De acordo com o chanceler russo, Moscou está aberta a negociações sobre o fim do conflito, mas não fez nenhum pedido neste sentido (AFP/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de dezembro de 2022 às 10h44.
Última atualização em 2 de dezembro de 2022 às 10h45.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, acusou os Estados Unidos e seus aliados da Otan de se envolverem diretamente na guerra na Ucrânia ao fornecer armamentos e treinar soldados do país do Leste Europeu.
"Você não deveria dizer que os EUA e a Otan não estão participando desta guerra. Você está participando diretamente disso", disse Lavrov a repórteres ocidentais durante uma coletiva de imprensa virtual na quinta-feira, 1°."E não apenas fornecendo armas, mas também treinando pessoal. Está treinando os militares (ucranianos) em seu território, nos territórios do Reino Unido, Alemanha, Itália e outros países."
De acordo com o chanceler russo, Moscou está aberta a negociações sobre o fim do conflito, mas não fez nenhum pedido neste sentido. "Nunca pedimos conversas, mas sempre dissemos que estamos prontos para ouvir aqueles que estão interessados em um acordo negociado", disse ele.
Questionado se uma reunião entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, era possível, também na quinta-feira, Biden afirmou que poderia conversar com Putin após consultar a Otan, se o russo estivesse disposto a negociar a paz. Lavrov respondeu apenas que a Rússia não evita contatos, mas acrescentou: "ainda não ouvimos nenhuma ideia séria".
Durante a coletiva de imprensa online, Lavrov protestou contra os EUA e seus aliados da Otan, acusando-os de atropelarem o direito internacional ao tentar isolar e destruir a Rússia. Ele afirmou que Washington tentou desencorajar outros países, incluindo a Índia, de manter laços estreitos com Moscou, mas disse que essas tentativas falharam.
Comentando sobre a decisão da Rússia de adiar uma rodada de negociações de controle de armas nucleares com os americanos, marcada para esta semana, Lavrov afirmou que "é impossível discutir estabilidade estratégica hoje em dia ignorando tudo o que está acontecendo na Ucrânia".
"O objetivo foi anunciado para derrotar a Rússia no campo de batalha ou mesmo destruir a Rússia", disse ele. "Como pode o objetivo de derrotar a Rússia não ter significado para a estabilidade estratégica, considerando que eles querem destruir um ator chave da estabilidade estratégica?", acrescentou.
O ministro russo também comentou sobre a frente de batalha na Ucrânia e defendeu a estratégia militar de bombardear com mísseis instalações de energia e outras infraestruturas críticas do país vizinho. Segundo Lavrov, os ataque visam enfraquecer o potencial militar ucraniano e inviabilizar os carregamentos de armas ocidentais.
"A infraestrutura visada por esses ataques é usada para garantir o potencial de combate das forças armadas ucranianas e dos batalhões nacionalistas", disse Lavrov, acrescentando que eliminar as instalações de energia diminui a capacidade do país "matar russos".
A Ucrânia e o Ocidente acusam os bombardeios coordenados pelo Kremlin de visar infraestruturas civis, com o objetivo de causar sofrimento ao povo ucraniano durante o inverno e forçar o governo de Kiev a negociações de paz nos termos de Moscou.
A cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, que as forças da Rússia tomaram nos primeiros dias do conflito e se retiraram no mês passado, está entre os locais visados. Um bombardeio russo na quinta-feira cortou a energia na cidade recém-libertada poucos dias depois de ela ter sido restaurada.
Semanas antes da retirada permitir que as forças ucranianas recuperassem Kherson, a Rússia declarou toda a região como parte de seu território, juntamente com outras três regiões, após os referendos chamados às pressas e apontados como farsas na Ucrânia e o Ocidente.
Questionado sobre como os ataques à infraestrutura em Kherson e outras áreas cumprem o objetivo declarado de Moscou de proteger a população de língua russa da Ucrânia, Lavrov respondeu traçando paralelos com a Batalha de Stalingrado durante a 2ª. Guerra. "A cidade de Stalingrado também fazia parte do nosso território e derrotamos os alemães para fazê-los fugir", disse ele.
LEIA TAMBÉM