Erdogan e Putin, em 2019: desavenças podem complicar situação na Síria (File Photo/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2020 às 06h11.
Última atualização em 5 de março de 2020 às 07h35.
São Paulo — Amigos e rivais, Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Recep Tayyp Erdogan, presidente da Turquia, vêm mantendo uma relação de proximidade há alguns anos. Nesse meio tempo, Erdogan até abriu um gasoduto que conecta a Rússia à Europa, sem que fosse necessário passar pela disputada Ucrânia. Putin, em contrapartida, abandonou o apoio aos curdos na guerra da Síria, inimigos históricos dos turcos.
Desde o fim de fevereiro, no entanto, a relação entre Putin e Erdogan azedou e agora será tema de uma decisiva reunião bilateral entre os líderes em Moscou, na Rússia, nesta quinta-feira, 4.
A história começa em 27 de fevereiro, quando 33 soldados da Turquia morreram em um bombardeio aéreo na província de Idlib, na Síria, controlada pelos rebeldes anti-Assad. Os turcos retaliaram e os confrontos na região se intensificaram. Inicialmente, se dizia que o ataque havia partido de aeronaves do regime sírio. No entanto, há a desconfiança de que a investida teria sido realizada por militares russos.
Putin e Erdogan estão em lados opostos na Síria. Enquanto Moscou apoia o regime de Bashar Al-Assad, a Turquia está alinhada com os rebeldes que querem derrubar o líder da Síria. A questão é que sempre houve algum espaço para o diálogo. Os países mantinham um acordo assinado em 2018 que tinha como objetivo manter Idlib como uma zona desmilitarizada, na qual tropas russas e turcas fariam o patrulhamento. O ataque aos soldados da Turquia, contudo, estremeceu os laços.
Ainda que ambos os lados estejam dispostos a sentar para negociar, como é o caso da cúpula desta quinta-feira, o clima na sala será de tensão e incerteza. De um lado, Erdogan quer tornar Idlib uma área para a qual os milhões de refugiados sírios vivendo na Turquia possam voltar, desenhando um outro tipo de zona de controle na região. Isso contrasta, e muito, com os planos de Putin, que quer devolver a Assad o controle sobre todo o país.
O temor, agora, é o de que um desentendimento dê margem para um embate direto entre os países. E isso é algo que traria consequências imprevisíveis. Especialmente porque a Turquia é um país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A aliança militar reúne Estados Unidos e países da União Europeia e pressupõe a proteção dos seus membros.