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“Crise da covid-19 força a adoção de serviços digitais", diz David Eaves

Para professor de políticas públicas na Harvard Kennedy School, a pandemia traz lições de como avançar no desenvolvimento dos serviços públicos digitais

Professor de políticas públicas na Harvard Kennedy School e especialista em tecnologia da informação em governos David Eaves (//Divulgação)

Professor de políticas públicas na Harvard Kennedy School e especialista em tecnologia da informação em governos David Eaves (//Divulgação)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 25 de abril de 2020 às 08h11.

Última atualização em 25 de abril de 2020 às 08h11.

Antes do termo “governo 4.0” cair em uso para designar as instituições com alta adoção da tecnologia em seus serviços, o professor de políticas públicas na Harvard Kennedy School e especialista em tecnologia da informação em governos David Eaves já analisava como entender o mundo digital é essencial para oferecer uma estrutura de assistência robusta para os cidadãos ao redor do mundo. Há mais de 10 anos, por exemplo, Eaves aconselhou o governo canadense na estratégia de uso dos dados abertos. Apesar da certeza da contínua transformação digital, o que ele – e provavelmente o mundo todo – não esperava era uma pandemia com as proporções da covid-19, que obrigou os governos a agirem rapidamente com as tecnologias disponíveis. Para o especialista, o momento traz aprendizados e oportunidades, mas o futuro ainda é incerto. Sobre isso, Eaves falou com exclusividade à exame.

A pandemia da covid-19 acelera o desenvolvimento de serviços públicos digitais?

Com certeza acelera a adoção. As pessoas estão obrigadas a evitar contato físico e fazer as coisas digitalmente, como ter aulas, fazer compras e pagamentos. Por parte dos governos a pandemia mostra quais são as prioridades e o que está em tempo hábil de ser desenvolvido. Por exemplo, um país que não tem um cadastro digital único da população levará meses para desenvolver alguns serviços e não semanas. Os serviços que avançam são em maior parte os que já estavam na manga.

O caminho é desenvolver a identidade única digital?

Não necessariamente agora, pois há outras preocupações. Por exemplo, muitos servidores pela primeira vez trabalham de casa e precisam pensar em como ter uma infraestrutura eficiente. Algumas empresas já adotavam o home office e saíram na frente com outras soluções. 

O setor privado é mais avançado na transformação digital do que o público?

A comparação entre setores é difícil porque muitas empresas privadas pouco ou nada fizeram para digitalizar seus serviços, enquanto outras são referência no assunto. Não é que a transformação digital é mais rápida e eficiente em um setor ou no outro, mas sim para quem a coloca como prioridade para sobreviver, ter economia e praticidade.

Como está o serviço digital americano? Ele é compatível de países onde o tema é bastante desenvolvido como Estônia e Dinamarca?

É difícil fazer essa comparação. A Estônia está absolutamente na frente de todos, mas é um país com 1.2 milhão de habitantes, enquanto os Estados Unidos é bastante grande. Por aqui, parte do trabalho em relação à pandemia é implementado em nível estadual.

A pandemia traz lições que podem transformar o assunto em prioridade?

Com certeza. Este é o momento de o governo entender com quem ele precisa falar, como alcançar essas pessoas, e como fazer isso de forma segura. A crise agora é tão grande que um projeto mal executado pode culminar em mais fraudes do que em outros tempos. Além disso, quanto mais a crise durar, mais a população terá que se conectar com modelos não tradicionais de serviços. A digitalização em um país como o Brasil permite o crescimento da equidade ao pensar em estratégias que idealmente são para todos, dos mais pobres aos mais ricos.

Podemos considerar que os serviços desenvolvidos agora venham para ficar?

Não consigo afirmar que é um caminho sem volta. Precisamos entender quais medidas serão tomadas nos próximos meses e quais delas poderão ser adaptadas para uma situação de normalidade. Contudo, é preciso lembrar que as necessidades da pessoas mudam e as tecnologias também. Diariamente temos novas ferramentas e produtos que criam um legado tecnológico, e para isso não há pausa ou retorno.

 

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