Presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jon Un 12/06/2018 REUTERS/Jonathan Ernst (Jonathan Ernst/Reuters)
AFP
Publicado em 13 de junho de 2018 às 11h03.
Última atualização em 13 de junho de 2018 às 11h05.
A reunião de cúpula histórica entre o americano Donald Trump e o norte-coreano Kim Jong-un terá repercussões na China, na Coreia do Sul e no Japão.
Trump se vangloriou dos méritos de um acordo que prevê "a desnuclearização completa" da península coreana, embora os observadores condenem o texto por sua imprecisão.
A cúpula de Singapura deixa muitas perguntas em aberto. Em particular, aquelas ligadas a outros atores-chave. Confira abaixo:
Principal aliado de Pyongyang e com quem a Coreia do Norte tem 90% de suas trocas comerciais, a China vê com bons olhos tudo que possa diminuir a tensão na península vizinha.
Pequim saudou rapidamente o encontro, considerando que se trata do começo de uma "nova história".
A China teve uma surpresa adicional com a cúpula, depois que Trump anunciou o fim dos exercícios militares com Seul, uma prática que Pequim sempre viu com desconfiança.
Este anúncio constitui a aceitação tácita da proposta defendida pelo presidente chinês, Xi Jinping, ou seja, parar os exercícios militares em troca do congelamento dos testes nucleares e balísticos norte-coreanos.
Xi se reuniu duas vezes com Kim antes da cúpula e conserva uma considerável influência no xadrez diplomático. A China até emprestou um avião a Kim para que viajasse para Singapura.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, está entre os que tornaram possível o encontro de Singapura. Quando a cúpula foi anulada por Trump, esforçou-se para reverter a decisão.
Seul e Pyongyang já concordaram em manter encontros regulares. A legitimação de Kim na arena mundial torna mais provável uma visita de Moon a Pyongyang.
O Norte e o Sul também devem trabalhar para declarar o fim da Guerra da Coreia (1950-1953). Os combates terminaram com um armistício, mas não com um tratado de paz. Os dois países continuam tecnicamente em guerra.
Assim como os demais, porém, o comando militar sul-coreano foi surpreendido com a declaração unilateral de Trump sobre o fim dos exercícios militares. Isso reforçaria os argumentos dos conservadores sul-coreanos que reclamam que Seul desenvolve suas próprias armas atômicas.
A reação japonesa foi claramente menos entusiasta do que a de outros países. Tóquio está diretamente ameaçado pelos mísseis norte-coreanos e depende dos Estados Unidos para sua defesa.
A anulação das manobras pareceu irritar Tóquio. O ministro japonês da Defesa, Itsunori Onodera, disse que esses exercícios têm "papel vital" para a segurança na região.
Sobre a questão extremamente sensível dos japoneses sequestrados pela Coreia do Norte há décadas, o primeiro-ministro Shinzo Abe saudou o fato de que Trump tenha, aparentemente, evocado o tema durante a cúpula. Mas não parece haver avanços tangíveis.
Abe disse que queria falar sobre esse tema diretamente com Kim.
Dada a declaração assinada por Kim e Trump, que não contém detalhes sobre a desnuclearização, os representantes dos dois países estão diante de negociações longas e difíceis.
Segundo Trump, membros de seu alto escalão, entre eles o conselheiro de Segurança Nacional, o falcão John Bolton, estudarão os detalhes na próxima semana.
Segundo a agência oficial norte-coreana, KCNA, Kim e Trump aceitaram convites recíprocos de viagens a Washington e a Pyongyang.