Montagem com os símbolos dos partidos Democrata (burro) e Republicano (elefante) (Arte/Exame)
Estagiária de jornalismo
Publicado em 13 de dezembro de 2025 às 12h36.
A polarização política nos Estados Unidos vem crescendo na última década, e são raros os momentos em que membros de diferentes grupos do sistema bipartidário se unem em torno de um mesmo projeto.
Curiosamente, psicodélicos foram responsáveis por um desses episódios incomuns.
No dia 4 de dezembro, os senadores Cory Booker, democrata de Nova Jersey, e Rand Paul, republicano do Kentucky, apresentaram o "Ato de Liberdade de Cura" no Senado.
O projeto altera o Ato de Substâncias Controladas, a lei que regula as drogas nos EUA.
A proposta é permitir um registro especial de médicos autorizados a administrar substâncias da Lista I, a categoria mais restritiva, dentro da lei federal conhecida como Direito à Tentativa. Essa legislação permite que pacientes com doenças graves, sem alternativas terapêuticas aprovadas, tenham acesso a tratamentos ainda em fase experimental.
Na prática, o projeto cria um processo formal para que médicos se registrem junto ao Departamento de Justiça e possam aplicar essas substâncias de forma direta e supervisionada.
O texto exige comprovação de credenciais médicas, treinamento específico, autorização do fabricante do medicamento e limites rigorosos de quantidade, armazenamento e uso. O Ato de Liberdade de Cura também determina prazos claros para análise dos pedidos e prevê regras para evitar desvio ou uso indevido.
Na Câmara, a iniciativa ganhou apoio das deputadas Madeleine Dean, democrata, da Pensilvânia, e Nancy Mace, republicana da Carolina do Sul, além de parlamentares de ambos os partidos, segundo comunicado divulgado em Washington.
O ponto central do debate envolve substâncias como MDMA e psilocibina, hoje classificadas como drogas da Lista I.
De acordo com os defensores do projeto, essas substâncias apresentaram resultados promissores em estudos clínicos de fases iniciais para tratar depressão resistente e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), condições comuns entre veteranos de guerra. Ambas receberam da agência reguladora FDA a designação de “terapia inovadora”.
Apesar disso, a atual legislação não prevê um caminho claro para que médicos utilizem essas terapias no contexto do Direito à Tentativa. O novo projeto busca preencher essa lacuna, mantendo a supervisão da Drug Enforcement Administration (DEA), responsável pelo controle de substâncias nos EUA.
“Precisamos ampliar as opções de cuidado em meio à crise de saúde mental”, afirmou a deputada Madeleine Dean, ao defender a redução de barreiras a tratamentos experimentais.
O senador Cory Booker destacou que milhares de americanos, “muitos deles veteranos”, já esgotaram as terapias convencionais e buscam alternativas.
Rand Paul, médico de formação, afirmou que a proposta cria um caminho legal e prático para médicos e pacientes, preservando o julgamento clínico.
A iniciativa recebeu apoio de organizações de veteranos, associações médicas e grupos de pesquisa em saúde mental, como a American Legion e a Veteran Mental Health Leadership Coalition, segundo a nota oficial.
Para esses grupos, o projeto pode evitar que veteranos precisem sair do país para acessar terapias experimentais.
O projeto ainda será analisado pelas comissões do Congresso. Se aprovado, pode marcar uma mudança histórica na forma como os EUA lidam com psicodélicos no campo da saúde, segundo seus patrocinadores.
Rand Paul não é o primeiro republicano a defender a liberalização dos psicodélicos.
A crítica à Guerra às Drogas é uma pauta tradicionalmente associada à esquerda progressista. De fato, as leis mais restritivas dos EUA foram fruto dos governos republicanos de Richard Nixon e Ronald Reagan. Há, apesar dessa tendência, uma parcela da direita norte-americana que também é contrária a essas restrições.
Em julho deste ano, o secretário da Saúde Robert F. Kennedy Jr., conhecido por políticas conservadoras e postura antivacina, defendeu o uso de psicodélicos para o tratamento da depressão e do trauma.
"Essa linha terapêutica tem vantagens enormes se for administrada em um ambiente clínico, e estamos trabalhando duro para que isso ocorra em até 12 meses", disse Kennedy Jr. ao Congresso.
Elon Musk também já fez a defesa da liberalização em um episódio do podcast de Joe Rogan . "Se algo como MDMA, cogumelos ou LSD for comprovado que ajuda no crescimento pessoal, o FDA deveria considerá-lo como uma boa droga", afirmou. Em 2018, também no podcast, Musk fumou maconha.