiu criticando os "guerreiros de teclado", ou pessoas que se queixam do conforto de seus lares sem participar com ideias construtivas.