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Campanha de Maduro aposta em etarismo contra candidato da oposição: 'Velho decrépito'

A 20 dias das eleições, episódios de hostilização crescem contra Edmundo González Urrutia, que lidera pesquisas de intenção de voto após herdar o capital político de María Corina Machado

Nicolas Maduro (Pedro Rances Mattey/Anadolu/Getty Images)

Nicolas Maduro (Pedro Rances Mattey/Anadolu/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 9 de julho de 2024 às 18h18.

Última atualização em 9 de julho de 2024 às 18h22.

A campanha eleitoral na Venezuela subiu alguns decibéis nos últimos dias. A habitual retórica agressiva do vice-presidente do partido governista, Diosdado Cabello, foi acompanhada pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e seu principal operador político, Jorge Rodríguez. No Palácio de Miraflores, sede do governo, o chavismo se surpreendeu com as pesquisas de intenção de voto que colocam Edmundo González Urrutia, principal candidato da oposição, à frente de Maduro.

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Para os governistas, um desconhecido não seria capaz de ofuscá-los em tão pouco tempo. Mas Edmundo González, em apenas alguns meses, herdou quase todo o capital político de María Corina Machado, líder indiscutível da oposição que não foi autorizada a participar das eleições presidenciais, em 28 de julho. A situação tem provocado muita incerteza: no momento, não se sabe como o chavismo agiria no caso de uma vitória da oposição.

O slogan do governo nos últimos dias tem sido claro. Maduro e Rodríguez atacaram os 74 anos de González. Maduro, que tem 61 anos, não mediu palavras durante um comício no estado de Lara no sábado:

— Há um velho decrépito que quer tomar o poder.

Pouco depois, o líder da oposição respondeu:

— Vamos construir um país onde o presidente não insulte.

González também teve de lidar com insultos de funcionários públicos, um setor dominado pelo chavismo.

Ao contrário de María Corina, que precisa pegar a estrada para chegar a eventos de campanha porque está proibida de embarcar em voos comerciais, González viajou com sua esposa de avião, na classe econômica, para comícios no interior do país. No sábado, em sua última rota, ele foi hostilizado ao embarcar em um voo em direção a Barinas, pela companhia aérea estatal Conviasa.

— O senhor não tem vergonha de viajar conosco depois que nos tomaram um avião da Emtrasur (o avião venezuelano retido em 2022 na Argentina com tripulantes iranianos e entregue este ano aos Estados Unidos), depois de ter destruído a economia do país — ouve-se um funcionário lhe dizer do balcão da companhia aérea em um vídeo que se espalhou pelas redes sociais, responsabilizando a oposição pelas sanções internacionais de que o país é alvo. — E se retivermos seu cartão de embarque e o senhor não viajar?

Em seguida, um comissário de bordo reforçou o coro, dizendo na frente de todos os passageiros que embarcavam:

— Se eu fosse o senhor, não viajaria aqui depois de pedir sanções. Esta é uma companhia aérea do governo: vocês não têm vergonha.

A ambos, Gonzalez respondeu com silêncio.

Uma mobilização oposicionista desse calibre não é vista desde 2019, na época de Juan Guaidó, que deixou de ser um desconhecido para se tornar a esperança da oposição — embora no final fosse uma alternativa frustrada. Medindo a força nos comícios, fica claro que o chavismo regrediu em sua base e que María Corina Machado está centrifugando um enorme apoio popular que se transferiu para González, o nome que eles permitiram que fosse inscrito nas cédulas de votação.

A clareza dos números, entretanto, não permite que se desenhem cenários claros. O presidente colombiano, Gustavo Petro, tenta fazer com que Maduro e a oposição assinem um acordo no qual se comprometam a respeitar os resultados, sejam eles quais forem. Agora, os Estados Unidos, com quem Maduro concordou em conversar novamente, entraram em cena mais uma vez.

O chavismo faz campanha criticando seu próprio governo ("precisamos acabar com a corrupção e a ociosidade") e afirmando que os problemas econômicos são culpa da oposição, que, segundo eles, defendeu a imposição de sanções pelos Estados Unidos. O partido governista tem se apoiado na ideia de que somente seu triunfo garantirá a paz no país. Eles repetem isso várias vezes para deixar claro que não estão dispostos a imaginar um cenário em que percam. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, disse dias atrás que a revolução bolivariana não pode ser interrompida agora.

O próprio opositor tentou esclarecer a incerteza sobre o que enfrentaria no dia seguinte a uma eventual vitória. González afirmou nas redes sociais que a reinstitucionalização do país será uma prioridade, mas que isso será feito "sem nenhum tipo de discriminação ou perseguição política", porque isso é o que ele chama de "justiça social". Dessa forma, ele tenta acalmar os temores de perseguição aos líderes do chavismo — ou melhor, a ação do sistema judiciário contra eles — depois que forem removidos do poder.

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