Soldados iraquianos se peparam para operação contra Estado Islâmico em janeiro deste ano (AHMAD AL-RUBAYE/AFP via Getty Images/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 3 de fevereiro de 2022 às 12h07.
Última atualização em 4 de fevereiro de 2022 às 11h17.
Após ser derrotado no Iraque em 2017 em batalhas militares lideradas pelos Estudos Unidos, que duraram nove meses e mataram 40 mil civis, o Estado Islâmico aos poucos foi se reorganizando. O grupo renasceu nos subterrâneos do Iraque e da Síria, região na qual exerceu domínio territorial entre 2014 e 2017. Nos últimos anos, os ataques se multiplicaram.
Este ano, cem militantes invadiram a prisão Gweiran, em Hassakeh, na Síria, que abrigava 5.000 detentos, para soltar centenas de afiliados. O local é controlado por uma facção curda apoiada pelos Estados Unidos. O Estado Islâmico usou armamento pesado e carros-bomba para atacar o complexo, segundo relatos locais. Também no mês passado, o grupo assumiu um ataque a uma base militar no Iraque que provocou a morte de dez pessoas.
Na tentativa de reconquistar território e aumentar o número de militantes, o Estado Islâmico vem promovendo emboscadas em barreiras militares em estradas e cidades do Iraque. Em outubro, um ataque a um vilarejo na província de Diala, no nordeste do país, matou 11 soldados. Segundo as forças armadas iraquianas, o atentado foi motivado por um sequestro mal-sucedido, em que o resgate não foi pago.
Sequestros, tráfico de drogas, contrabando de obras de arte e relíquias arqueológicas estão entre as principais fontes de financiamento do grupo. “No Iraque, dizemos que trata-se de uma milícia e, como tal, pratica vários atos ilícitos”, diz o engenheiro Ibrahim Saleh. Existe também a desconfiança que o grupo seja favorecido pela corrupção. “O meio político pode usá-los como arma e, além disso, o hábito de subornos só piora a situação”. Saleh mora em Mossul, cidade iraquiana de quase 2 milhões de habitantes que se tornou quartel-general do Estado Islâmico no Oriente Médio em 2014, e viveu de perto a guerra para a expulsão do grupo, entre 2016 e 2017. "Mesmo antes de 2014, o grupo já cobrava taxas dos comerciantes e praticava extorsões. Quando dominaram a cidade, impuseram uma série de regras, como a proibição de usar celular, que tornaram a vida bem mais difícil", afirma.
O Estado Islâmico chegou a dominar dois terços do Iraque e da Síria há oito anos. Em 2016, uma operação internacional, com tropas americanas, europeias e iraquianas, travou longas batalhas, especialmente em cidades como Mossul, para derrotar os insurgentes. Em 2019, o líder Abu Bakr al-Baghdadi foi morto pelos Estados Unidos em uma operação na Síria -- em guerra desde 2011, o país vem sendo considerado um local ideal para novos atentados terroristas e o reagrupamento de milícias jihadistas.
Hoje, os Estados Unidos mantêm um contingente de treinamento no Iraque formado por cerca de 700 militares. A retirada de milhares de militares americanos que ajudaram na luta contra o Estado Islâmico foi realizada no ano passado. Durante o governo Trump, as tropas já haviam sido reduzidas a menos de 2.500 soldados. Em julho de 2021, o presidente Joe Biden acertou a retirada total do Afeganistão e um acordo para que os americanos não participassem mais de missões de combate no Iraque.
Al Qaeda
Enquanto isso, a Al Qaeda, fundada por Osama bin Laden em 1988, permanece firme e forte no norte da África e em outras partes do continente, como no Mali, Chade, Nigéria, Somália e Moçambique. Um relatório do Conselho de Segurança da ONU publicado no ano passado afirma que a África é atualmente a região mais ameaçada pelo terrorismo.
No faixa do Sahel, que vai do deserto do Saara até o Sudão, o grupo tem se engajado em uma série de atividades criminosas que incluem a cobrança de taxas para o uso da água, recurso cada vez mais escasso em função das mudanças climáticas.
Na Nigéria, os embates entre as forças de segurança e os insurgentes provocaram a morte direta de 35 mil pessoas em 2020, segundo as Nações Unidas. Outras centenas de milhares tiveram que se deslocar para outras partes do país e o exterior para escapar do conflito.
Na região do Sahel, os impactos da falta de água e do terrorismo constituem hoje uma das principais causas da imigração. Quase 1 milhão de pessoas deixaram o local em 2021 – a maioria buscou refúgio em países africanos, enquanto uma parte cruzou o Mediterrâneo para chegar à Europa. “Com o aumento dos conflitos armados, mudanças climáticas e pobreza, a migração está se tornando praticamente um estilo de vida”, diz a ONU.