O homem é o primeiro cidadão sul-coreano morto por militares norte-coreanos em 10 anos (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 24 de setembro de 2020 às 09h45.
Soldados da Coreia do Norte atiraram e mataram um homem, que se acredita ser um desertor sul-coreano, depois de interrogá-lo na água e, em seguida, molharam seu corpo com gasolina para queimá-lo por medo de contaminação por coronavírus, informou nesta quinta-feira o Exército sul-coreano. O homem é o primeiro cidadão sul-coreano morto por militares norte-coreanos em 10 anos.
O caso ocorre quando Pyongyang permanece em alerta máximo para a covid-19 e que as relações entre as duas Coreias estão estagnadas.
O homem, que trabalhava na indústria pesqueira, desapareceu na segunda-feira a bordo de um barco-patrulha que navegava perto da ilha sul-coreana de Yeonpyeong, informou à AFP um oficial militar sul-coreano. Yeonpyeong está localizada a um quilômetro e meio da fronteira marítima com o Norte. Mais de 24 horas depois, as forças norte-coreanas o localizaram em suas águas territoriais e o interrogaram de um barco-patrulha, segundo a fonte.
A agência de notícias sul-coreana Yonhap afirmou que a pessoa que o questionou usava equipamento de proteção. O homem foi morto cerca de seis horas depois de ser encontrado, de acordo com o oficial sul-coreano.
"Eles atiraram nele na água", segundo o militar entrevistado pela AFP. "Os soldados norte-coreanos jogaram gasolina no corpo dele e o queimaram" e explicaram que queriam evitar qualquer risco de contaminação pelo novo coronavírus.
O homem usava colete salva-vidas e seus sapatos foram encontrados no barco sul-coreano em que navegava, disse a mesma fonte à AFP, sugerindo que ele entrou na água por vontade própria. "Obtivemos informações segundo as quais ele expressou, durante o interrogatório, sua intenção de desertar", acrescentou. O oficial se recusou a fornecer detalhes sobre a fonte das informações. Sabe-se que o exército sul-coreano intercepta ligações de rádio das forças do Norte.
De acordo com a Yonhap, citando autoridades sul-coreanas, a ordem para atirar foi dada por "uma autoridade superior". O ministério da Defesa da Coreia do Sul condenou o ato, que chamou de "escandaloso". "Advertimos solenemente a Coreia do Norte que toda a responsabilidade por este incidente cabe a ela", acrescentou em um comunicado.
Pyongyang, particularmente vulnerável a um surto de coronavírus devido ao seu precário sistema de saúde, afirma que até agora não registrou nenhum caso de covid-19 em seu território.
O país fechou as fronteiras com a China, sua principal aliada, no final de janeiro.
Em julho, a mídia oficial norte-coreana colocou o país em alerta máximo para o coronavírus.
Naquele mesmo mês, um desertor norte-coreano que havia fugido para o Sul três anos antes voltou ao seu país cruzando ilegalmente a "linha de demarcação" que serve de fronteira com a Coreia do Sul. Isso levou as autoridades norte-coreanas a ordenar o confinamento da cidade fronteiriça de Kaesong, por medo de que ele pudesse estar contaminado.
O comandante das forças americanas na Coreia do Sul, o general Robert Abrams, disse que Pyongyang instruiu os militares a "atirar para matar" em sua fronteira com a China para evitar um surto de coronavírus em seu território.
O homem morto a tiros esta semana é o primeiro sul-coreano a ser morto pela Coreia do Norte em dez anos.
Em novembro de 2010, o Exército de Pyongyang bombardeou a ilha sul-coreana de Yeonpyeong, matando quatro pessoas, dois civis e dois soldados.
Poucos meses antes, um navio de guerra, o "Cheonan", foi torpedeado, segundo Seul, por um submarino norte-coreano, matando 46 marinheiros. Pyongyang sempre negou qualquer envolvimento.
Em 2008, uma turista sul-coreana foi morta por um soldado norte-coreano enquanto caminhava por uma área proibida perto do Monte Kumgang.