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Correa diz que há um exagero de cúpulas na América Latina

Rafael Correa, acredita que há um número exagerado de organismos de integração na América

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2012 às 23h38.

Cochabamba - O presidente do Equador, Rafael Correa, acredita que há um número exagerado de organismos de integração na América, com muitas cúpulas, e disse que os povos podem acabar se cansando dos líderes em tantas reuniões.

'O que mais nos sobra é cúpulas. Se nas cúpulas conseguíssemos o desenvolvimento, seríamos potências mundiais. Daqui a pouco nossos povos podem se cansar de nós estarmos em cúpulas, enquanto eles continuam em abismos', declarou Correa em entrevista à Agência Efe em Cochabamba (Bolívia), onde ocorre nesta semana a Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Apesar das declarações, o líder confirmou presença na próxima Cúpula Ibero-Americana, na cidade espanhola de Cádiz, porque foi convidado pessoalmente pelo presidente do governo da Espanha, Mariano Rajoy.

Correa discursou nesta segunda-feira na Assembleia Geral da OEA, em Cochabamba, e fez duras críticas ao organismo e aos Estados Unidos tanto na reunião quanto na entrevista à Efe. Ele se disse pessimista de que o encontro em Cochabamba produza resultados concretos sobre as reformas reivindicadas no sistema interamericano de direitos humanos.

Confira a seguir a entrevista do presidente:.

Agência Efe - O senhor foi o protagonista do primeiro dia das sessões da OEA, nesta manhã...

Rafael Correa- Na realidade foi a gentileza do presidente (boliviano) Evo Morales. Para mim, era muito importante me dirigir à Assembleia, porque sofremos na própria carne gravíssimos fatos, terríveis, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Relatoria de Liberdade de Expressão, e temos grandes questionamentos com o andamento da OEA em geral. Era uma ótima oportunidade para expressar essas grandes preocupações e pelo menos deixar claro que somos chefes de Estado, com legitimidade democrática, que não vamos permitir que burocracias com sua agenda própria venham tentar subordinar nossos Estados.


Efe - O senhor sugeriu que a OEA deveria ter uma instância presidencial, em maior nível que a Assembleia. É uma proposta oficial?

Correa - Sim, vamos aperfeiçoá-la. É uma das grandes necessidades. Deixamos crescer uma burocracia, insisto, que danificou a autonomia e se achou acima dos Estados, com agenda própria, com claros compromissos, totalmente influenciada por países hegemônicos, ONGs com suas agendas, pelo grande capital de todos os meios de comunicação. Isso, em parte, foi nossa culpa e por falta desta instância presidencial.

Efe - Há um prazo para apresentar essa proposta?

Correa - Não, não temos prazo. Há muitíssimas propostas em processo, não só esta. Mas tomara que nesta Assembleia se concretizem as duas ou três reformas fundamentais, decididas meses atrás pela comissão permanente.

Efe - Espera resultados concretos aqui em Cochabamba, amanhã?

Correa - Sou um pouco cético. Mas se não houver resultados concretos, há males que vêm para o bem. Estamos cansados do neocolonialismo de alguns países, a OEA precisa tomar decisões transcendentais, precisa criar algo melhor.

Efe.- A América foi prolífica em organismos de integração: OEA, Mercosul, Comunidade Andina (CAN), Unasul... Há forma de integrar tanta desintegração?

Correa - Precisamos de integração. Digamos que foram diferentes momentos históricos, obedeceram a diferentes lógicas. Por exemplo, o Mercosul foi criado em pleno auge neoliberal. A CAN foi criada no desenvolvimentismo, no final dos anos 1960, mas também ficou imbuída pelo mercantilismo nos anos 1990. O que se buscou foi criar grandes mercados, e não grandes nações. A Unasul é o que chamamos de uma integração integral. É preciso que a CAN e o Mercosul confluam nesse novo conceito. Não é fácil. Por exemplo, na CAN, há dois países (Colômbia e Peru) que assinaram tratados de livre-comércio. O Mercosul foi muito reticente a esse tipo de tratado, assim como a Unasul. É muito complexo, mas não impossível.

Efe - Há também a Comunidade Ibero-Americana. A próxima cúpula é em Cádiz. O senhor deve comparecer?.

Correa - Sim, vamos comparecer. O presidente (do governo espanhol, Mariano) Rajoy me convidou pessoalmente em minha última visita à Espanha. Compareceremos com muito prazer. Mas essa cúpula também precisa ter resultados positivos. O que mais nos sobram são cúpulas. Se nas cúpulas conseguíssemos o desenvolvimento, seríamos potências mundiais. Daqui a pouco nossos povos podem se cansar de nós estarmos em cúpulas, enquanto eles continuam em abismos.

Efe - A ultima cúpula foi a das Américas, em Cartagena das Índias (Colômbia), e o senhor não compareceu devido à ausência de Cuba. Mas veio a Cochabamba, embora da OEA Cuba esteja ainda mais excluída...

Correa - Não, não. Já faz parte da OEA. Cuba poderia estar presente. Não quis vir, mas já foi revertida essa barbaridade feita por capricho das potências hegemônicas. Não lhes agradou a Revolução Cubana, excluída da OEA. Mas lhes agradava (o ex-ditador chileno Augusto) Pinochet, então que seja mantido. Essa é a dupla moral. Este é o problema da OEA, que muitas vezes se mostrou como um mero instrumento de política externa dos Estados Unidos.

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Cochabamba - O presidente do Equador, Rafael Correa, acredita que há um número exagerado de organismos de integração na América, com muitas cúpulas, e disse que os povos podem acabar se cansando dos líderes em tantas reuniões.

'O que mais nos sobra é cúpulas. Se nas cúpulas conseguíssemos o desenvolvimento, seríamos potências mundiais. Daqui a pouco nossos povos podem se cansar de nós estarmos em cúpulas, enquanto eles continuam em abismos', declarou Correa em entrevista à Agência Efe em Cochabamba (Bolívia), onde ocorre nesta semana a Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Apesar das declarações, o líder confirmou presença na próxima Cúpula Ibero-Americana, na cidade espanhola de Cádiz, porque foi convidado pessoalmente pelo presidente do governo da Espanha, Mariano Rajoy.

Correa discursou nesta segunda-feira na Assembleia Geral da OEA, em Cochabamba, e fez duras críticas ao organismo e aos Estados Unidos tanto na reunião quanto na entrevista à Efe. Ele se disse pessimista de que o encontro em Cochabamba produza resultados concretos sobre as reformas reivindicadas no sistema interamericano de direitos humanos.

Confira a seguir a entrevista do presidente:.

Agência Efe - O senhor foi o protagonista do primeiro dia das sessões da OEA, nesta manhã...

Rafael Correa- Na realidade foi a gentileza do presidente (boliviano) Evo Morales. Para mim, era muito importante me dirigir à Assembleia, porque sofremos na própria carne gravíssimos fatos, terríveis, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Relatoria de Liberdade de Expressão, e temos grandes questionamentos com o andamento da OEA em geral. Era uma ótima oportunidade para expressar essas grandes preocupações e pelo menos deixar claro que somos chefes de Estado, com legitimidade democrática, que não vamos permitir que burocracias com sua agenda própria venham tentar subordinar nossos Estados.


Efe - O senhor sugeriu que a OEA deveria ter uma instância presidencial, em maior nível que a Assembleia. É uma proposta oficial?

Correa - Sim, vamos aperfeiçoá-la. É uma das grandes necessidades. Deixamos crescer uma burocracia, insisto, que danificou a autonomia e se achou acima dos Estados, com agenda própria, com claros compromissos, totalmente influenciada por países hegemônicos, ONGs com suas agendas, pelo grande capital de todos os meios de comunicação. Isso, em parte, foi nossa culpa e por falta desta instância presidencial.

Efe - Há um prazo para apresentar essa proposta?

Correa - Não, não temos prazo. Há muitíssimas propostas em processo, não só esta. Mas tomara que nesta Assembleia se concretizem as duas ou três reformas fundamentais, decididas meses atrás pela comissão permanente.

Efe - Espera resultados concretos aqui em Cochabamba, amanhã?

Correa - Sou um pouco cético. Mas se não houver resultados concretos, há males que vêm para o bem. Estamos cansados do neocolonialismo de alguns países, a OEA precisa tomar decisões transcendentais, precisa criar algo melhor.

Efe.- A América foi prolífica em organismos de integração: OEA, Mercosul, Comunidade Andina (CAN), Unasul... Há forma de integrar tanta desintegração?

Correa - Precisamos de integração. Digamos que foram diferentes momentos históricos, obedeceram a diferentes lógicas. Por exemplo, o Mercosul foi criado em pleno auge neoliberal. A CAN foi criada no desenvolvimentismo, no final dos anos 1960, mas também ficou imbuída pelo mercantilismo nos anos 1990. O que se buscou foi criar grandes mercados, e não grandes nações. A Unasul é o que chamamos de uma integração integral. É preciso que a CAN e o Mercosul confluam nesse novo conceito. Não é fácil. Por exemplo, na CAN, há dois países (Colômbia e Peru) que assinaram tratados de livre-comércio. O Mercosul foi muito reticente a esse tipo de tratado, assim como a Unasul. É muito complexo, mas não impossível.

Efe - Há também a Comunidade Ibero-Americana. A próxima cúpula é em Cádiz. O senhor deve comparecer?.

Correa - Sim, vamos comparecer. O presidente (do governo espanhol, Mariano) Rajoy me convidou pessoalmente em minha última visita à Espanha. Compareceremos com muito prazer. Mas essa cúpula também precisa ter resultados positivos. O que mais nos sobram são cúpulas. Se nas cúpulas conseguíssemos o desenvolvimento, seríamos potências mundiais. Daqui a pouco nossos povos podem se cansar de nós estarmos em cúpulas, enquanto eles continuam em abismos.

Efe - A ultima cúpula foi a das Américas, em Cartagena das Índias (Colômbia), e o senhor não compareceu devido à ausência de Cuba. Mas veio a Cochabamba, embora da OEA Cuba esteja ainda mais excluída...

Correa - Não, não. Já faz parte da OEA. Cuba poderia estar presente. Não quis vir, mas já foi revertida essa barbaridade feita por capricho das potências hegemônicas. Não lhes agradou a Revolução Cubana, excluída da OEA. Mas lhes agradava (o ex-ditador chileno Augusto) Pinochet, então que seja mantido. Essa é a dupla moral. Este é o problema da OEA, que muitas vezes se mostrou como um mero instrumento de política externa dos Estados Unidos.

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