Charges de Maomé são encaradas como nova provocação
Após a divulgação do vídeo anti-Islã ''A Inocência dos Muçulmanos'', as caricaturas do ''Charlie Hebdo'' geraram mais tensão em países muçulmanos como o Egito
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2012 às 20h35.
Cairo - A publicação de charges de Maomé em um jornal francês levou instituições e grupos islâmicos do Egito a condená-las nesta quarta-feira, classificando-as como ''uma nova provocação''.
Após a divulgação do vídeo anti-Islã ''A Inocência dos Muçulmanos'', as caricaturas do ''Charlie Hebdo'' geraram mais tensão em países muçulmanos como o Egito, que advertiram sobre as possíveis consequências desta segunda ofensa.
O porta-voz da Irmandade Muçulmana, Mahmoud Gazlan, disse à Agência Efe que as charges são ''uma nova cruzada de ódio que não respeita a sacralidade do Islã''.
Segundo Gazlan, ''o objetivo desta campanha é provocar os muçulmanos, especialmente os países da primavera árabe, para prejudicar a sua estabilidade incipiente''.
O porta-voz lamentou que o Ocidente não respeite ''os sentimentos e símbolos'' dos muçulmanos, e alegou que eles o fazem com o cristianismo.
Para Gazlan, é paradoxal que exista uma lei no Ocidente punindo a negação da existência do Holocausto e não tenha uma que condene as ofensas contra as religiões.
A capa do ''Charlie Hebdo'' mostra um muçulmano em cadeira de rodas empurrado por um judeu, sob o título de ''Intocáveis'', em referência ao filme de maior bilheteira da França, enquanto nas páginas interiores o profeta aparece nu e em atitudes indecentes.
As caricaturas levaram a França a decretar o fechamento de suas representações diplomáticas, centros culturais e escolas em mais de 20 países considerados sensíveis. A instituição Al Azhar, a mais prestigiada do Islã sunita, também criticou a publicação das charges.
Em comunicado, o ímã da Al Azhar, o xeque Ahmed al Tayeb, expressou sua ''rejeição absoluta'' e a de todos os muçulmanos pela insistência do jornal francês em divulgar ''caricaturas ofensivas ao Islã e a seu profeta''.
Para Tayeb, a liberdade de expressão não deve prejudicar a liberdade de outros, já que assim se transforma em ''um excesso, em menosprezo e ignorância sobre as religiões e culturas''.
O xeque afirmou, além disso, que a publicação das caricaturas reflete ''a negação do grande papel desempenhado pelo Islã e sua civilização''.
A Liga Árabe também expressou sua condenação da publicação, que acontece em um momento sensível após os distúrbios em vários países pelo vídeo ''A Inocência dos Muçulmanos''.
O secretário-geral da organização, Nabil al Araby, considerou que as charges ''representam uma provocação de muito mal gosto que aumenta ainda mais a complexidade da situação de tensão no mundo islâmico após a difusão do vídeo''.
Segundo Araby, esse tipo de ofensa religiosa se caracteriza pela discriminação e alimenta a violência e o extremismo, por isso pediu tolerância, compreensão e respeito à cultura dos demais.
A Liga Árabe está preparando um convênio internacional para impor sanções àqueles que insultam as religiões, anunciou Araby em entrevista coletiva hoje no Cairo.
O dirigente da organização árabe destacou que iniciou contatos com a União Europeia (UE), a União Africana (UA) e a Organização de Cooperação Islâmica (OCI) para lançar um comunicado que ''proíba o insulto às religiões''.
O respeito às religiões será um dos principais assuntos que Araby abordará na semana que vem durante a Assembleia Geral das Nações Unidas.
A nova polêmica acontece um ano depois do incêndio criminoso da redação do ''Charlie Hebdo'', em Paris, após a publicação de caricaturas de Maomé.
O temor de novos incidentes violentos levou o ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, a considerar ''pouco inteligente'' a atitude do jornal parisiense.
Fabius afirmou no Cairo, onde está em viagem oficial, que a publicação das caricaturas ''põe mais lenha na fogueira''.