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Cisjordânia vive ansiedade prévia ao reconhecimento na ONU

Ramala vive hoje um misto de alegria e ceticismo, consciente tanto do valor simbólico e legal para a Palestina se tornar legal no papel de Estado


	Palestinos protestam em Ramallah na Cisjordânia: após a meia-noite, quando o reconhecimento deve ser anunciado, os sinos das igrejas começaram a soar por toda Cisjordânia
 (©AFP / Abbas Momani)

Palestinos protestam em Ramallah na Cisjordânia: após a meia-noite, quando o reconhecimento deve ser anunciado, os sinos das igrejas começaram a soar por toda Cisjordânia (©AFP / Abbas Momani)

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Da Redação

Publicado em 29 de novembro de 2012 às 17h19.

Ramala - No calor das horas prévias ao previsível reconhecimento da Palestina como Estado observador por parte da Assembleia Geral da ONU, que será votado por volta da meia-noite local, a Cisjordânia vive uma quinta-feira de muita ansiedade, mas também de celebrações.

Ao contrário do último ano, em que o fracassado pedido de adesão plena ao Conselho de Segurança da ONU uniu os cisjordanianos com sua liderança, nesta ocasião se percebe uma maior distância entre a indiferença da rua e a satisfação dos escritórios do governo pelo arrasador apoio à iniciativa.

Ramala vive hoje um misto de alegria e ceticismo, consciente tanto do valor simbólico e legal para a Palestina se tornar legal no papel de Estado, como da ínfima influência que terá no cotidiano de controles militares israelenses, assentamentos judaicos e muros de separação.

Nesta quinta-feira, por volta do meio-dia local, aproximadamente 500 pessoas, em sua maioria rapazes de média idade, compareceram à Praça Arafat de Ramala para acompanhar um ato de apoio à admissão da Palestina como Estado observador, o qual foi marcado pela alegria dos presentes e por canções nacionalistas.

Dirigentes políticos dos movimentos Fatah, liderado pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas; Hamas, Jihad Islâmica e Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) encenaram sobre o palanque o apoio unânime das facções à solicitação, que muda a condição da Palestina nas Nações Unidas de "entidade observadora" para "Estado observador não membro".

Enquanto os presentes agitam as bandeiras palestinas e do movimento nacionalista Fatah, o palco estampava um grande cartaz, escrito "Estado da Palestina ONU" sobre uma imagem de Jerusalém com os rostos de Abbas e do histórico líder Yasser Arafat.

Um dos participantes do ato era Mohammed Suleiman, um trabalhador do Ministério das Relações Exteriores que se mostrava muito convencido das virtudes da iniciativa.


"Hoje se abre o caminho para alcançarmos um Estado palestino independente. Estamos em um dia histórico, a partir do qual Israel terá que tratar a Palestina pela primeira vez como um Estado sob ocupação", declarou Suleiman.

A poucos metros do local, a porta-voz do Governo palestino, Nour Odeh, sublinhava que "a Palestina vai ter pela primeira vez o poder de usar os mecanismos do direito internacional, da comunidade internacional e do sistema da ONU para poder avançar em direção ao Estado da Palestina".

A partir da aprovação do reconhecimento, a Palestina passará a ter um status similar ao do Vaticano, que lhe permitiria o acesso a várias agências das Nações Unidas e a tribunais internacionais, como a Tribunal Penal Internacional (TPI).

O entusiasmo por partes das autoridades oficiais, no entanto, contrasta com o ceticismo nas ruas, como se a esperada vitória por goleada diminuísse a emoção dos espectadores ao invés de alimentar o espírito nacional de um povo sem Estado.

"Ter um Estado sobre o papel é muito importante e falo isso com o coração na mão. Mas, esta coisa da ONU é um pouco frágil... O muro do apartheid, os assentamentos e os bombardeios em Gaza, como os da última semana (...) todo isso não vai desaparecer", apontou Naha, uma trabalhadora de Ramala.

Naha acredita que as pessoas estão "muito menos motivadas" do que em setembro de 2011, quando os palestinos defendiam o status de Estado de pleno direito da ONU. Segundo a trabalhadora, "o impulso da novidade foi perdido".

Entre os entusiasmados aparece Yunis, de 62 anos, que trabalha em um pequeno comércio na movimentada Praça Al Manara, no coração de Ramala.


"A ideia do presidente vai bem, mas amanhã, quando já seremos um Estado, eu voltarei à praça para trabalhar assim como todos os dias", assegurou a comerciante, que trazia em suas mãos um "kufiya", o tradicional lenço palestino que Arafat popularizou no mundo todo.

Outras cidades cisjordanianas também vivenciaram a expectativa do reconhecimento com manifestações, passeatas e atuações musicais.

Na cristã Beit Jala, próxima a Belém, uns 4 mil alunos da escola luterana Talita Kumi percorreram as ruas com um livro que prepararam para lembrar o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre a situação dos palestinos.

No entanto, os atos alcançarão seu ápice por volta das 23h locais (19h de Brasília), quando o presidente Abbas deve pronunciar perante a Assembleia Geral um discurso que será transmitido ao vivo nas principais praças da Cisjordânia. Como peculiaridade, em Belém, o discurso do presidente será projetado sobre o muro que Israel construiu na Cisjordânia ainda em 2003.

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) também organizou alguns eventos festivos em Gaza, governada pelos islamitas do Hamas, e em Jerusalém Oriental, onde vivem uns 250 mil palestinos. No entanto, nesta última cidade - que os palestinos reivindicam como a capital de seu futuro Estado - os eventos não foram divulgados para impedir que as autoridades israelenses os cancelassem.

Após a meia-noite, quando o reconhecimento deve ser anunciado, os sinos das igrejas começaram a soar por toda Cisjordânia.

Em Israel, após meses de ameaças exageradas, as autoridades se preparam uma reação resignada a essa incontrolável derrota.

Neste aspecto, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, assegurou hoje que "não se estabelecerá um Estado palestino sem que Israel seja reconhecido como o Estado do povo judeu", independentemente de "quantos dedos sejam alçados" hoje na Assembleia Geral. 

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