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Cristina Kirchner diz ser inocente e questiona uso de delações

A ex-presidente argentina foi acusada de ter recebido propinas milionárias de empresários em troca de beneficiá-los em contratos de obras públicas

Cristina Kirchner: senadora da Argentina é alvo de cinco processos de corrupção (Marcos Brindicci/Reuters)

Cristina Kirchner: senadora da Argentina é alvo de cinco processos de corrupção (Marcos Brindicci/Reuters)

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EFE

Publicado em 17 de agosto de 2018 às 18h22.

Buenos Aires - Ex-presidente e senadora da Argentina, Cristina Kirchner afirmou nesta sexta-feira que nunca recebeu dinheiro em troca de aprovar medidas enquanto estava no governo e atribuiu os atuais problemas com a Justiça ao fato de ter atrapalhado os interesses de grupos econômicos poderosos do país.

Em uma longa carta publicada no Facebook, Cristina, alvo de cinco processos de corrupção, falou sobre a mais recente investigação, conhecida como o "caso dos cadernos". A ex-presidente foi acusada de ter recebido propinas milionárias de empresários em troca de beneficiá-los em contratos de obras públicas.

"Os problemas judiciais que tenho são por ter afetado os interesses econômicos concentrados e hegemônicos muito poderosos que sempre tentaram obstruir as medidas que levei adiante em benefício das grandes maiorias populares, da atividade econômica em geral e do fim do endividamento estrutural da Nação", escreveu Cristina.

O mais novo escândalo que abala a Argentina já provocou a prisão de vários empresários e ex-funcionários do governo. O caso ficou conhecido como "escândalo dos cadernos" por ter sido revelado por um motorista do Ministério do Planejamento que anotava em cadernetas as viagens que fazia para entregar as propinas recebidas no esquema.

Entre os que teriam recebido dinheiro dos empresários, segundo o motorista, estão Cristina e seu falecido marido, Néstor Kirchner.

Na carta, a ex-presidente critica o juiz Claudio Bonadio pela condução do processo. Em especial, Cristina questionou o magistrado por estar fazendo "uso abusivo" do instrumento da delação premiada.

Um dos empresários que firmou o acordo com a Justiça e ganhou liberdade condicional é Ángelo Calcaterra, primo do presidente do país, Mauricio Macri, e ex-dono da construtora Iesca, que declarou ter sido pressionado a contribuir com campanhas kirchneristas.

O ex-titular do Órgão de Controle de Concessões Viárias e também delator, Claudio Uberti, chegou a reconhecer que levava bolsas de dinheiro para Néstor Kirchner. Segundo ele, Cristina estava presente em algumas das entregas.

A carta da ex-presidente teve como foco o empresário Gabriel Romero, que afirmou que pagou US$ 600 mil para que Cristina assinasse um decreto para estender até 2021 o contrato de manutenção de hidrovia do Paraná com sua companhia.

"Em um verdadeiro menu de 'delações', Gabriel Romero dizer ter pagado dinheiro pela assinatura desse decreto que, para mim, era obrigatório assinar", afirma a ex-presidente.

"Em todo o caso, seria muito interessante que Romero indicasse a quem e como pagou porque para mim nunca ninguém me pagou nada para assinar nem este nem nenhum outro decreto, nem para levar adiante nenhuma das medidas dos meus govenos", ressaltou Cristina.

Após uma longa explicação da tramitação do decreto, a ex-presidente disse ter se limitado a corroborar as decisões de vários órgãos públicos, inclusive do Congresso.

"Decidi não fazer comentários sobre motoristas 'arrependidos' que dizem ter me visto em pijama, nem opinar sobre ex-funcionários de quarta categoria, também 'arrependidos', que nunca fizeram parte dos meus dois mandatos como presidentes, mas que relatam excursões quase turísticas ao meu quarto", escreveu Cristina na quarta, questionando a credibilidade dos delatores ouvidos por Bonadio.

No entanto, Cristina destacou que as declarações de Romero a fizeram mudar de opinião. A ex-presidente voltou a afirmar que o governo Macri influencia as decisões judiciais contra ela.

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