Correa denuncia "complô" do governo equatoriano com ordem de prisão
Correa, que governou o Equador entre 2007 e 2017, é acusado de associação criminosa e sequestro do ex-deputado opositor Fernando Balda
AFP
Publicado em 4 de julho de 2018 às 17h03.
O ex-presidente do Equador Rafael Correa denunciou nesta quarta-feira (4) um "complô" do atual governo de Lenín Moreno, depois que a Justiça equatoriana emitiu uma ordem de prisão contra ele por seu suposto envolvimento no sequestro de um opositor na Colômbia.
"Há todo um roteiro (...) Há todo um complô", declarou Correa em uma entrevista à AFP em Bruxelas, expressando a sua confiança de que a Interpol irá rechaçar o alerta vermelho emitido pela Justiça equatoriana, já que, na sua visão, trata-se de um caso "político".
Correa, que governou o Equador entre 2007 e 2017, é acusado de associação criminosa e sequestro do ex-deputado opositor Fernando Balda, segundo a Procuradoria, mas o ex-governante nega qualquer envolvimento e lamenta que o vinculem "sem ter nenhuma prova".
Para o ex-presidente socialista, que mora na Bélgica junto com a sua família desde que deixou o poder em 2017, o governo de seu sucessor Moreno está, sem dúvidas, por trás desse complô. "Ele está por trás de tudo isso, da judicialização da política", acrescentou.
Segundo Correa, Moreno "se reuniu com Balda, com o anterior procurador para colocar na prisão Jorge Glas", em referência ao seu vice-presidente entre 2013 e 2017, condenado a seis anos de prisão por receber 13,5 milhões de dólares da empreiteira Odebrecht.
Esse "roteiro" contaria também com o chamado de Quito aos congressistas para suspender a sua "imunidade presidencial" e a tentativa de pressionar pessoas-chave, como Pablo Romero, ex-chefe da Secretaria Nacional de Inteligência.
Sobre Romero, que mora na Espanha, pesa também uma solicitação de extradição no âmbito da investigação ainda em curso e que levou à prisão de três agentes da Inteligência e de um ex-comandante da polícia.
"Viver e morrer na Bélgica"
A juíza Daniela Camacho ordenou na terça-feira a "prisão preventiva" contra o popular ex-presidente de 55 anos, a pedido do procurador, por não cumprir a medida cautelar de se apresentar periodicamente à Corte Nacional de Justiça (CNJ) em Quito.
Correa defendeu seu direito, como residente no exterior, de se apresentar ao consulado de seu país, como fez na segunda-feira e em 24 de maio, quando negou seu envolvimento no suposto sequestro após testemunhar à Procuradoria.
Em meio a sua inflamada luta com seu sucessor e ex-aliado Lenín Moreno, o ex-presidente ficou na mira da Justiça por conta de uma ação de Balda, que o acusa de ordenar o seu sequestro quando havia se asilado em Bogotá em 2012.
A polícia colombiana o frustrou. Pouco depois, Balda foi expulso da Colômbia a pedido de Quito para que respondesse por vários crimes, e ficou na prisão por mais de dois anos por injúrias, assim como por atentar contra a segurança do Estado.
Sobre o alerta vermelho da Interpol, o ex-presidente socialista considerou que este "não terá sucesso", já que esta organização de cooperação policial "toma o seu tempo, analisa o caso e, por ser político, o descarta", e "mais político que isso não existe".
Rafael Correa indicou que apelou a decisão da Justiça, mesmo sem esperança e com o objetivo de "poder ir a tribunais internacionais". E não descartou solicitar o asilo na Bélgica, país que "jamais" daria prosseguimento a sua extradição, na sua opinião.
Para que o caso Balda seja processado, o ex-presidente deveria estar no Equador por se tratar de um crime pelo qual a lei nacional impede o julgamento à revelia, mas descartou viajar devido à situação no país, onde não há "garantias", considerando esse cenário "quase um suicídio".
Dois conselheiros jurídicos na Bélgica, o professor Ludovic Hennebel e o advogado Christophe Marchand, denunciaram em comunicado "o sentimento de ira e assédio judicial" contra Correa, cuja "vida e integridade estão ameaçadas".
"Por que tenho que novamente sacrificar a minha família? Dei a minha família, depois de 10 anos deixando-a de lado para me dedicar inteiramente a minha pátria (...), anos de paz na Bélgica. Inclusive viver e morrer na Bélgica", acrescentou à AFP o ex-presidente, cuja esposa é belga.