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'Contrabandistas' mantêm viva a rebelião na Síria

Rebeldes usam computadores, câmera e celulares para denunciar a guerra

Moradores de Aleppo observam ativista da oposição síria no distrito de Shaar (Pierre Torres/AFP)

Moradores de Aleppo observam ativista da oposição síria no distrito de Shaar (Pierre Torres/AFP)

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Da Redação

Publicado em 27 de julho de 2012 às 20h05.

Antioquia - Milícias rebeldes que lutam contra o regime sírio divulgam suas conquistas graças aos ''contrabandistas da guerrilha'', ativistas que levam computadores, câmeras e celulares e voltam com imagens e vídeos.

''Pediram que eu levasse armas e munição, mas respondi que só me ocupava da informação'', comentou à Agência Efe Muntasir Sino, jovem sírio curdo que acaba de voltar dos Montes Curdos, uma cordilheira ao leste da cidade portuária de Latakia.

Lá, assegura, se desenvolve uma verdadeira guerra há mais de um mês, há muito mais tempo que em Aleppo ou Damasco. Só que ninguém sabe. ''A guerra tem duas caras: a das armas e a da informação'', analisa o jovem, que trouxe um disco rígido com fotos e vídeos.

''E no monte não tem internet, nem sequer eletricidade. Esta semana fui vê-los e levei quatro celulares e quatro câmeras fotográficas de alta qualidade. Precisam também de internet por satélite, mas é muito caro e não encontramos quem financie'', explica.

Muntasir, originário de Qamishli, zona oriental da Síria, é membro da União de Coordenadores dos Jovens Curdos na Síria (HHCKS), uma rede que se dedica a defender os interesses dos curdos em todo o país com uma visão integradora.

O jovem mora em Istambul, onde sua organização dispõe de um escritório, mas acaba de retornar dos Montes Curdos, chamados assim por causa da reinvindicação dos habitantes por causa da origem curda, embora atualmente todos falem apenas árabe.

A região está há semanas sob um cerco rigoroso por parte do Exército sírio e dos ''shabbiha'', milícias ao serviço do regime.


Mas o caminho em direção a Turquia está livre: ''Os 30 a 40 quilômetros entre o monte e a fronteira são território nosso, não há perigo'', conta Muntasir. Mas quando se entra no monte, convém dirigir o mais rápido possível, para evitar que os tanques do Exército estacionados possam apontar para o veículo.

Os bombardeios aleatórios são frequentes, assim como os ataques de helicópteros. Mas os tanques não podem tomar o monte, pois os guerrilheiros montam guarda dia e noite, relata o jovem.

''Os guerrilheiros têm inclusive dois hospitais, dirigidos por médicos, mas faltam remédios e principalmente instrumentos para operar. Embora o que mais peçam sejam armas'', acrescenta.

Desta parte cuida Firas Birro, jovem sírio originário da região, que há três meses se transformou em um profissional do contrabando de remédios, comida e, claro, armas.

Antes da revolução, Birro trabalhava como professor em Aleppo, mas tanto ele como seus irmãos, suboficiais do Exército, não tiveram dúvidas quanto ao caminho a seguir.

''Tínhamos lojas e negócios em Latakia, mas deixamos tudo para nos dedicar ao monte. Meu pai, que já tem cabelos brancos, agora anda com um fuzil e um revólver, coordena uma unidade de socorro, e dirige o armazém para onde levamos comida da Turquia; atualmente não há mais do que alguns sacos de batatas'', relata Birro.


O jovem assegura que sair da Turquia rumo a Síria, carregado de material e armas, é fácil.

''Os turcos nunca te param. O difícil é voltar. Anteontem me detiveram duas vezes na fronteira para nos dar a opção de ser transferidos ao campo de refugiados Sanliurfa, ou então voltar à Síria. Escolhi o segundo. Demos uma volta de cinco horas sob o sol e então conseguimos entrar'', lembra o contrabandista.

''Antes vínhamos à Turquia comprar fuzis de caça, que aqui são vendidos livremente. Agora chegam armas de verdade de contrabando. E dentro da Síria há tráfico de armas, trocam-se fuzis por morteiros, de acordo com a necessidade e a oferta de cada um, mas no Monte Curdo somos pobres, e com os fuzis não podemos nos defender contra os helicópteros'', lamenta.

Mas Birro também acredita que para ganhar a guerra não basta uma façanha de guerrilheiro. ''O que pensam de nós na Europa? Como veem a revolução? Pensam que somos islamitas?'', questiona preocupado.

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