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Cresce desconfiança e cai apoio do Brasil à Venezuela

País tem reduzido seu apoio ao presidente venezuelano por insatisfação

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro: a chegada de Maduro era esperada com expectativa (AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de março de 2014 às 14h25.

São Paulo - O Brasil, o maior país e o principal poder diplomático da América Latina , tem reduzido seu apoio ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro , devido à insatisfação com a maneira com que ele vem enfrentando os problemas econômicos e os protestos de rua liderados pela oposição.

A mudança de postura, embora sutil, priva Maduro de parte do apoio regional necessário que ele quer, em um momento de escassez de alimentos, alta inflação e incerteza política no país integrante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

De modo geral, a presidente Dilma Rousseff permanece uma aliada de Maduro. Enquanto Dilma é mais moderada, ambos são parte de uma geração de presidentes latino-americanos de esquerda que cresceram fazendo oposição a governos pró-Washington e acreditam estar unidos em uma missão para ajudar os pobres.

No entanto, Dilma está cada vez mais preocupada com algumas das ações de Maduro e freou o apoio mais entusiasmado ao país, que caracterizou as relações Brasil-Venezuela, sob o antecessor de Maduro, o falecido Hugo Chávez, de acordo com dois funcionários próximos ao governo Dilma.

A presidente estaria preocupada com a repressão do governo venezuelano aos protestos de rua recentes, e recusa de Maduro em manter um diálogo genuíno com os líderes da oposição, o que pode agravar a crise política com o tempo, disseram os funcionários.

Um agravamento dos conflitos, por sua vez, pode pôr em risco interesses consideráveis de empresas brasileiras na Venezuela, que incluem o conglomerado Odebrecht .

O jornal Valor Econômico informou neste mês que o setor público venezuelano já deve a empresas brasileiras até 2,5 bilhões de dólares.

"O caminho escolhido por Maduro é cheio de riscos", disse uma autoridade, que não quis ter o nome divulgado. "Estamos tentando encorajá-lo a mudar." A posição brasileira não resulta em maior apoio à oposição venezuelana, enfatizaram os funcionários, acrescentando que o principal objetivo do Brasil é encorajar a democracia e a estabilidade econômica na região.


O exemplo mais claro até o momento de uma mudança de postura do Brasil veio em uma reunião de líderes regionais na posse da presidente do Chile, Michelle Bachelet, no início deste mês.

Maduro disse que queria que os presidentes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) se reunissem durante o encontro no Chile para fazer uma declaração conjunta de apoio a seu governo.

No entanto, Dilma recebeu a ideia com frieza e deixou o Chile horas depois da posse de Bachelet. Inesperadamente, Maduro mudou seus planos e não viajou para o Chile para o evento.

Grande influência em Caracas

No dia seguinte, chanceleres da Unasul se encontraram e evitaram expressar apoio a um dos lados na Venezuela.

Eles condenaram a violência e enviaram "condolências" às vítimas, o povo venezuelano e, por último, o "governo democraticamente eleito".

Em contraste com uma declaração da Unasul em abril passado, o nome de Maduro não foi mencionado, apesar da insistência de alguns diplomatas. O documento também usou abundantemente uma linguagem pedindo paz e respeito aos direitos humanos, enquanto chamava "todas as forças políticas" a dialogar.

Tais nuances carregam significados importantes para ambos os lados da disputa política na Venezuela.

Como Chávez, Maduro tem frequentemente procurado o apoio regional em momentos problemáticos. A declaração da Unasul em abril passado foi fundamental para legitimar sua posição no país depois de uma eleição presidencial controversa.


Os governos do México e do Peru pediram publicamente para Maduro dialogar com a oposição nas últimas semanas. Outros, como a Argentina e Nicarágua, têm apoiado o líder venezuelano mais incondicionalmente.

O poder econômico do Brasil e seu status de modelo para políticas de esquerda pragmáticas na América Latina dá ao país influência significativa. Henrique Capriles, uma das principais figuras da oposição venezuelana, apontou o governo do Partido dos Trabalhadores como responsável pelo tipo de políticas que ele abraçaria, se eleito, apesar de sua coalizão incluir membros mais conservadores.

Ambos os lados estão ansiosos para ganhar o apoio do Brasil e os sinais enviados pelo governo Dilma são acompanhados de perto na Venezuela.

Muitos na oposição da Venezuela tem expressado sua insatisfação por Dilma não ter condenado explicitamente Maduro pela violência recente que deixou 36 mortos. As vítimas incluem simpatizantes do governo e da oposição, bem como as forças de segurança.

Alguns blogs da oposição apontaram que a maior parte do gás lacrimogêneo usado pela polícia é feito no Brasil.

Mas autoridades brasileiras dizem que precisam ser cuidadosas, uma vez que as declarações mais críticas poderiam estabelecer comparações com Washington, o inimigo número 1 da Venezuela, além do risco de acabar com o diálogo com Maduro completamente.

Dilma também quer laços construtivos com a oposição, mas ela sinaliza que nem seu governo nem outros poderes regionais vão tolerar esforços anti-democráticos para depor Maduro, em um golpe como o que derrubou Chávez brevemente em 2002.

Com essa intenção, Dilma procurou sigilosamente o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, quando estavam no Chile para a posse de Bachelet. Ela pediu ajuda aos Estados Unidos para garantir que a oposição da Venezuela não faça nada radical como tentar depor Maduro, de acordo com duas autoridades com conhecimento da conversa.

Outro fator por trás da postura de Dilma é a eleição brasileira em outubro, em que ela vai tentar se reeleger. Seus dois principais opositores a criticaram por não ser dura o suficiente com Maduro.

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São Paulo - O Brasil, o maior país e o principal poder diplomático da América Latina , tem reduzido seu apoio ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro , devido à insatisfação com a maneira com que ele vem enfrentando os problemas econômicos e os protestos de rua liderados pela oposição.

A mudança de postura, embora sutil, priva Maduro de parte do apoio regional necessário que ele quer, em um momento de escassez de alimentos, alta inflação e incerteza política no país integrante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

De modo geral, a presidente Dilma Rousseff permanece uma aliada de Maduro. Enquanto Dilma é mais moderada, ambos são parte de uma geração de presidentes latino-americanos de esquerda que cresceram fazendo oposição a governos pró-Washington e acreditam estar unidos em uma missão para ajudar os pobres.

No entanto, Dilma está cada vez mais preocupada com algumas das ações de Maduro e freou o apoio mais entusiasmado ao país, que caracterizou as relações Brasil-Venezuela, sob o antecessor de Maduro, o falecido Hugo Chávez, de acordo com dois funcionários próximos ao governo Dilma.

A presidente estaria preocupada com a repressão do governo venezuelano aos protestos de rua recentes, e recusa de Maduro em manter um diálogo genuíno com os líderes da oposição, o que pode agravar a crise política com o tempo, disseram os funcionários.

Um agravamento dos conflitos, por sua vez, pode pôr em risco interesses consideráveis de empresas brasileiras na Venezuela, que incluem o conglomerado Odebrecht .

O jornal Valor Econômico informou neste mês que o setor público venezuelano já deve a empresas brasileiras até 2,5 bilhões de dólares.

"O caminho escolhido por Maduro é cheio de riscos", disse uma autoridade, que não quis ter o nome divulgado. "Estamos tentando encorajá-lo a mudar." A posição brasileira não resulta em maior apoio à oposição venezuelana, enfatizaram os funcionários, acrescentando que o principal objetivo do Brasil é encorajar a democracia e a estabilidade econômica na região.


O exemplo mais claro até o momento de uma mudança de postura do Brasil veio em uma reunião de líderes regionais na posse da presidente do Chile, Michelle Bachelet, no início deste mês.

Maduro disse que queria que os presidentes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) se reunissem durante o encontro no Chile para fazer uma declaração conjunta de apoio a seu governo.

No entanto, Dilma recebeu a ideia com frieza e deixou o Chile horas depois da posse de Bachelet. Inesperadamente, Maduro mudou seus planos e não viajou para o Chile para o evento.

Grande influência em Caracas

No dia seguinte, chanceleres da Unasul se encontraram e evitaram expressar apoio a um dos lados na Venezuela.

Eles condenaram a violência e enviaram "condolências" às vítimas, o povo venezuelano e, por último, o "governo democraticamente eleito".

Em contraste com uma declaração da Unasul em abril passado, o nome de Maduro não foi mencionado, apesar da insistência de alguns diplomatas. O documento também usou abundantemente uma linguagem pedindo paz e respeito aos direitos humanos, enquanto chamava "todas as forças políticas" a dialogar.

Tais nuances carregam significados importantes para ambos os lados da disputa política na Venezuela.

Como Chávez, Maduro tem frequentemente procurado o apoio regional em momentos problemáticos. A declaração da Unasul em abril passado foi fundamental para legitimar sua posição no país depois de uma eleição presidencial controversa.


Os governos do México e do Peru pediram publicamente para Maduro dialogar com a oposição nas últimas semanas. Outros, como a Argentina e Nicarágua, têm apoiado o líder venezuelano mais incondicionalmente.

O poder econômico do Brasil e seu status de modelo para políticas de esquerda pragmáticas na América Latina dá ao país influência significativa. Henrique Capriles, uma das principais figuras da oposição venezuelana, apontou o governo do Partido dos Trabalhadores como responsável pelo tipo de políticas que ele abraçaria, se eleito, apesar de sua coalizão incluir membros mais conservadores.

Ambos os lados estão ansiosos para ganhar o apoio do Brasil e os sinais enviados pelo governo Dilma são acompanhados de perto na Venezuela.

Muitos na oposição da Venezuela tem expressado sua insatisfação por Dilma não ter condenado explicitamente Maduro pela violência recente que deixou 36 mortos. As vítimas incluem simpatizantes do governo e da oposição, bem como as forças de segurança.

Alguns blogs da oposição apontaram que a maior parte do gás lacrimogêneo usado pela polícia é feito no Brasil.

Mas autoridades brasileiras dizem que precisam ser cuidadosas, uma vez que as declarações mais críticas poderiam estabelecer comparações com Washington, o inimigo número 1 da Venezuela, além do risco de acabar com o diálogo com Maduro completamente.

Dilma também quer laços construtivos com a oposição, mas ela sinaliza que nem seu governo nem outros poderes regionais vão tolerar esforços anti-democráticos para depor Maduro, em um golpe como o que derrubou Chávez brevemente em 2002.

Com essa intenção, Dilma procurou sigilosamente o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, quando estavam no Chile para a posse de Bachelet. Ela pediu ajuda aos Estados Unidos para garantir que a oposição da Venezuela não faça nada radical como tentar depor Maduro, de acordo com duas autoridades com conhecimento da conversa.

Outro fator por trás da postura de Dilma é a eleição brasileira em outubro, em que ela vai tentar se reeleger. Seus dois principais opositores a criticaram por não ser dura o suficiente com Maduro.

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