Mundo

Explosão em Beirute deixa casa de Carlos Ghosn destruída

Ex-presidente da aliança Renault-Nissan se refugiou em Beirute depois de fugir da Justiça japonesa, em dezembro

Beirute: casa onde vive Carlos Ghosn foi destruída (Mohamed Azak/Reuters)

Beirute: casa onde vive Carlos Ghosn foi destruída (Mohamed Azak/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de agosto de 2020 às 21h40.

Última atualização em 4 de agosto de 2020 às 22h34.

A casa onde vive o executivo brasileiro Carlos Ghosn, ex-presidente da aliança Renault-Nissan, que se refugiou em Beirute depois de fugir da Justiça japonesa, em dezembro, foi destruída pela explosão que ocorreu nesta terça-feira, 4, na capital do Líbano. "Estamos todos bem, mas a casa está destruída", disse Carole Ghosn, esposa de Carlos, ao Estadão. "Beirute inteira está destruída."

A casa cor de rosa em estilo colonial, que ficou conhecida no mundo inteiro por ser o ponto de encontro de jornalistas que foram cobrir a primeira entrevista de Ghosn depois de ele ter chegado ao Líbano, fica em um bairro de classe média alta de Beirute, a cerca de 5 quilômetros de distância do porto da cidade, uma área revitalizada que também conta com vários restaurantes de luxo e hotéis internacionais. Mesmo assim, sofreu com os danos da explosão.

"Tempestade perfeita"

O executivo virou a principal atração do Líbano em janeiro de 2020, ao dar sua primeira entrevista após ter fugido do Japão, onde era acusado de fraude pela Nissan. Ele foi preso no fim de 2018, ao chegar de uma viagem internacional. Permaneceu alguns meses em um centro de detenção e fugiu da prisão domiciliar em Tóquio em dezembro do ano passado.

Mas Carlos Ghosn chegou ao Líbano em um momento de "tempestade perfeita" para a economia do país. Os cidadãos libaneses enfrentam controles de capital que impedem os saques de seu saldo no banco.

Não é para menos que Ghosn, com sua fama de bom administrador, chegou a ser sendo visto por alguns políticos libaneses como uma espécie de tábua de salvação para a crise administrativa nacional, que sofre com falta de liquidez dos bancos para honrar os saques dos cidadãos. Ele negou, no entanto, ter interesse em ocupar algum cargo oficial. E tem mantido um perfil discreto ao longo do ano. Ainda mantém alguns negócios no Líbano, entre eles uma vinícola no interior do país.

Sem liquidez

Com várias trocas de govenro nos últimos anos, o Líbano vive uma crise político-econômica. O problema agora sentido no dia a dia da população reflete a "bola de neve" de uma economia que, desde o fim da guerra civil, entre 1975 e 1990, se baseia em empréstimos internacionais. Para atrair moeda forte, o governo libanês prometeu juros altos sobre depósitos em dólar. Na hora de pagá-los, vem tomando emprestado dos cidadãos. Diretamente de suas contas.

Em janeiro, quem precisava trocar dinheiro local por dólares enfrentava uma difícil sensação. O Estado foi a algumas casas de câmbio. A maioria delas apenas troca dólares por moeda local, mas não faz o contrário. Até hoje, a economia do Líbano funciona em um sistema de câmbio híbrido, em que o dólar é altamente aceito no dia a dia - por isso, as pessoas faziam seus depósitos nos bancos na moeda americana.

Restrições e protestos

A crise, que elevou muito o desemprego, levou a protestos em massa em 2019. "Em algum momento, essa injeção de capital (estrangeiro) tinha de acabar - e esse ponto veio no fim de 2019 depois de uma série de choques negativos", explicou o economista libanês Ishac Diwan, em artigo publicado no site Project Sindicate, especializado em análises político-econômicas.

Um dos principais especialistas no Oriente Médio, Diwan é professor da École Normale Supérieure, de Paris. Segundo ele, quase sem indústrias e com importações anuais que equivalem a 400% do PIB, o Líbano vive hoje o que parece "a construção de uma grande depressão". O país é uma das economias mais frágeis do Oriente Médio. Tem 6 milhões de habitantes, incluindo 1 milhão de refugiados sírios que chegaram nos últimos anos.

Infraestrutura

A questão econômica se soma a problemas que foram ignorados durante muito tempo, principalmente na infraestrutura. Nos seis dias que a reportagem do Estado permaneceu no Líbano, em janeiro foi comum que a cidade sofrer quatro ou cinco "apagões" por dia.

Logo em seguida, pelo menos nos bairros de maior poder aquisitivo, um sistema de geradores costuma restabelecer o fornecimento. No entanto, no período de um minuto que geralmente esse processo leva, pessoas ficam presas em elevadores dos edifícios.

Essa "garantia" dos geradores, no entanto, não sai barato. Quem pode paga duas contas de luz - a do sistema que deveria dar conta do consumo e a dos geradores. Quem não pode, fica no escuro. Mesmo em bairros chiques, como em Achrafieh, onde reside Carlos Ghosn, é possível ver "gatos" fora dos edifícios. São as ligações improvisadas feitas para fazer a energia dos geradores chegar até as casas.

Tensão

A tensão com a erupção de eventuais protestos é constante. Na área mais nobre de Beirute, onde ficam o Parlamento, sedes de bancos e lojas de grifes de luxo, a tensão é palpável. A reportagem circulou pela área nesta sexta-feira. Militares armados com metralhadoras guardam pontos de checagem nos quais quem entra e sai precisa explicar o que está fazendo.

Em uma praça próxima ao Parlamento, alguns grupos de manifestantes ainda acampam, mas a chance de conseguirem chegar perto de edifícios oficiais é pequena diante da constante vigilância ao redor deles. Isso prejudicou o comércio da região. Diante da dificuldade de circulação na área, algumas lojas ficaram isoladas, depois das barricadas, e agora há muitos pontos comerciais vagos.

Acompanhe tudo sobre:Carlos GhosnExplosõesLíbanoNissanPeugeot

Mais de Mundo

Governo da Alemanha enfrenta voto de confiança que deverá antecipar eleições no país

Marine Le Pen avalia que o “método” de Bayrou parece “mais positivo” que o de Barnier

Bashar al-Assad nega ter fugido de forma 'premeditada' da Síria

Assad enviou US$ 250 milhões por avião a Moscou, diz Financial Times