VILNIUS, LITHUANIA - JUNE 11, 2023: Logo of the 2023 NATO Summit seen at the entrance to the Main Media Center, in Vilnius, Lithuania, in Vilnius, Lithuania, on July 11, 2023. (Photo by Artur Widak/NurPhoto via Getty Images) (Artur Widak/NurPhoto/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 11 de julho de 2023 às 07h01.
Última atualização em 11 de julho de 2023 às 07h04.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) começa, nesta terça-feira, uma reunião de dois dias, em Vilnius, capital da Lituânia, a menos de trezentos quilômetros do território russo, para onde a aliança militar liderada pelos Estados Unidos pretende mandar uma mensagem de união e força. Entre os principais temas em jogo no encontro, está a definição de uma postura conjunta sobre o pedido de entrada da Ucrânia no bloco — um movimento que a Rússia entende como ameaça e que diz estar entre as principais razões da invasão do território ucraniano.
Esta será a quarta cúpula desde o início do conflito que completou 500 dias no fim de semana. A frequência de encontros muito acima do que a aliança experimentava em anos passados é um lembrete simbólico da urgência de renovação de estratégias imposta pela decisão de Vladimir Putin de seguir com o movimento agressivo de anexação do território do vizinho, de quem já havia tomado a Crimeia, em 2014.
Além da segurança da Ucrânia, os 31 países do grupo — que abriu as portas para a Finlândia em abril — também vão discutir os entraves à adesão da Suécia, mudanças em políticas de gastos e uma reformulação de planos regionais de defesa considerada a maior reestruturação da aliança desde a Guerra Fria, quando foi forjada para conter o avanço da influência soviética em direção ao Ocidente.
Além do primeiro-ministro sueco, Ulf Kristensson, e do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenky, também são esperados na cúpula os líderes de quatro democracias da região da Ásia-Pacífico (Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia), em um sinal claro de que a China também está no radar da aliança militar.
Não. Para a Ucrânia, é crucial estar sob a proteção da Otan para dissuadir a Rússia a lançar novas e mais intensas ofensivas ao seu território. O governo ucraniano defende a necessidade de ter um plano claro e com etapas definidas para a adesão do país ao grupo. No entanto, as maiores potências do bloco, Estados Unidos e Alemanha, já sinalizaram oposição a uma postura mais incisiva, alertando para a impossibilidade de abrir as portas do grupo a um país em guerra com os russos.
"Não creio que esteja pronta para entrar na Otan. Estaríamos em guerra com a Rússia neste caso", afirmou o presidente americano, Joe Biden, em entrevista à rede de TV americana CNN.
Nesta segunda, o Kremlin considerou um possível ingresso de Kiev na aliança como “muito negativo” para a segurança da Europa. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também já afirmou que a Ucrânia não vai entrar na aliança enquanto estiver em guerra e que o encontro de Vilnius não vai terminar com um convite formal a Kiev.
No entanto, analistas acreditam que a sinalização de algum avanço para o caminho de entrada da Ucrânia na Otan — que começou a ser ventilada em 2008 —será decisiva para uma mensagem de força em torno do aliado em guerra e da contenção a Moscou. O tema e a dificuldade de encontrar consenso entre os aliados — com pressão da Ucrânia e de países do leste europeu por um comprometimento mais claro — gerou tensões durante os preparativos para o encontro de cúpula.
Em uma entrevista à imprensa francesa na semana passada, Stoltenberg disse que “o mais provável é que nós nos comprometamos com um programa de apoio à Ucrânia de vários anos”.
Até agora, já houve acordo para elevar a relação diplomática entre as duas partes, com um conselho Otan-Ucrânia, onde Kiev terá mais poder de representação e poderá se sentar à mesa com os aliados ocidentais em condições de igualdade, em muitos temas, segundo o El País. Há expectativa que a declaração final do encontro reforce a ideia de que o lugar da Ucrânia é na Otan, mas sem definir cronograma para a adesão.
De acordo com fontes ouvidas pela AFP, a aliança está disposta a retirar pelo menos um pré-requisito — a existência de um plano de ação— que seria um entrave à adesão ucraniana. A mesma fonte esclareceu que há outras etapas a serem cumpridas para que um país entre na aliança, que Ucrânia continuaria tendo que cumprir.
Nas últimas semanas, Zelensky vem acusando os aliados de não fornecerem armas suficientes para um maior sucesso da ofensiva nos territórios ocupados por Moscou. A lentidão do avanço das forças de Kiev—mesmo após à crise interna nas Forças Armadas russas provocada pela rebelião fracassada dos mercenários do Grupo Wagner — aumentou a pressão ucraniana por apoio externo e por uma postura mais clara da Otan — e de Biden — sobre a adesão do país ao grupo.
Na sexta-feira, o governo americano anunciou a decisão de enviar as polêmicas bombas de fragmentação à Ucrânia, em uma tentativa de reforçar as capacidades insuficientes da ofensiva. O uso desse tipo de armamento já foi considerado crime de guerra pelo próprio governo americano pela forma indiscriminada com que pode matar civis. A medida dividiu os aliados. Antes do anúncio, a chanceler alemã, Annalena Baerbock, havia se recusado a seguir os passos americanos diante dos riscos. O chanceler britânico, Rishi Sunak, deu declarações no mesmo sentido. E a ministra da Defesa espanhola, Margarita Robles, afirmou que o apoio do país à Ucrânia é "total", mas que "não compartilha da decisão" de enviar as bombas.
De acordo com o El País, um grupo de países — entre eles Estados Unidos e Alemanha — quer dar algum tipo de “amparo de segurança” para Kiev, sem nada que lembre o compromisso de defesa mútuo previsto para os membros da Otan e que implicaria em um estado de guerra entre Moscou e a aliança. As garantias em discussão viriam por meio de acordos bilaterais ou em grupo, para garantir o fluxo de armamentos, transferência de tecnologias e de informações de inteligência, além de apoio para treinamento militar. O jornal destaca, no entanto, que não está claro se estes acordos já estão prontos para serem fechados nesta reunião de cúpula.
A campanha para adesão da Suécia à Otan viveu uma reviravolta, nesta segunda-feira. A entrada do país nórdico agora parece quase certa, depois de ter sido praticamente descartada pelo maior opositor ao processo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Erdogan começou a segunda-feira, véspera da cúpula, criando mais um entrave e surpreendendo o mundo com a sugestão de que o apoio turco aos suecos dependeria da União Europeia (UE) retomar as negociações de adesão da Turquia ao bloco. Horas depois, o secretário-geral da Otan anunciou que o mesmo Erdogan havia concordado em selar o apoio unânime necessário para que Estocolmo se torne o 32º integrante da aliança .
Quando a Suécia apresentou sua intenção de fazer parte da Otan, junto à Finlândia, rompendo com décadas de neutralidade, no ano passado, o presidente turco acusou o país escandinavo de ser um refúgio para "terroristas", especialmente integrantes do partido curdo banido PKK. De sua parte, o governo sueco implementou uma dura lei antiterror, no mês passado, na expectativa de que Erdogan desistisse do bloqueio, além de concordar em extraditar um apoiador PKK para a Turquia, atendendo a um pedido de Ancara.
As negociações para entrada da Turquia na União Europeia caminham em passos lentos há décadas. A guinada para a direita do governo Erdogan, nos últimos anos, com repressão intensa aos curdos e retrocessos de direitos humanos, tornaram o país ainda mais distante dos aliados europeus.
Após o início da guerra na Ucrânia, no entanto, Ancara ganhou uma posição estratégica por manter relações próximas com o governo de Vladimir Putin e ser integrante da Otan. As declarações de Erdogan, na véspera da cúpula da aliança militar, mostram que o líder turco pretende usar essa influência para alavancar seus interesses no grupo.
A Otan vai discutir neste encontro o que está sendo considerada a maior reorganização da aliança desde a Guerra Fria. São planos de defesa regionais, divididos em três áreas geográficas, que buscam fazer frente às principais ameaças a suas fronteiras: a Rússia e o terrorismo global.
De acordo com o El País, a estratégia se divide, ainda, entre os planos aéreo, terrestre, marítimo, espacial e cibernético. São projetados principalmente para dissuasão, mas também englobam cenários de resposta a todo tipo de ataques e determinam quais países e forças se ocupam de determinadas zonas e elementos, para que cada pedaço de território dos aliados esteja protegido.
A arquitetura do novo modelo de defesa começou a ser criada em 2018, quatro anos depois da invasão russa na Crimeia, mas ganhou força maior com a guerra, no ano passado.
O planejamento, descrito em mais de 4 mil páginas secretas, incluem um plano para o sul (com o Mediterrâneo e o Mar Negro) outro para o norte (incluindo Atlântico e Ártico europeu) e o centro (com a Europa Central e os países bálticos) e vai implicar em aumento de gastos militares.
Os integrantes da Otan concordaram, em 2014, em cumprir com o objetivo de atingir o investimento de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em Defesa, em uma década. Para muitos países da aliança, essa era uma meta distante quando começou a guerra na Ucrânia, no ano passado.
Fontes diplomáticas citadas pela agência de notícias Reuters afirmam que há acordo para que a cúpula de Vilnius marque a assinatura de um “compromisso duradouro de investir, ao menos, 2% do PIB” na área de defesa, transformando o que era um objetivo em requisito mínimo para o cumprimento das exigências da aliança.
Segundo dados da Otan, este ano, apenas 11 dos 31 países do grupo vão atingir o patamar de 2% de investimento (Estados Unidos, Reino Unido, Polônia, Grécia, Estônia, Lituânia, Finlândia, Romênia, Hungria, Letônia e Eslováquia)