Briga de titãs: o país que quer expulsar 10 embaixadores — até dos EUA
Imbróglio começou com interferência de potências ocidentais em assunto nacional; diplomatas foram chamados a dar explicação às vésperas da reunião do G20, em Roma
Carla Aranha
Publicado em 25 de outubro de 2021 às 17h26.
Última atualização em 25 de outubro de 2021 às 18h26.
Uma crise diplomática sem precedentes entre a Turquia e países ocidentais, entre eles os Estados Unidos e a Alemanha, vem ganhando contornos dramáticos. A temperatura começou a esquentar no final da semana passada, quando o presidente Recep Erdogan decidiu convocar embaixadores de dez países para prestar esclarecimentos. No meio diplomático, isso é visto como um alerta vermelho — e pode resultar na expulsão dos diplomatas, caso não se chegue a um entendimento. O imbróglio acontece a poucos dias do início da reunião de cúpula do G20, que será realizada no próximo final de semana, em Roma.
A crise começou quando os representantes dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Holanda, Suécia e outros quatro países redigiram um abaixo-assinado pedindo a libertação do empresário turco Osman Kavala, preso há mais de quatro anos por acusações de haver participado do golpe de Estado de 2016. A iniciativa foi vista como uma interferência nos assuntos nacionais da Turquia — em casos assim, o país pode convocar os embaixadores para esclarecimentos.
Erdogan não poupou críticas aos diplomatas ocidentais, em um discurso duro no final de semana. “Dei ordens para nosso Ministério de Relações Exteriores cuidar rapidamente de declarar esses dez embaixadores persona non grata ”, afirmou em um pronunciamento pela TV. “Eles precisam conhecer e entender a Turquia. O dia que não fizerem isso, terão de sair”.
Depois disso, os embaixadores passaram a temer o próximo passo, que seria a expulsão. Agora, assessores diretos do presidente tentam convencê-lo a modular o tom. O Ministério de Relações Exteriores ainda não declarou os diplomatas persona no grata — o agravamento da situação diplomática poderia representar o momento mais tenso das relações da Turquia com o Ocidente das duas últimas décadas, desde quando Erdogan assumiu o poder.
Países europeus e grupos de direitos humanos vêm condenando há anos as prisões realizadas na Turquia contra dissidentes políticos. O caso de Kavala, que ficou dois anos preso a espera do julgamento, é considerado emblemático. A próxima audiência será no dia 26 de novembro — o Conselho Europeu afirmou que, caso o empresário não seja liberado, iniciará um processo contra a Turquia.
O imbróglio diplomático afetou o mercado. A Bolsa turca caiu 1,2% no final da semana passada e a lira, a moeda turca, atingiu uma das cotações mais baixas frente ao dólar. Nesta segunda, 25, com a predisposição do governo em jogar água na fervura, a lira começou a se recuperar, sendo cotada a 9,6 por dólar — mesmo assim, trata-se de uma das maiores desvalorizações globais em relação ao dólar neste ano.