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Com dissolução iminente, ETA pede perdão pelos graves danos

Com quase 60 anos, o grupo separatista do País Basco anunciou sua dissolução e pediu desculpas às vítimas pelos danos provocados durante a luta armada

ETA: o grupo separatista se desculpou pelas vítimas que não tinham participação direta no conflito (Vincent West/Reuters)
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AFP

Publicado em 20 de abril de 2018 às 09h51.

Bilbau - Em uma declaração inédita, o grupo separatista ETA pediu perdão às vítimas pelos "graves danos" provocados por sua luta armada pela independência do País Basco ( Espanha ), um último gesto antes do aguardado anúncio de dissolução, quase 60 anos após sua criação.

No texto publicado nesta sexta-feira pelo jornal basco Gara, o ETA reconhece "o dano provocado no decorrer de sua trajetória armada" e afirma o "compromisso com a superação definitiva das consequências do conflito e com a não repetição".

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Consciente de ter provocado "muita dor", a organização deseja "mostrar respeito aos mortos, aos feridos e às vítimas" das ações do grupo, segundo o comunicado traduzido do euskera ao espanhol pelo jornal.

"Pedimos desculpas de verdade", afirma a organização, que executou atentados com bomba e assassinatos que deixaram 829 mortos, tanto no País Basco como no resto da Espanha e alguns também na França.

A organização, que também realizou em nome da luta armada sequestros e extorsões, se limitou a lamentar a totalidade das vítimas e pediu perdão especificamente para aquelas "que não tinha uma participação direta no conflito, nem responsabilidade alguma".

"A estas pessoas e seus parentes pedimos perdão", afirma o texto com data de 8 de abril, exatamente um ano depois da entrega das armas, quando o grupo apresentou uma lista de depósitos à justiça francesa.

Criado em 1959 durante a ditadura de Francisco Franco, o Euskadi Ta Askatasuna (País Basco e Liberdade) renunciou à luta armada em 2011 e em poucos dias deve anunciar sua dissolução, de acordo com várias fontes.

Associações de vítimas do terrorismo, que exigiam há vários anos um pedido de desculpas do ETA, criticaram o comunicado, que consideraram insuficiente.

"Vergonhoso"

"Me parece vergonhoso e imoral que façam esta distinção entre os que mereciam o tiro na nuca, a bomba no carro e os que foram vítimas por acaso, porque não mereciam", afirmou ao canal público TVE a presidente da Associação das Vítimas do Terrorismo, María del Mar Blanco.

A organização de Blanco, irmã de Miguel Ángel Blanco, um vereador do Partido Popular (PP) sequestrado e assassinado pelo ETA em 1997, um crime que comoveu o país e provocou manifestações gigantescas de repúdio, pediu "responsabilidades individuais" para solucionar os crimes do ETA "pendentes de esclarecimento".

Para o governo do primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy, que desde 2011 rejeita qualquer tipo de negociação com o grupo, a declaração do ETA "não é mais que outra consequência da força do Estado de Direito que venceu o ETA com as armas da democracia",

"É bom que o grupo terrorista peça perdão às vítimas, porque as vítimas, sua memória e sua dignidade foram determinantes na derrota do ETA", ressaltou o governo, antes de insistir que "há muito tempo o ETA deveria ter pedido desculpas de forma sincera e incondicional.

Na quinta-feira, o ministro do Interior, Juan Ignacio Zoido, deixou claro que a organização "não vai conseguir nada com sua declaração de dissolução".

O ETA foi criado durante a ditadura de Franco, acusado de reprimir a cultura basca, mas depois da morte do ditador o grupo intensificou suas ações, gerando uma espiral de ódio que também teve a participação de grupos de extrema-direita e associações parapoliciais como os GAL, criados nos anos 1980.

Após tentativas frustradas de negociação e da condenação cada vez maior da sociedade basca à violência, o ETA anunciou o fim da luta armada em 2011 e deve anunciar sua dissolução no primeiro fim de semana de maio, de acordo com o Grupo Internacional de Contato (GIC), formado por personalidades de diferentes países para trabalhar pela paz no País Basco.

O ETA possui quase 300 membros detidos na Espanha, França e Portugal, entre 85 e 100 foragidos e uma dezena de pessoas expulsas pela França, sem documentos.

O grupo deseja a transferência dos detidos para prisões mais próximas do País Basco e espera obter uma alteração da política penitenciária com sua dissolução.

 

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