Chávez segura bandeira da Venezuela: país importou no ano passado US$ 6,774 bilhões do Mercosul, e exportou US$ 1,986 bilhão em produtos aos países do bloco (©AFP / Juan Barreto)
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2012 às 19h28.
Caracas - A entrada da Venezuela no Mercosul deve servir para industrializar o país, e não para a simples e massificada chegada de exportações de Brasil e Argentina, afirmaram nesta terça-feira empresários, políticos e analistas locais.
Além de suspender o Paraguai pela crise política que levou ao impeachment do presidente Fernando Lugo, Argentina, Brasil e Uruguai decidiram na semana passada que a Venezuela será incorporada como membro pleno do Mercosul a partir de 31 de julho.
A decisão dividiu opiniões no país, pois enquanto alguns setores veem uma oportunidade para desenvolver uma oferta exportável baseada na petroquímica e em metalurgias ou que beneficie as pequenas e médias empresas, outros advertem sobre os efeitos para os venezuelanos da entrada de produtos brasileiros e argentinos.
''Não se trata de abrir o mercado venezuelano para receber as exportações do Brasil e da Argentina, países com um desenvolvimento industrial e agroindustrial muito superior ao da Venezuela'', disse à Agência Efe Víctor Álvarez, ex-ministro de Indústrias na primeira década do governo do presidente Hugo Chávez.
O agora pesquisador do Centro Internacional Miranda de estudos econômicos, políticos e sociais declarou que a Venezuela terá um prazo de quatro anos para adotar todas as normas do grupo e, adicionalmente, negociar ''para assegurar uma transferência de tecnologia que industrialize o país''.
Segundo ele, a ''estratégia de negociação'' nacional deve garantir que seja desenvolvida uma oferta exportável baseada em ''uma portentosa indústria petroquímica e metalúrgica'', em primeiro lugar.
''A vantagem de se aliar-se a Brasil e Argentina é que são países que têm longa tradição no desenvolvimento dos setores petroquímico, metalúrgico, de equipamentos'', disse Álvarez, para quem a ''Venezuela não precisa de mais mercadorias''.
O pesquisador afirmou, nesse contexto, que o país ''necessita de tecnologia, formação de talento humano, assistência técnica e que os projetos de investimento'' incorporem ''o maior volume de conteúdo nacional e peças nacionais de valor agregado nacional''.
O presidente da Câmara Venezuelana-Colombiana (Cavecol), José Alberto Russián, disse à Agência Efe que o setor produtivo tradicional ''está bastante preocupado'' pela entrada, no curto prazo, da oferta exportável de Argentina e Brasil.
Ele indicou que os produtores locais já estão preocupados pelas exportações da Colômbia, reguladas com um recente acordo após a saída da Venezuela da Comunidade Andina, e que, segundo sua opinião, ''não têm a magnitude das do Brasil e da Argentina''.
Já o presidente da entidade patronal Fedeindustria, Miguel Pérez Abade, declarou à imprensa venezuelana que previa que a adesão do país ao bloco regional também será ''beneficente para o desenvolvimento das pequenas e médias indústrias não só permitindo a troca direta de produtos de consumo, mas também abrindo as portas da consolidação de grandes projetos'' viários e petroquímicos, entre outros.
Por sua vez, o candidato opositor nas eleições presidenciais de 7 de outubro, Henrique Capriles, disse que a incorporação ao Mercosul deve gerar ''receitas efetivas''.
''A entrada da Venezuela no Mercosul deve nos deixar receitas efetivas que se traduzirão em melhorias na qualidade de vida de nosso povo (...) Acreditamos que podemos ser mais que exportadores de petróleo, temos produção nacional que deve ser promovida em outros países'', afirmou Capriles por meio do Twitter.
A Venezuela importou no ano passado US$ 6,774 bilhões do Mercosul, e exportou US$ 1,986 bilhão em produtos aos países do bloco, ou seja, possui uma balança negativa de US$ 4,788 bilhões, segundo números da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi).