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Colômbia apreensiva com a fragilidade do processo de paz

O organismo tripartite de controle do cessar-fogo expressou na quinta-feira, em um comunicado, sua "preocupação" com "a morte de duas pessoas das Farc"

Farc: o cessar-fogo e de hostilidades, em vigor desde 29 de agosto passado, pode se romper (John Vizcaino/Reuters)

Farc: o cessar-fogo e de hostilidades, em vigor desde 29 de agosto passado, pode se romper (John Vizcaino/Reuters)

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AFP

Publicado em 18 de novembro de 2016 às 19h23.

A morte de guerrilheiros das Farc na Colômbia, as primeiras documentadas desde a vigência do cessar-fogo, gera preocupações sobre a paz com os rebeldes, com os quais o governo acaba de alcançar um novo acordo para terminar meio século de conflito.

"Isto demonstra quão frágil é o cessar [fogo e de hostilidades] bilateral", declarou à AFP el analista Ariel Ávila, ao advertir para o risco de novos incidentes com membros das Farc, que já começaram a se reunir para a posterior deposição de armas, devido à incerteza gerada pela suspensão do acordo original, rejeitado em um plebiscito em 2 de outubro.

O cessar-fogo e de hostilidades, em vigor desde 29 de agosto passado, "pode se romper (...) porque as condições de concentração não são claras; seja porque as Farc estão sem dinheiro nos acampamentos e tentam arrecadar", disse este especialista da Fundação Paz e Reconciliação.

O organismo tripartite de controle do cessar-fogo expressou na quinta-feira, em um comunicado, sua "preocupação" com "a morte de duas pessoas das Farc" e anunciou uma investigação sobre "os fatos ocorridos em 13 de novembro" em Santa Rosa (Bolívar, norte), um dia depois de ser firmado um novo acordo em Cuba, sede das negociações de paz iniciadas em 2012.

Esse Mecanismo de Monitoramento e Verificação (MM&V), integrado por representantes do governo, das Farc e das Nações Unidas, informou que fará "as recomendações necessárias para evitar que se repitam incidentes deste tipo".

Farc pedem "perícia forense"

A guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), a principal e mais antiga do país, pediu esta investigação, assim como a rápida aplicação do novo acordo, que estipula as condições de sua reinserção à vida civil.

"Vamos exigir (...) que se faça uma perícia forense para determinar se houve combate ou não", disse o comandante guerrilheiro Carlos Antonio Lozada em um vídeo difundido na quinta-feira pelas Farc, no qual questiona a versão do Exército de que os guerrilheiros morreram em um confronto.

Nesta sexta-feira, em Bogotá, o representante das Farc no MM&V, Marcos Calarcá, afirmou que na "próxima semana" o mecanismo tem previsto entregar "um informe sobre este tema".

No sábado, ao anunciar o novo acordo de paz, o presidente Juan Manuel Santos destacou que "o cessar-fogo é frágil" e que "a incerteza gera temores e aumenta os riscos de jogar no lixo este imenso esforço".

O representante do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos na Colômbia, Todd Howland, advertiu na quinta-feira para "um aumento da violência em várias partes do país por falta de implementar (...) de forma integral" os acordos de paz.

"Cada dia que passa é uma ameaça", avaliou na mesma coletiva de imprensa Leyner Palacios, representante das vítimas do conflito.

Risco de retomada do conflito

Para o especialista em conflitos armados Frédéric Massé, professor da Universidade Externado de Bogotá, o ocorrido "é um caso isolado" e "não é provável que se rompa o cessar-fogo".

"Mas não deveria se repetir com muita frequência", acrescentou, destacando que "é preciso esperar os resultados da investigação" para determinar se se tratava, segundo indicaram algumas fontes, de guerrilheiros fazendo extorsão. Seria "mais preocupante se por trás houvesse uma diretriz" de líderes das Farc, observou.

Segundo Jorge Restrepo, diretor do centro de análises do conflito Cerac, "isto demonstra que só o desarmamento pode levar a parar por completo as atividades criminosas das Farc".

De acordo com o especialista, os opositores de Santos, liderados pelo ex-presidente de direita Álvaro Uribe, que dirigiu a campanha contra o primeiro acordo, devem levar em conta o "enorme risco" de que se reinicie uma guerra fratricida, que envolveu guerrilhas de esquerda, paramilitares de direita e agentes do Estado, deixando mais de 260.000 mortos, 60.000 desaparecidos e mais de 6,9 milhões de deslocados.

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