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China quer transformar o iuane em divisa internacional, mas sem valorizá-lo

O presidente chinês, Hu Jintao, disse que atual sistema monetário mundial é "produto do passado"

Diversos países reclamam do valor do iuane (Arquivo/AFP)

Diversos países reclamam do valor do iuane (Arquivo/AFP)

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Da Redação

Publicado em 17 de janeiro de 2011 às 15h28.

Pequim - Aumenta o debate nos Estados Unidos, a poucas horas da chegada do presidente Hu Jintao a Washington sobre a pretensão da China de fazer do iuane uma divisa internacional, a longo prazo. A estratégia, no entanto, deixa sem resposta a exigência dos Estados Unidos de que o país valorize logo sua moeda.

O governo do presidente Barack Obama e os parlamentares americanos consideram que a baixa cotação do iuane é em parte responsável pelo déficit comercial dos Estados Unidos com a China, que só no mês de em novembro chegou a 25,6 bilhões de dólares.

A China responde dizendo que o desnível cambial deve-se à divisão internacional do trabalho e às restrições impostas pelos Estados Unidos à exportação de tecnologia de ponta.

Sob a pressão conjugada dos Estados Unidos, da União Europeia (UE) e de países emergentes (como o Brasil), a China autorizou em junho passado uma pequena margem de flutuação do iuane, que desde então registrou valorização de 3,6% em relação ao dólar (1,1% no mês passado).

"A China quer contra-atacar a pertinência das acusações ao iuane", disse Alistair Thornton (do IHS Global Insight).

Mas "os passos para uma internacionalização do renminbi (nome oficial do iuane) e uma liberalização da conta de capitais foram pensadas longamente, com aplicação gradual ao longo dos últimos anos", acrescentou.

As restrições atuais aos fluxos de capitais permitem à China, segunda economia mundial, proteger-se de retiradas bruscas do dinheiro de investidores estrangeiros.

"Os objetivos da liberalização, o primeiro dos quais é promover o iuane como divisa internacional, são muito mais importantes que qualquer tentativa de apaziguar as tensões antes de uma visita" como a do presidente Hu aos Estados Unidos, prosseguiu Thornton.

Pequim já deu vários passos no caminho da internacionalização do iuane.

No final do ano passado, autorizou os exportadores chineses a conservar suas divisas para efetuar operações no exterior. Na semana passada, autorizou-os a usá-las para investir fora do país.

As autoridades chinesas emitiram obrigações em iuanes na Bolsa de Hong Kong e o Bank of China propõe operações em iuanes a seus clientes de Nova York. Várias empresas estrangeiras foram autorizadas a participar do mercado de obrigações chinês.

"Essas iniciativas fazem parte de uma estratégia ampla para estimular o uso internacional do renminbi e não estão estreitamente vinculadas à visita de Hu", opinou Mark Wiliams, analista da empresa londrina Capital Economics.

Um projeto piloto permite aos moradores da ativa cidade comercial de Wenzhou (leste) investir até 200 milhões de dólares por ano e por pessoa no exterior.

Qu Hongbin, economista do banco HSBC, vê nesta medida um "sinal anunciador da conversibilidade do iuane no mercado de capital".

"A internacionalização do iuane avançou rapidamente", considera Xu Mingqi da Academia de Ciências Sociais de Xangai.

Hu Jintao, em artigo divulgado domingo nos jornais The Washington Post e The Wall Street Journal, afirmou que deverá passar muito tempo antes de o iuane ter o mesmo peso que o dólar ou o euro, destacando que o atual sistema monetário mundial é "produto do passado".

As medidas de Pequim não parecem, de qualquer forma, apaziguar os legisladores americanos. Três senadores democratas apresentam nesta segunda-feira - véspera da chegada de Hu - um projeto de lei que pretende "responder com vigor às distorções monetárias, com um impacto negativo e injusto no comércio" internacional dos Estados Unidos.

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