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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.
Rio de Janeiro - Antes de começar a explorar mais intensamente o petróleo na região pré-sal, o Brasil deveria tomar iniciativas para evitar que ocorram vazamentos descontrolados como o da British Petroleum (BP), no Golfo do México, alertaram professores da Coppe/UFRJ em debate nesta terça-feira.
Deixando claro que explorar o pré-sal é inevitável, pela demanda cativa que ainda existe no mundo por pelo menos os próximos 30 anos, o coordenador do evento, professor Segen Estefen, alertou que a indústria do petróleo "ficou nua" com o acidente da BP, e que os cuidados que vinha tomando para evitar acidentes não eram suficientes.
"Não devemos ter medo de desafios como o do pré-sal, mas o desafio mostrou que é real e a indústria está vulnerável", afirmou Estefen no auditório do Centro Tecnológico da Coppe, que reúne cursos de pós-graduação em engenharia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Ele lembrou que quanto mais profunda e mais longe da costa está uma área petrolífera mais riscos tem a operação, e no caso do pré-sal da bacia de Santos, atualmente em Teste de Longa Duração do campo de Tupi, é preciso repensar se é possível utilizar no local os mesmos equipamentos usados em outras operações.
"A profundidade está associada à taxa de falha do BOP (Blow Out Preventer), que se mostrou insuficiente no caso da BP para evitar o vazamento. Toda a indústria achava que ele bastava, mas não bastou", explicou Estefen sobre o equipamento instalado nos poços de petróleo para garantir a segurança em caso de vazamento e que não evitou o derramamento de óleo na parte norte-americana do Golfo.
"Vamos enfrentar uma situação muito mais drástica no pré-sal, precisamos de equipamentos mais efetivos do que o BOP atual", reforçou.
Estefen ressaltou que a 300 quilômetros da costa o mar tem condições mais adversas que o normal, e que a simples transferência de petróleo da plataforma para um navio aliviador estará sujeita a maiores riscos que em campos mais tranquilos.
Ele destacou também a necessidade da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e de Biocombustíveis (ANP) e do Ministério de Meio Ambiente criarem um órgão de prevenção de risco, e que seja pensado um equipamento que tampe imediatamente o poço em um caso como o da BP, que há 35 dias espalha petróleo na costa norte-americana por não conseguir fechar o poço.
Convenções defasadas
Também palestrante no evento, a professora da Coppe/UFRJ Alessandra Magrini informou que o Brasil está atrasado em relação à comunidade internacional no que se refere a tratados e convenções.
Segundo ela, o Brasil corre um grande risco se for vítima de um acidente como o da BP porque aderiu a poucos tratados e convenções internacionais na área do petróleo, inclusive ficando de fora de um fundo global que garante recursos em caso de acidentes.
"O Brasil assinou apenas dois convênios visando poluição (Marpol e OPRC 1990) e um tratado de compensação, que é de 1969 e foi renovado várias vezes nos últimos anos e o Brasil não participou", disse a acadêmica.
"Se tiver um acidente dessas proporções (BP), não vamos ter para onde correr", explicou. "A gente tem o pré-sal pela frente e estamos numa distância da costa que demora mais a chegar, mais dispersa muito mais também, pode inclusive atingir as águas internacionais.
Além de multa de mais de 70 milhões de dólares pelo vazamento, a BP deverá gastar para limpar, compensar danos na economia, entre outras providências, algo entre 2 e 6 bilhões de dólares, segundo especulações da indústria.
De acordo com Alessandra, a lei vigente no Brasil para punir crimes desse tipo "é extremamente fraca" e estipula multas de 7 mil a 50 milhões de reais, mas sem estabelecer quais critérios correspondem a qual valor.
"E até hoje o país não tem um plano de contingência para esses casos, que precisa ser feito pelo Minsitério de Minas e Energia", criticou.
Exploração inevitável depois que o chamado "petróleo barato" ou mais fácil de explorar está no fim, o petróleo do pré-sal vai contribuir para manter a matriz energética com um peso grande do combustível fóssil, segundo o professor Alexandre Szklo.
"As reservas úteis recuperáveis no mundo passaram de 2,1 trilhões de barris para 4,8 trilhões de barris com a inclusão do potencial das reservas ultraprofundas, como é o caso do pré-sal", explicou, informando que com essas reservas a produção de petróleo deve atingir o auge em 2050, quando começará o declínio.