Crise política na Armênia se agrava com prisão de opositor
Nikol Pachinian teve um encontro com o primeiro-ministro armênio, mas foi preso logo em seguida
AFP
Publicado em 22 de abril de 2018 às 12h04.
Erevan - A crise política que sacode a Armênia há dez dias se agravou neste domingo com a detenção do líder da oposição, Nikol Pachinian, após o fracasso de seu encontro com o primeiro-ministro, Serge Sarkissia, enquanto as manifestações continuam em meio a choques frequentes com a polícia.
O deputado e líder da oposição Nikol Pachinian e outros deputados opositores "foram presos em momentos em que cometiam atos perigosos para a sociedade", anunciou a Procuradoria-Geral armênia em um comunicado.
O órgão acusou estes opositores de "terem violado reiterada e grosseiramente a lei sobre manifestações, organizando desfiles e comícios ilegais, e chamando a bloquear as rotas e paralisar o funcionamento dos estabelecimentos públicos".
A polícia armênia tinha indicado mais cedo ter "evacuado à força" Nikol Pachinian de uma nova manifestação da oposição, organizada na capital, Erevan, e dispersada pelas forças de ordem.
Pachinian tinha participado pouco antes de um encontro televisionado com Serge Sarkissian em um hotel da capital armênia, que foi interrompido rapidamente após trocas acaloradas entre ambos.
"Vim falar de sua renúncia", lançou Nikol Pachinian ao seu interlocutor ante as câmeras.
"Chantagem"
"Não é um diálogo, é chantagem", respondeu o primeiro-ministro. "Só posso lhe aconselhar que volte a um marco legal, caso contrário será responsável" pelo que pode vir a acontecer, acrescentou.
A discussão continuou. "Não entende a situação na Armênia, o poder está agora nas mãos do povo", declarou Pachinian.
Sarkissian respondeu que "um partido que registrou menos de 8% nas eleições (legislativas) não pode falar em nome do povo", e saiu da sala.
Nikol Pachinian, de 42 anos, é um ex-jornalista e opositor de longa data que esteve brevemente na prisão após participar de movimentos de protesto contra Serge Sarkissian em 2008 que deixaram 10 mortos.
Pachinian chamou a população a se manifestar, e nos últimos dez dias foram registrados protestos em Erevan. No sábado, dezenas de milhares de pessoas se reuniram na praça da República, no centro da capital.
Os manifestantes acusam Serge Sarkissian, que acaba de concluir seu segundo mandato presidencial, de se aferrar ao poder, forçando sua eleição como primeiro-ministro pelos deputados.
A Constituição proíbe que o presidente cumpra mais de dois mandatos. Mas Sarkissian impulsou a votação, em 2015, de uma reforma polêmica para concentrar o essencial do poder no primeiro-ministro.
No sábado parecia se esboçar uma saída para a crise quando o novo presidente armênio, Armen Sarkissian, sem parentesco com Serge, se reuniu com Panichian.
No final da tarde, o presidente armênio, escoltado por seus seguranças, foi até a praça da República, onde dezenas de milhares de manifestantes protestavam contra o primeiro-ministro.
Nikol Pachinian afirmou depois ante os manifestantes que tinha aceitado negociar com as autoridades.
Os manifestantes criticam as manobras de Serge Sarkissian para permanecer no poder após mais de uma década no cargo de presidente. Também criticam este ex-militar de 63 anos por não ter diminuído a pobreza nem a corrupção.
A maior manifestação ocorreu na terça-feira, quando 40.000 pessoas protestaram em Erevan. Esta foi a manifestação mais importante dos últimos anos neste pequeno país do Cáucaso.