China restringe viagens e reforça medidas para lutar contra coronavírus
Província de Guangdong, a mais populosa da China, impôs neste domingo a seus 110 milhões de habitantes a obrigação de usar máscara respiratória
AFP
Publicado em 26 de janeiro de 2020 às 12h15.
Última atualização em 27 de janeiro de 2020 às 12h03.
A China reforçou, neste domingo (26), suas medidas e restrições para impedir a propagação da epidemia de pneumonia viral que já causou 56 mortes e quase 2.000 infecções, enquanto os Estados Unidos e a França se preparam para evacuar seus cidadãos de Wuhan, epicentro da doença.
Esta cidade de 11 milhões de habitantes está em quarentena desde quinta-feira, assim como grande parte da província de Hubei, da qual é a capital, no centro do país.
Essa medida sem precedentes, que afeta dezenas de milhões de pessoas, tem como objetivo conter a propagação da epidemia, que o presidente chinês Xi Jinping chamou de ameaça "grave".
Fora do epicentro da doença, quatro cidades - incluindo Pequim e Xangai - anunciaram a suspensão da circulação de ônibus de longa distância, uma medida que afetará milhões de pessoas que viajam por ocasião do feriado do Ano Novo Chinês.
Além disso, a província de Guangdong, a mais populosa da China, impôs neste domingo a seus 110 milhões de habitantes a obrigação de usar máscara respiratória.
Essa imposição - também aplicada na província de Jiangxi e em outras grandes cidades - já está em vigor em Wuhan.
Quase todas as mortes foram registradas em Wuhan ou na província de Hubei, mas neste domingo o vírus fez sua primeira vítima fatal em Xangai, grande metrópole financeira do leste do país.
O patógeno se espalhou pela China e por vários outros países do planeta, tão distantes quanto a França, os Estados Unidos ou a Austrália.
O Departamento de Estado americano anunciou hoje que vai fretar voos de Wuhan para São Francisco para sua equipe consular e outros cidadãos americanos da cidade.
Por sua vez, o grupo automobilístico francês PSA anunciou que repatriará seus trabalhadores residentes na região de Wuhan e suas famílias.
As autoridades do Japão e da Coreia do Sul estão estudando medidas semelhantes para seus compatriotas naquela região.
Medo em Wuhan
A China entrou no sábado Ano do Rato, mas as comemorações do Ano Novo foram mínimas e não muito festivas.
Nas ruas de Wuhan não houve fogos de artifício ou dragões, e neste domingo reinava uma atmosfera assustadora em muitos de seus bairros.
Os habitantes da cidade também descrevem nos hospitais um caos digno de um "filme de terror", com equipes sobrecarregadas, pacientes abandonados e uma espera ansiosa e interminável.
Diante dessa situação, a cidade acaba de iniciar a construção de dois hospitais com mil leitos cada, que estarão prontos em tempo recorde de menos de duas semanas.
Em Wuhan, os auto-falantes quebram o silêncio na cidade para transmitir uma série de mensagens das autoridades: "Não acreditem nos boatos. Não espalhem boatos. Se você não se sentir bem, vá ao hospital".
"Vista da minha janela, parece uma cidade fantasma, todas as lojas estão fechadas", disse à AFP por telefone Israt Zahan, um estudante de Bangladesh.
"Eu racionei comida em minha casa. Tenho por dois dias, mas depois não sei o que vou fazer", acrescenta.
Também neste domingo, a China anunciou que proibiu temporariamente o comércio de animais selvagens, já que o novo coronavírus poderia ter aparecido em um mercado onde esses animais eram vendidos para consumo.
Nos Estados Unidos, um terceiro caso de coronavírus foi confirmado no sábado. Trata-se de um homem que está na Califórnia e que esteve em Wuhan.
Os três primeiros casos na Europa foram registrados na França na sexta-feira. Outras infecções confirmadas ou suspeitas foram detectadas na Austrália, Japão, Singapura, Malásia, Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia, Vietnã, Nepal e Canadá.