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Cessar-fogo em Gaza: o que se sabe sobre as negociações para libertar reféns e suspender os combates

Proposta começa a ganhar tração à medida que mediadores pressionam por um acordo antes da posse de Trump e partes parecem dispostas a chegar a um consenso

Agência o Globo
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Publicado em 13 de janeiro de 2025 às 13h36.

As negociações de alto nível sobre o cessar-fogo entre Israel e Hamas em Gaza pareciam estar ganhando impulso nesta segunda-feira, enquanto mediadores árabes e americanos pressionavam por um acordo para interromper os combates no enclave e libertar os reféns mantidos pelo Hamas antes que o presidente eleito Donald Trump tome posse em 20 de janeiro. O republicano tem advertido que os dois lados "PAGARÃO CARO" se os reféns não forem libertados dentro do prazo, sem, contudo, detalhar a ameaça.

Ainda não estava claro se as partes tinham chegado a uma resolução sobre as disputas centrais que se mostraram intransponíveis em rodadas anteriores de negociações, mas as autoridades informadas sobre as conversas expressaram um otimismo cauteloso nos últimos dias sobre a possibilidade de concluir um acordo.

Durante meses, em repetidas rodadas de negociações, as esperanças aumentaram e foram frustradas dias depois, com Israel e o Hamas culpando um ao outro pelo impasse.

Se um acordo for alcançado, isso trará algum alívio para os palestinos em Gaza, que têm suportado condições miseráveis em campos de refugiados e bombardeios implacáveis por parte de Israel, e para as famílias dos reféns sequestrados em Israel durante o ataque terrorista, que têm sofrido por meses imaginando o destino de seus entes queridos.

Quem faz parte das negociações?

"Os principais mediadores das negociações são o Catar e o Egito, que transmitem mensagens entre Israel e o Hamas. O primeiro-ministro do Catar, o xeque Mohammed bin Abdulrahman bin al-Thani, e o diretor do Serviço Geral de Inteligência do Egito, o major-general Hassan Rashad, são as principais autoridades que representam seus países nas negociações".

"David Barnea, chefe do serviço de inteligência externa de Israel, o Mossad, é um dos principais negociadores do Estado judeu, ao lado de Ronen Bar, chefe da agência de segurança interna israelense, o Shin Bet, e do major-general Nitzan Alon, do Exército israelense. Ophir Falk, assessor de política externa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, também participou de importantes reuniões relacionadas às negociações".

"Khalil al-Hayya, uma autoridade sênior do Hamas sediada em Doha, no Catar, é o principal negociador do grupo e tem mantido contato com autoridades do Catar e do Egito sobre os detalhes de um possível acordo".

"Os Estados Unidos tem usado seu poder de influência para incentivar Israel e o Hamas a assinarem um acordo. O diretor da CIA, William Burns, e Brett McGurk, uma autoridade sênior da Casa Branca, cruzaram o Oriente Médio, pressionando por um avanço nas negociações. Steve Witkoff, enviado de Trump para o Oriente Médio, também fez viagens ao Catar e a Israel, reunindo-se com as principais autoridades desses países".

O que eles negociam?

As autoridades israelenses esperam garantir a libertação de pelo menos alguns dos cerca de 100 reféns mantidos em Gaza desde o ataque terrorista liderado pelo Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra no enclave palestino. Dos cativos que seguem no enclave, 34 foram declarados mortos pelo Exército israelense.

Os líderes do Hamas querem pôr fim à guerra em Gaza, que enfraqueceu seriamente o braço armado e o governo do grupo, provocou o deslocamento de quase 2 milhões de pessoas (basicamente toda a população de Gaza), e reduziu as cidades a escombros. As autoridades do Hamas também disseram que estão buscando uma retirada israelense completa do enclave, o retorno das pessoas deslocadas que estão no sul para o norte, a entrada de materiais para a reconstrução, e a liberdade dos prisioneiros palestinos.

Nesta segunda-feira, o Hamas disse em um comunicado que os prisioneiros palestinos seriam libertados em breve. As partes vêm discutindo há muito tempo um acordo que teria três estágios no que as autoridades árabes e americanas esperam que resulte no fim da guerra.

Quais são os maiores obstáculos?

"Um grande obstáculo para o sucesso das negociações tem sido a durabilidade de um cessar-fogo. Enquanto o Hamas exigiu um fim abrangente para a guerra, Netanyahu disse que quer um acordo "parcial" que permita a Israel retomar a guerra depois de libertar os reféns".

"Israel tem exigido uma linguagem vaga no texto da proposta que deixe espaço para a retomada dos combates em algum momento, de acordo com um palestino familiarizado com o assunto e duas autoridades israelenses. Netanyahu teme que seus parceiros de coalizão de extrema-direita possam derrubar seu governo e colocar em risco seu futuro político se ele concordar com um acordo que encerre a guerra em Gaza, observaram analistas".

"Em uma publicação na rede social X nesta segunda-feira, o ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, descreveu "o acordo emergente" como "uma catástrofe para a segurança nacional" de Israel e declarou que não o apoiaria".

"O Hamas não sugeriu que estaria disposto a ceder em sua exigência de acabar com a guerra. Osama Hamdan, uma autoridade sênior do Hamas, disse em uma reunião na Argélia na semana passada que deve haver "um fim absoluto para a agressão"".

"Outro obstáculo tem sido o quão longe em Gaza Israel terá permissão de ir para realizar operações militares na primeira fase do acordo. O Estado judeu quer ter a capacidade de se movimentar até 1,5 km dentro de Gaza, disseram os dois oficiais militares israelenses e o palestino familiarizados com o assunto. O Hamas queria que qualquer incursão fosse limitada a 500 metros da fronteira, segundo o palestino. As autoridades israelenses, no entanto, disseram que Israel e o Hamas estavam agora perto de um acordo que permitiria a Israel realizar operações militares na primeira fase até 1 km dentro de Gaza".

"Israel exigiu do Hamas uma lista dos reféns que permanecem vivos. Sem isso, dizem as autoridades israelenses, não pode haver acordo sobre quantos prisioneiros palestinos Israel estaria disposto a libertar em troca. Até a manhã de domingo, Israel não havia recebido essa lista, de acordo com uma das autoridades familiarizadas com o assunto. Na semana passada, representantes do Hamas indicaram que o grupo havia aprovado uma lista israelense de 34 reféns a serem libertados na primeira etapa de um acordo, mas não especificaram quantos deles estavam vivos".

Mas o grupo concordou com a solicitação de Israel de incluir 11 indivíduos contestados na lista de reféns a serem libertados na primeira fase de um acordo. Israel classifica esses indivíduos como civis, mas o Hamas os considera soldados, de acordo com os dois oficiais israelenses e o palestino. Israel está avaliando a exigência do Hamas de que os 11 sejam tratados como soldados que seriam trocados por um número maior de prisioneiros palestinos do que os libertados por reféns civis.

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