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Remy Sharp
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Cali se torna epicentro dos protestos contra governo da Colômbia

Desde o início, as manifestações contra o presidente Iván Duque e sua proposta de reforma tributária - já retirada - levaram a distúrbios na capital de Valle del Cauca

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Colômbia: a situação foi agravada pela crise econômica desencadeada pela pandemia - que afetou a indústria, o comércio e a agricultura em Cali (Luisa Gonzalez/Reuters)

Colômbia: a situação foi agravada pela crise econômica desencadeada pela pandemia - que afetou a indústria, o comércio e a agricultura em Cali (Luisa Gonzalez/Reuters)

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Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de maio de 2021 às, 12h09.

As noites se tornaram um pesadelo em Cali. A violência dos protestos contra o governo colombiano estourou na cidade, onde convergem os males de um país mergulhado em seis décadas de guerra civil. Na chamada "capital do pós-conflito", o acordo de paz assinado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2016, não trouxe a calma esperada.

Desde o início, as manifestações contra o presidente Iván Duque e sua proposta de reforma tributária - já retirada - levaram a distúrbios na capital de Valle del Cauca, com 2,2 milhões de habitantes, e no município vizinho de Palmira. Os protestos, duramente reprimidos, deixaram 32 mortos em Cali, "7 relacionados às marchas", segundo a prefeitura.

Durante os anos de conflito armado, a cidade recebeu migrantes camponeses pobres que não foram integrados plenamente, provocando "muita desigualdade", descreve Edgar Barrios, reitor da Universidad del Valle.

A situação foi agravada pela crise econômica desencadeada pela pandemia - que afetou a indústria, o comércio e a agricultura em Cali, cidade do sudoeste do país, onde a violência se intensificou após o acordo de paz. Há um somatório de descontentamento social, pobreza, "economia do tráfico ilegal de drogas" e "diferentes formas de criminalidade", diz Barrios.

Desabastecimento

Aos bloqueios de estradas, que provocaram desabastecimento de gasolina e de medicamentos em vários cidades em plena pandemia, o governo colombiano respondeu militarizando toda a cidade.

Kevin Agudelo, de 22 anos, participou, na segunda-feira, de uma vigília em Siloé, uma favela de Cali. Sua mãe lembra que ele prometeu não se aproximar dos "tumultos". "Ele disse que marcharia pelo bem-estar da Colômbia", disse Angela Jiménez, entre soluços. Foi a última vez que ela viu o filho vivo.

As mortes estão sendo investigadas. A ONU disse estar "profundamente alarmada" com os excessos da polícia em Cali, que "abriu fogo contra os manifestantes, matando e ferindo várias pessoas".

Na mesma noite, Daniela León foi pega no meio de confrontos entre as forças de segurança e manifestantes que tentavam tomar um pedágio em Palmira. "O confronto ocorreu no momento em que eles estavam a cerca de 500 metros do pedágio e todo o pelotão (de choque) saiu e atacou", disse a ativista da rede Francisco Isaías Fuentes.

Segundo Daniela, os manifestantes "entraram no mato para se proteger dos gases". Dezessete pessoas continuam desaparecidas, segundo números oficiais. Para ela, além dos tiros e das denúncias de abusos sexuais, o mais grave foi seu modus operandi: atacar à noite "para criar pânico".

Alvos

Os policiais também são alvos da violência nas ruas de Cali, onde a pobreza afeta 36,3% da população e a taxa de homicídios é de 43,2 mortes por 100 mil habitantes - o índice nacional é de 23,79. Na periferia da cidade, gangues armadas atacaram a polícia, deixando 176 soldados feridos, 10 por arma de fogo, segundo autoridades.

Para Carlos Alfonso Velásquez, coronel aposentado e analista da Universidad de la Sabana, pode haver agentes infiltrados de grupos "dispostos à rebeldia" nos protestos na Colômbia.

As manifestações entraram ontem no nono dia. Em Medellín, cerca de 12 mil pessoas saíram às ruas e houve confrontos no final da tarde. Os manifestantes pedem melhores condições na saúde e educação, mais segurança e o fim do abuso e da violência policial.

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