Líderes muçulmanos também discordam sobre o ritual aplicado ao sepultamento de Osama bin Laden, que não obedece tradições religiosas (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2011 às 09h35.
Berlim/Cingapura - A morte de Osama bin Laden desarmado despertou temores de que os Estados Unidos possam ter ido longe demais ao agir como policial, juiz e carrasco do homem mais procurado do mundo.
Mas para vários líderes muçulmanos, a questão mais perturbadora é se o sepultamento do líder da Al Qaeda no mar foi contrário à prática islâmica.
A Casa Branca disse na terça-feira que Bin Laden havia resistido aos militares dos EUA que invadiram seu esconderijo na Paquistão, e que houve temores de que ele iria "se opor à operação de captura".
O porta-voz da Casa Branca Jay Carney se recusou a especificar que tipo de resistência Bin Laden ofereceu, mas acrescentou: "Esperávamos uma grande resistência e fomos recebidos com grande resistência. Havia muitas outras pessoas armadas... no complexo."
Helmut Schmidt, ex-chanceler da Alemanha Ocidental, disse à TV alemã que a operação pode ter consequências incalculáveis no mundo árabe em um momento de tensão na região.
"Está muito claro que foi uma violação da lei internacional", afirmou.
Essa visão encontrou eco no renomado advogado de direitos humanos australiano Geoffrey Robertson.
"Não é justiça. É uma perversão do termo. Justiça significa levar alguém ao tribunal, declará-lo culpado com base em provas e sentenciá-lo", disse Robertson ao canal Australian Broadcasting Corp, em Londres.
"Este homem foi submetido a uma execução sumária, e o que parece agora, após uma grande quantidade de desinformação da Casa Branca, é que pode ter se tratado de um assassinato a sangue frio."
Robertson disse que Bin Laden deveria ter ido a julgamento, assim como os nazistas da 2a Guerra Mundial foram em Nuremberg ou o ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic foi perante ao tribunal de crimes de guerra em Haia após sua prisão em 2001.
Gert-Jan Knoops, especialista na lei internacional sediado na Holanda, disse que Bin Laden deveria ter sido preso e extraditado para os Estados Unidos.
"Os norte-americanos dizem estar em guerra contra o terrorismo e que podem abater seus adversários no campo de batalha", declarou Knoops. "Mas formalmente falando, este argumento não se sustenta."
Sepultamento no mar
Syed Ahmed Bukhari, clérigo muçulmano sênior de Nova Délhi, disse que as tropas dos EUA poderiam ter capturado Bin Laden facilmente.
"Os Estados Unidos estão disseminando a lei da selva em toda parte, seja no Afeganistão, no Iraque, no Paquistão ou na Líbia. As pessoas estão caladas há muito tempo, mas agora passou dos limites."
Son Had, porta-voz do Jema'ah Ansharut Tauhid, o grupo islâmico fundado pelo líder indonésio Abu Bakar Bashir, disse estar claro que Bin Laden se tornou um mártir.
"No islã, um homem que morreu... lutando pela sharia recebe a maior honraria dada a um homem abaixo da de profeta, ou seja, a de mártir. Osama é um combatente do islã, da sharia".
Mas para muitos líderes islâmicos a maior preocupação é o enterro de Bin Laden no mar, e não na terra. Seu corpo foi levado a um porta-aviões dos EUA onde militares disseram que ele foi sepultado no mar de acordo com os ritos islâmicos.
I.A. Rehman, funcionário da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, disse que o funeral é mais importante do que saber como Bin Laden foi morto.
"O fato de que não estava armado é menor... atrairá maior atenção saber se ele foi sepultado de forma islâmica. Tem surgido reações de clérigos muçulmanos segundo os quais ele não foi enterrado apropriadamente, e isto causará discussões durante algum tempo."