
DAVID CAMERON: o primeiro ministro renunciou horas depois da vitória do Brexit / Stefan Wermuth/ Reuters (Stefan Wermuth/Reuters)
Em um resultado surpreendente, os eleitores britânicos decidiram na madrugada desta sexta-feira deixar a União Europeia. O Brexit venceu com cerca de 52% do total de votos. A decisão causa um terremoto político e econômico não só no Reino Unido, como em toda a Europa.
Para começar, o primeiro ministro britânico, David Cameron, um dos principais apoiadores do referendo e da permanência no bloco europeu, está politicamente morto. Cameron renunciou horas depois do anúncio e deve deixar o cargo oficialmente em outubro. O próximo primeiro ministro é quem deve assinar a saída. Um nome que ganha força entre o eleitorado é o também conservador Boris Johnson, ex-prefeito de Londres e maior defensor da saída. Mas analistas avaliam que Johnson deve ter pouco apoio dos caciques conservadores.
Ao sair de casa nesta sexta-feira, o ex-prefeito recebeu uma tremenda vaia dos londrinos. Em sua cidade, 60% dos eleitores votaram pela permanência. O mapa do resultado mostra um país dividido. Escócia e Irlanda do Norte votaram pela permanência. Líderes pela independência escocesa, que perderam um referendo há apenas dois anos, já se mobilizam para voltar às urnas — desta vez, com mais chances de vitória. Na Irlanda do Norte, onde eleitores também votaram por ficar, cresce o desejo de uma união à Irlanda. Até a pequena Gibraltar, um território britânico no Mediterrâneo, onde a permanência teve 90% dos votos, pode se unir à Espanha.
Em todo o continente, a vitória do Brexit vai reforçar o discurso isolacionista dos líderes de extrema direita. França e Alemanha têm eleições no ano que vem. A líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, já fala em um Frexit, uma votação pela saída da França da União Europeia.
As leis que definem a aliança do Reino Unido com a Europa ocupam 80.000 páginas. Tudo vai precisar ser renegociado nos próximos meses, o que deve levar insegurança econômica para o continente por meses e meses. Cerca de metade das importações e das exportações britânicas são feitas com a Europa. O país não tem acordo comercial isolado com nenhuma nação. Tudo isso está no escuro agora.
Com tanta incerteza, a libra chegou a seu menor valor em 30 anos. Até as 7h de Brasília a bolsa de Londres caía 6,5%; a de Frankfurt, 7,5%; a de Paris, 9,6%. O Banco da Inglaterra já separou 250 bilhões de libras para intervir caso seja preciso. Certamente será.