Lacalle Pou: filho de ex-presidente, derrotado em 2014, ele tem 49,9% das intenções de voto (Andres Cuenca/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2019 às 06h06.
Última atualização em 22 de novembro de 2019 às 06h35.
O Uruguai vai às urnas neste domingo num processo que marca a diferença de momento vivida pelo país na comparação com alguns de seus vizinhos sul-americanos.
O Chile anunciou ontem uma revisão de até 50% nas aposentadorias para conter uma onda de protestos que já dura um mês. Na Bolívia, o partido do ex-presidente Evo Morales reconheceu o governo interino de Jeanine Añez, num gesto que abre caminho para novas eleições em janeiro, mas com impacto incerto sobre manifestações que já deixaram mais de 30 mortos. A nova frente de conflitos na região vem da Colômbia, onda uma greve convocada por sindicatos paralisa as principais cidades contra reformas trabalhista e previdenciária.
Posto frente a este ambiente de alta octanagem, o Uruguai é um bálsamo. Mas o país de 3 milhões de habitantes também pode estar às portas de uma guinada política. Após 15 anos de governo da esquerdista Frente Ampla, a centro-direita pode voltar ao poder com Luis Lacalle Pou.
Candidato do partido Nacional e filho de ex-presidente, ele fez 28% dos votos no primeiro turno, mas ganhou o apoio de Ernesto Talvi (Colorado) e Manini Rios (Cabildo Aberto), que juntos fizeram mais de 20% dos votos. Virou, assim, favorito diante do frente-amplista Daniel Martínez, ex-prefeito de Montevidéu, escolhido por 38% dos eleitores no primeiro turno.
Todas as pesquisas eleitorais dão vantagem a Lacalle Pou. Segundo o instituto Radar, ele tem 49,9% das intenções de voto, ante 44,3% de seu adversário. Sua vantagem foi construída, como se esperava, com os votos de 75% dos eleitores colorados e de 88% daqueles que votaram pelo Cabildo Aberto no primeiro turno. A Frente Ampla conta uma virada de última com um comparecimento em massa de seus eleitores — está, até, bancando passagens de cerca de 4.000 frente-amplistas que vivem na Argentina.
Nos últimos 15 anos o Uruguai cresceu acima da média do continente e aprovou pautas progressistas, como a liberação da maconha com controle governamental, que o levaram a ser escolhido o país do ano pela revista Economist, em 2013. Mas, nos últimos anos, uma crescente insatisfação com o aumento da violência e denúncias de corrupção levaram a quedas na aprovação do governo.
Apesar de ter uma taxa de 12 assassinatos por 100 mil habitantes, metade da brasileira, o Uruguai tem visto um crescente aumento da criminalidade puxado pelo tráfico de drogas. Seis em cada dez assassinatos no país estão ligados a acertos de contas entre narcotraficantes, segundo o governo. Lacalle Pou, ex-senador, propõe a revisão no código penal aprovado em 2017 pelo governo e aumento do policiamento. Nada muito específico — mas pode ser o suficiente no domingo.