Crise pode igualar trabalhador europeu e emergente
A crise econômica de países europeus pode levar relações de trabalho no continente a um nível tão precário quanto se vê em países emergentes, diz sociólogo
Da Redação
Publicado em 6 de agosto de 2013 às 08h52.
Lisboa – A crise econômica em Portugal e outros países do Sul da Europa pode levar as relações de trabalho no continente a um nível tão precário quanto se vê em países emergentes, como o Brasil, onde “a precarização das condições da mão de obra existe desde o início da montagem do núcleo industrial e de serviços”. O diagnóstico foi feito por Ricardo Antunes, professor titular de sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Para ele, a "financeirização" da economia e a competição intensa das empresas fazem com que, a cada momento, elas procurem um padrão de força de trabalho mais precarizada. "Nos anos 1970, nós da América Latina tínhamos o padrão da classe trabalhadora mais explorado. Ao longo das décadas seguintes, isso foi mudando para o Continente Asiático”, disse o sociólogo, por telefone, à Agência Brasil. Segundo ele, agora é a Europa que está vulnerável ao processo há muitos anos vivido no Hemisfério Sul.
Ricardo Antunes lança em quatro cidades de Portugal (Braga, Porto, Coimbra e Lisboa), em meados do próximo mês, uma nova edição do livro Os Sentidos do Trabalho: Ensaio sobre a Negação e a Afirmação do Trabalho, já publicado no Brasil, na Argentina, Itália, Inglaterra, nos Estados Unidos e na Holanda. Desde a sua primeira edição (1999), o livro contraria a tese da diminuição de importância ou mesmo do “fim” da classe trabalhadora, em razão de mudanças na dinâmica industrial e da incorporação crescente de tecnologia em substituição ao homem. Nesta edição, a análise se estende às condições de trabalho nos países avançados.
Segundo Antunes, em vez da extinção há uma “nova morfologia da classe trabalhadora”, vítima da tentativa de “desregulamentação das relações trabalhistas” e da “diminuição do welfare state” [estado de bem-estar social]. Esse processo foi acentuado a partir de setembro de 2008 com a crise financeira internacional.
“Desde 2008, entramos em uma nova era de precarização estrutural do trabalho em escala global. A tragédia maior do trabalhador europeu é que eles saem de um patamar muito superior ao nosso e vão declinando ao nível que se aproxima do nosso”, observou, ao lembrar que os mais novos já não acessam, por exemplo, o sistema de seguridade social como seus pais, pois o desemprego entre os mais jovens é maior que entre os mais velhos (cerca de 60% na Espanha e na Grécia, e 40% em Portugal entre os adultos jovens de 18 a 25 anos).
Entre os mais velhos, o processo é cortar direitos que há pouco tempo estavam garantidos. “É como se o mundo devesse ser concebido para saque, devastação e exploração em benefício das grandes transacionais e do capital financeiro que amarra tudo isso em detrimento das classes trabalhadoras, sejam elas herdeiras de direitos adquiridos na era do welfare state [a partir dos anos 1950], ou dos novos trabalhadores como os jovens proletários, às vezes até pós-graduados, que não encontram trabalho”.
Conforme o sociólogo, o engenho de redução de direitos funciona por meio das políticas de austeridade fiscal, determinadas pelos programas de ajustamento da Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), que Ricardo Antunes chama de “tripé destrutivo”. Ele afirma que o esforço fiscal corta direitos sociais e garante a remuneração às instituições financeiras. “Uma parte decisiva do déficit é decorrente de uma dívida pública que remunera os bancos. Na verdade, é uma política de salvaguarda do sistema financeiro internacional”.
Lisboa – A crise econômica em Portugal e outros países do Sul da Europa pode levar as relações de trabalho no continente a um nível tão precário quanto se vê em países emergentes, como o Brasil, onde “a precarização das condições da mão de obra existe desde o início da montagem do núcleo industrial e de serviços”. O diagnóstico foi feito por Ricardo Antunes, professor titular de sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Para ele, a "financeirização" da economia e a competição intensa das empresas fazem com que, a cada momento, elas procurem um padrão de força de trabalho mais precarizada. "Nos anos 1970, nós da América Latina tínhamos o padrão da classe trabalhadora mais explorado. Ao longo das décadas seguintes, isso foi mudando para o Continente Asiático”, disse o sociólogo, por telefone, à Agência Brasil. Segundo ele, agora é a Europa que está vulnerável ao processo há muitos anos vivido no Hemisfério Sul.
Ricardo Antunes lança em quatro cidades de Portugal (Braga, Porto, Coimbra e Lisboa), em meados do próximo mês, uma nova edição do livro Os Sentidos do Trabalho: Ensaio sobre a Negação e a Afirmação do Trabalho, já publicado no Brasil, na Argentina, Itália, Inglaterra, nos Estados Unidos e na Holanda. Desde a sua primeira edição (1999), o livro contraria a tese da diminuição de importância ou mesmo do “fim” da classe trabalhadora, em razão de mudanças na dinâmica industrial e da incorporação crescente de tecnologia em substituição ao homem. Nesta edição, a análise se estende às condições de trabalho nos países avançados.
Segundo Antunes, em vez da extinção há uma “nova morfologia da classe trabalhadora”, vítima da tentativa de “desregulamentação das relações trabalhistas” e da “diminuição do welfare state” [estado de bem-estar social]. Esse processo foi acentuado a partir de setembro de 2008 com a crise financeira internacional.
“Desde 2008, entramos em uma nova era de precarização estrutural do trabalho em escala global. A tragédia maior do trabalhador europeu é que eles saem de um patamar muito superior ao nosso e vão declinando ao nível que se aproxima do nosso”, observou, ao lembrar que os mais novos já não acessam, por exemplo, o sistema de seguridade social como seus pais, pois o desemprego entre os mais jovens é maior que entre os mais velhos (cerca de 60% na Espanha e na Grécia, e 40% em Portugal entre os adultos jovens de 18 a 25 anos).
Entre os mais velhos, o processo é cortar direitos que há pouco tempo estavam garantidos. “É como se o mundo devesse ser concebido para saque, devastação e exploração em benefício das grandes transacionais e do capital financeiro que amarra tudo isso em detrimento das classes trabalhadoras, sejam elas herdeiras de direitos adquiridos na era do welfare state [a partir dos anos 1950], ou dos novos trabalhadores como os jovens proletários, às vezes até pós-graduados, que não encontram trabalho”.
Conforme o sociólogo, o engenho de redução de direitos funciona por meio das políticas de austeridade fiscal, determinadas pelos programas de ajustamento da Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), que Ricardo Antunes chama de “tripé destrutivo”. Ele afirma que o esforço fiscal corta direitos sociais e garante a remuneração às instituições financeiras. “Uma parte decisiva do déficit é decorrente de uma dívida pública que remunera os bancos. Na verdade, é uma política de salvaguarda do sistema financeiro internacional”.