Chances de Trump ganhar a eleição diminuem, diz "gênio da estatística"
As chances de Trump nesta eleição americana são ainda menores do que eram contra Hillary Clinton em 2016, segundo o FiveThirtyEight
Carolina Riveira
Publicado em 30 de outubro de 2020 às 13h47.
Última atualização em 31 de outubro de 2020 às 14h11.
Em um mês, as chances do presidente americano, Donald Trump , de vencer a eleição diminuíram bruscamente. Ao menos, é o que mostra o modelo estatístico do site americano FiveThirtyEight, do estatístico Nate Silver.
As chances de reeleição do presidente caíram para 10%, segundo a projeção do FiveThirtyEight. Em agosto, quando Silver lançou seu modelo de projeção para as eleições deste ano, Trump tinha 30% de chance.
A eleição americana acontece em 3 de novembro, na próxima terça-feira, e um terço dos eleitores já votou com antecedência.
Foram esses mesmos 30% que Trump tinha na projeção do site em 2016, às vésperas da eleição na qual derrotou Hillary Clinton. Naquele momento, por incrível que pareça, a projeção do FiveThirtyEight era das mais pessimistas: houve quem desse 99% de chance de vitória de Clinton.
Nate Silver ficou famoso em 2008 ao acertar as previsões para 49 dos 50 estados americanos nas eleições presidenciais. Seu trabalho e o de todos os estatísticos foi colocado em xeque na última eleição, mas suas previsões ainda estão entre as mais observadas.
Como se sabe, a eleição de 2016 terminou com vitória de Trump no colégio eleitoral, isto é, o presidente conseguiu vencer em quase todos os estados decisivos -- os que importam no modelo eleitoral americano. Hillary Clinton até ganhou no total nacional de votos (48% a 46%), mas não nesses estados importantes.
Agora, com 10% de chance, Trump chega a seu menor patamar de chances no FiveThirtyEight nesta eleição e também incluindo a de 2016.
Há quatro meses, quando fez a primeira previsão sobre esta eleição, Silver apontou em artigo que as chances de Trump poderiam aumentar caso a pandemia fosse amenizada até novembro, os empregos voltassem ou uma vacina fosse confirmada. Nenhuma dessas coisas aconteceu, o próprio presidente pegou covid-19 no meio do caminho e uma segunda onda da pandemia ameaça os EUA, com recorde de novos casos ontem.
Mas, como 2016 mostrou, mesmo uma porcentagem pequena de chances ainda é alguma coisa. Desta vez, os estatísticos afirmam também que reformularam algumas pesquisas para minimizar os erros vistos em 2016.
Pela média das pesquisas hoje, Biden venceria com sete pontos de vantagem nacionalmente, e aparece vencendo também nos estados decisivos. Nos estados, porém, a margem mais apertada, o que abre chances para a vitória de Trump.
Por outro lado, o modelo eleitoral americano favorece Trump porque os estados decisivos podem ser mais "de direita" do que a média nacional. Assim, como mostrou uma análise exclusiva da EXAME, um presidenciável americano poderia ser eleito, no limite, com só 23% dos votos válidos. No modelo brasileiro, por exemplo, precisaria da maioria, isto é, 50% mais um voto.
É por isso que a chance de vitória de Trump está em alguns estados, e não no país inteiro. Se o presidente conseguir se reeleger, há uma chance grande de que o faça novamente ganhando de forma apertada em alguns estados e sem ganhar no voto popular nacionalmente, o mesmo que aconteceu em 2016.
No modelo estatístico do FiveThirtyEight, as chances de Trump ter maioria no voto popular são só de 3%. As de Biden são de 97%. Ou seja, Trump tem mais chance de ganhar a eleição (10%) do que tem de ganhar o voto popular (3%).
Um dos estados que o FiveThirtyEight aposta que pode decidir a eleição é a Pensilvânia. Por lá, Biden lidera nas pesquisas com cinco pontos de vantagem. Mas, se ocorrer um erro nos patamares de 2016, Trump pode vencer -- obrigando Biden a vencer em outros estados onde tem hoje menos chance.
Como funciona o colégio eleitoral
Pelo modelo eleitoral americano, não valem só os votos gerais do país; a depender do tamanho da população, cada estado tem uma quantidade de votos dentre os 538 do chamado colégio eleitoral. Em todos os estados (com exceção de dois), o vencedor fica com todos os votos do colégio eleitoral, não importa o quão apertada tenha sido a eleição.
Em 2016, por exemplo, Trump também levou o Michigan, um dos estados historicamente em disputa nas eleições. O presidente venceu por só 11.000 votos de diferença, mas foi o suficiente para lhe garantir os 16 votos do estado no colégio eleitoral. Antes de 2016, a última vez que um republicano tinha ganhado no Michigan havia sido com George H. W. Bush (o “Bush pai”), em 1988.
Isso faz com que alguns estados sejam mais importantes que outros na campanha eleitoral. São os chamados swing states, que podem ser ou republicanos ou democratas. Já estados que sempre votam no mesmo partido, como a Califórnia e Nova York (nos democratas), ou Idaho ou Tennessee (nos republicanos), já estão praticamente "garantidos" e não desempatam a eleição.
Os swing states também podem mudar de eleição para eleição. Neste ano, uma das maiores surpresas é o Arizona, de pouco mais de 7 milhões de habitantes e onde um democrata não ganha desde Bill Clinton em 1996. Biden tem dois pontos de vantagem no Arizona nas pesquisas. O Texas também está com disputa mais apertada que o normal, e Trump tem somente um ponto de vantagem até esta sexta-feira, 30.
Neste ano, a missão de Biden é justamente ganhar nesses notáveis estados. De todos os swing strates mais tradicionais, como Ohio, Carolina do Norte ou Iowa, a Flórida é um dos mais importantes, porque é um estado historicamente decisivo e o terceiro com mais votos no colégio eleitoral (29, atrás de Texas e Califórnia). Quem ganhou na Flórida virou também presidente em quase todas as vezes desde 1964 (a única exceção foi Bill Clinton em 1992). Mas cada swing state pode significar a diferença entre a vitória ou a derrota.
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