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Contra a pornografia infantil, Apple debate privacidade de dados

Empresa desenvolveu ferramentas para melhor detectar imagens sexuais envolvendo crianças

Tecnologia: sistema operacional compara fotos abusivas com uma base de dados de imagens vítimas  (AFP/AFP)

Tecnologia: sistema operacional compara fotos abusivas com uma base de dados de imagens vítimas (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 8 de agosto de 2021 às 10h10.

As ferramentas reveladas pela Apple para melhor detectar imagens sexuais envolvendo crianças reacenderam o debate sobre criptografia de dados e privacidade, e há quem tema que essas novas tecnologias possam ser utilizadas por governos.

Para a fabricante do iPhone, iPad e iMac, a iniciativa visa proteger os jovens dos predadores que operam na internet.

É, acima de tudo, um importante ponto de inflexão para a empresa, que até agora resistia a qualquer esforço para enfraquecer seu sistema de criptografia que impede o acesso de terceiros a dados privados.

Em uma nota técnica, a Apple afirma que uma de suas ferramentas de detecção de fotos problemáticas, desenvolvida por especialistas em criptografia, é "segura e foi expressamente projetada para preservar a privacidade do usuário".

Essa ferramenta vai comparar as fotos enviadas para o iCloud com aquelas armazenadas em um arquivo gerenciado pelo Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas (NCMEC), uma empresa privada dos EUA que combate a exploração sexual de crianças. A Apple afirma que não tem acesso direto a essas imagens.

"Esse tipo de ferramenta pode ser muito útil para encontrar pornografia infantil nos telefones das pessoas, mas imagine o que poderia fazer nas mãos de um governo autoritário", tuitou Matthew Green, criptógrafo da Universidade Johns Hopkins.

Outra ferramenta, que pode escanear fotos recebidas ou enviadas por menores por meio do iMessage, pode ser o primeiro passo para abrir as "portas dos fundos" nos iPhones que podem ser usados por hackers ou governos, alertam especialistas.

"Haverá uma tremenda pressão sobre a Apple por parte dos governos para estender essa capacidade de detecção a outros tipos de conteúdo 'negativo' e grande interesse dos hackers em encontrar maneiras de explorá-lo", tuitou Matt Blaze, pesquisador em informática e criptografia da Universidade de Georgetown.

A Apple não só fará a varredura dos dados hospedados em seus servidores, mas também dos dados armazenados no próprio telefone, denunciou. Portanto, "terá potencialmente acesso a todos os nossos dados".

Criminosos e terroristas

Essas novas ferramentas estarão disponíveis nos Estados Unidos à medida que os sistemas operacionais dos dispositivos da marca Apple forem atualizados.

"As novas proteções para as crianças implementadas pela Apple mudam as coisas", disse John Clark, diretor do NCMEC.

O grupo se recusou categoricamente a ajudar a polícia a acessar o conteúdo criptografado do telefone celular de um dos autores de um ataque que matou 14 pessoas em 2015 na Califórnia.

Para o FBI, o fato de as mensagens serem criptografadas de ponta a ponta e só poderem ser lidas por remetentes e destinatários protege criminosos e terroristas.

A rede social Facebook está estudando uma forma de usar inteligência artificial para analisar o conteúdo das mensagens sem decifrá-las, segundo o site The Information.

Para Will Cathcart, diretor do aplicativo de mensagens WhatsApp, adquirido pelo Facebook, a abordagem da Apple é "ruim e um revés para a privacidade das pessoas ao redor do mundo".

Este sistema "pode escanear todas as fotos privadas em um telefone (...). Não é confidencial", tuitou na sexta-feira.

Os defensores da criptografia argumentam que as autoridades já têm acesso a um grande número de "rastros digitais" e que qualquer ferramenta que possa desbloquear a criptografia pode ser explorada por agentes mal-intencionados.

Para James Lewis, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, as novas ferramentas da Apple permitem identificar conteúdos problemáticos sem ter que enviá-los diretamente às autoridades.

"A Apple fez todo o possível para encontrar um equilíbrio entre segurança pública e privacidade", mas para as agências governamentais isso sempre será insuficiente, ressaltou.

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