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Crise na Líbia pode caminhar para guerra civil, diz professor da ESPM

Heni Ozi Cukier não acredita em intervenção do Ocidente no país e acredita que protestos podem chegar a China

O professor comparou Muammar Kadafi ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein (Ricardo Stuckert/Presidência da República)

O professor comparou Muammar Kadafi ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein (Ricardo Stuckert/Presidência da República)

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Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2011 às 19h48.

Brasília – O agravamento da crise na Líbia gera dois cenários possíveis: um que é o de guerra civil e outro, o da vitória da oposição impondo novas regras no país. Mas a tendência é que o processo de resistência de cada um dos lados ainda perdure algum tempo. Independentemente do que ocorrer na Líbia, a onda de protestos, que começou na Tunísia e passou por vários países, deve chegar até a China, na Ásia, podendo gerar mudanças naquela região.

A conclusão é do professor do curso de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e doutorando em administração pública e governo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Heni Ozi Cukier. Em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, Cukier analisou a situação não só na Líbia, como nos demais países muçulmanos.

Cukier considera improvável que a comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos e alguns países europeus, aprovem a intervenção direta na Líbia. Segundo ele, o envio de homens para a região poderia ser usado politicamente pelo presidente líbio, Muammar Kadafi, fortalecendo-o politicamente. O professor advertiu que não há estrutura nos países do Norte da África e Oriente Médio, que enfrentam as manifestações, para impor uma nova ordem democrática.

“Nós estamos caminhando para uma guerra civil da qual o país participará ou irá se dividir em dois. De um lado, um grupo no Leste [e de outro lado], outro no Oeste. O grupo do Kadafi controla a capital, que tem dado indicações que irá lutar até o fim”, disse Cukier.

O professor comparou o perfil de Kadafi ao do ex-presidente do Iraque Saddam Hussein – morto em 2006 depois de receber sentença de morte por ordem do Tribunal Especial do Iraque, sob coordenação dos Estados Unidos. Segundo ele, o perfil do líder líbio é “sanguinário” e “violento”, o que demonstra que Kadafi vai resistir “até o final”.

“Ele [Kadafi] é um dos líderes mais sanguinários e violentos da região, muito mais violento que [Hosni] Mubarak [ex-presidente do Egito que renunciou dia 11 de fevereiro], Ben Ali [ex-presidente da Tunísia que renunciou dia 14 de janeiro], sendo que estes dois já caíram. A gente poderia dizer que ele está mais próximo do Saddam Hussein, e não vai entregar esse jogo facilmente”, analisou o professor.

Cukier acredita que Kadafi ainda tem cartas na manga. “Ele [Kadafi] vai usar muita força ainda. Os manifestantes vão ter que ter muita disposição, e [têm que estar] dispostos a correr mais riscos, a morrer inclusive para que consigam, no final, alcançar uma vitória”.

Segundo Cukier, a comunidade internacional deve atuar para colaborar com os países que passam por este período de instabilidade, para a instalação de instituições democráticas. “A ideia de trazer democracia é muito bem vista por todos, mas esses países não têm instituições preparadas para absorver essa transformação”, observou.

Ao ser peguntado sobre as perspectivas de extensão das manifestações para outras regiões, além do Norte da África e do Oriente Médio, o professor confirmou que há receio por parte de alguns governos, como o da China.

“Acho que isso já está acontecendo na China. O governo chinês já censurou a internet, que não está aceitando buscas com nenhum assunto relacionado à Tunísia, ao Egito e à revolta no mundo árabe, para não instigar grupos opositores dentro da China”, disse Cukier. “Além de seu poder econômico, a China é uma das maiores ditaduras de todas, um regime totalitário num país de mais de 1 bilhão de pessoas, que, até hoje, se manteve no poder graças a uma performance econômica melhor.”

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