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Dagong, a agência de classificação chinesa que desafia o domínio anglo-saxão

Agência chinesa já rebaixou a nota da dívida americana e quer desafiar as gigantes Standard and Poor's, Moody's e Fitch

Guan Jianzhong, presidente da Dagong: empresa já avaliou mais de 50 países (Dagong/AFP)

Guan Jianzhong, presidente da Dagong: empresa já avaliou mais de 50 países (Dagong/AFP)

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Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2010 às 12h31.

Pequim - Cansada de ver as agências de classificação financeira internacionais determinarem as regras, a China criou a Dagong, que garante ser independente, mas que, segundo os analistas, terá ainda que demonstrar isso na prática.

Recentemente, a Dagong se diferenciou das demais ao considerar que os Estados Unidos estão ameaçados de falência.

Pouco depois de Washington ter anunciado no início de novembro a injeção de 600 bilhões de dólares para apoiar a recuperação econômica, a Dagong Global Rating Co. Ltd rebaixou de "AA" para "A+" a nota da dívida soberana americana.

A agência chinesa justificou a decisão com a "deterioração da capacidade de reembolso e a drástica redução da vontade do governo (americano) de pagar suas dívidas".

A Dagong considera que a política monetária americana consiste em desvalorizar o dólar para reduzir a dívida do país, e que "esta medida tem prejudicado gravemente os interesses dos credores" dos Estados Unidos, lista que tem a China em primeiro lugar, dona de mais de 900 bilhões de dólares em bônus do Tesouro americano.

As notas atribuídas pela grandes agências como Standard and Poor's, Moody's e Fitch determinam as taxas de juros para um Estado ou empresa que pedem dinheiro nos mercados.

A Fitch é a única agência controlada por capitais europeus, a holding Fimalac criada pelo bilionário francês Marc Ladreit de Lacharrière.

Apesar do elevado déficit americano, as três grandes agências sempre atribuíram aos Estados Unidos a melhor classificação possível, "AAA", o que permite à maior economia mundial fazer dívidas a baixo custo.

"Estas agências deixam de lado dois princípios fundamentais, que são saber se o país em questão tem dinheiro e se pode criar valor", declarou à AFP Guan Jianzhong, presidente da Dagong.

"Suas normas repousam em uma ideologia, um sistema de valores e os interesses americanos", completou Guan.

Na Dagong, que tem 500 funcionários, 300 deles baseados em Pequim, "fazemos nossas análises a partir apenas de critérios de solvência", garante.

"A independência de Dagong não deixa lugar para dúvidas. Somos uma empresa privada e não recebemos apoio particular do governo para nossa atividade".

Contatadas pela AFP, Fitch e Moody's não fizeram comentários sobre a concorrente chinesa. A última colaborou com a Dagong de 1999 a 2001.

Fundada em 1994, quando a reestruturação das empresas estatais chinesas, a Dagong deseja adquirir uma dimensão internacional, em um momento no qual o governo estimula as empresas chinesas a seguir para o exterior. A agência já avaliou a solvência de mais de 50 países, e pretende chegar a 150 até 2012.

"O setor das agências de classificação vai se tornar muito mais competitivo", prevê Patrick Chovanec, professor de Economia na Universidade Tsinghua de Pequim. Ele saúda a diversidade de pontos de vista que a agência chinesa representa, apesar de não concordar com todos os métodos de avaliação.

"Discordo da ideia de que os países com importantes reservas de câmbio estão menos expostos ao risco, porque isto cria problemas e distorções na economia", explica.

A credibilidade das grandes agências de classificação foi abalada com a crise financeira iniciada em 2008, que estas não previram. Mas, independente das qualidades de Dagong, "é necessário tempo para estabelecer a credibilidade", destaca Kristine Li, analista de crédito do Royal Bank of Scotland em Cingapura.

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