Fiéis observam helicóptero que transporta Bento XVI para Castel Gandolfo: "Significa muito para nós que o Papa tenha escolhido despedir-se do público aqui, é um dia muito emocionante", afirma Patrizia Gasperini. (Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de fevereiro de 2013 às 17h40.
Castel Gandofo - A cidade de Castel Gandolfo, perto de Roma, vivenciou nesta quinta-feira a experiência de ser palco do último pronunciamento do primeiro Papa em 700 anos a renunciar ao cargo.
A última bênção de Bento XVI deixou emocionados as centenas de fieis congregados nesta cidadezinha pitoresca e localizada a cerca de 30km de Roma.
Foi da varanda do terceiro andar da imponente fachada virada para a praça da cidade que Joseph Ratzinger acenou pela última vez como o papa Bento XVI.
"Significa muito para nós que o Papa tenha escolhido despedir-se do público aqui, é um dia muito emocionante", afirma Patrizia Gasperini, 40 anos, que trabalha numa loja de souvenirs a alguns passos das portas da casa, que se fechará às 19h (hora local) para marcar o fim do pontificado de Bento XVI.
"Nós tivemos o privilégio de descobrir ao longo dos anos um aspecto mais humano de sua personalidade e nós nos apegamos a ele", explica Patrizia, dizendo que sua filha de 8 anos, batizada Benedetta em homenagem ao Papa, escreveu com os colegas da escola uma carta de adeus ao pontífice.
"Obrigada Bento, nós estamos com você!", proclama uma inscrição em letras prateadas colocada ao lado da pequena igreja da casa, onde hordas de jornalistas já estão presentes.
Segundo os moradores de Castel Gandolfo, Bento XVI, que passará os dois primeiros meses de sua aposentadoria na cidade, não inspirou emoções intensas nem conquistou grandes multidões como seu predecessor João Paulo II.
"João Paulo II era uma pessoa muito calorosa, ele conquistava especialmente os jovens. Bento XVI é mais reservado, e menos peregrinos vieram aqui para vê-lo", notou Simone Piloto.
Mas a decisão do papa alemão de renunciar ao trono de São Pedro aos 85 anos ao final de oito anos de um pontificado tumultuado, mudou a opinião de alguns deles, segundo os quais ele teria se recusado a se envolver nos escândalos de uma Igreja em crise.
"Nós descobrimos que por trás do aspecto frio de esconde um homem honesto. Ele falou ontem dos mares tormentados de seu pontificado e eu acredito que agora ele deve dizer o que sabe", estima Veronica Radoi, 30 anos, que gerencia um pequeno restaurante.
O centro de ruas de pedra de Castel Gandolfo sempre viveu em simbiose com a residência papal: os guardas suíços encarregados de garantir a segurança do papa frequentam os bares e restaurantes locais, assim como os funcionários que trabalham na propriedade de 55 hectares: jardineiros, auxiliares de manutenção...Uma proximidade que dá espaço, inclusive, para confidências e rumores.
"Eu nasci aqui, vi cinco papas irem e virem, mas eu não esperava conhecer um sexto", vangloriou-se Marisa, 80 anos, sentada sob o sol na frente de casa antes do início das cerimônias.
"Bento XVI é um homem bom, mas ele teve um pontificado horrível e difícil. O próximo deverá ser muito forte", suspirou.