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Brexit: aprovação de europeus foi último passo para saída do Reino Unido

Acordo que regulamenta os termos do Brexit foi aprovado nesta quarta pelo Parlamento Europeu

Boris Johnson: os 47 anos do Reino Unido na União Europeia terminam amanhã à meia-noite, mas a saída britânica será mais teórica do que prática (Ben Stansall/Pool/Reuters)

Boris Johnson: os 47 anos do Reino Unido na União Europeia terminam amanhã à meia-noite, mas a saída britânica será mais teórica do que prática (Ben Stansall/Pool/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de janeiro de 2020 às 07h52.

Última atualização em 30 de janeiro de 2020 às 07h52.

São Paulo — Parlamento Europeu aprovou ontem o acordo do Brexit, o último passo formal antes da saída do Reino Unido. A sessão foi marcada pela emoção de alguns eurodeputados britânicos, que choraram na despedida.

"Somente na agonia da separação olhamos para a profundidade do amor", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, citando o poeta britânico George Eliot. "Sempre te amaremos e nunca estaremos longe."

Os 47 anos do Reino Unido na União Europeia terminam amanhã à meia-noite, mas a saída britânica será mais teórica do que prática. Apesar de não ser mais um Estado-membro, seguirá vinculado às normas europeias durante 11 meses, um período de transição, durante o qual Londres e Bruxelas negociarão um acordo comercial definitivo.

O negociador-chefe da UE, Michel Barnier, apresentou ontem o projeto de negociação à Comissão Europeia, mas ele só será divulgado na segunda-feira, após o Reino Unido se tornar oficialmente um terceiro país.

Além das dificuldades em fechar um acordo comercial com a Europa, o governo britânico enfrenta ainda outro desafio interno. Ontem, a Escócia intensificou sua estratégia para realizar um novo referendo de independência, desta vez com o argumento de que o Reino Unido abandonará a UE contra a vontade da maioria dos escoceses.

O gabinete da primeira-ministra nacionalista, Nicola Sturgeon, apresentou uma moção ao Parlamento escocês, que obteve o respaldo da maioria dos deputados. Apesar de ter apenas valor simbólico, a aprovação foi suficiente para elevar a tensão entre os dois governos.

O texto reconhece "o direito soberano do povo escocês de determinar a forma de governo que melhor se adapte a suas necessidades", pois se produziu "uma mudança material nas circunstâncias desde 2014", quando ocorreu o plebiscito, no qual 55% dos escoceses votaram contra a independência.

Os nacionalistas escoceses argumentam que a campanha pela união entre Escócia e Reino Unido, feita pelos principais líderes ingleses, tinha uma premissa básica: se os escoceses se tornassem um país independente, a Escócia não teria adesão imediata à UE.

O Brexit veio dois anos depois, justamente com o voto do interior da Inglaterra, apesar de 62% dos escoceses terem votado pela permanência no bloco. Este novo cenário, segundo Stugeon, justificaria uma nova votação - que tem de ser autorizada por Londres, mas que, até então, vem sendo negada pelo primeiro-ministro, Boris Johnson.

Amanhã, horas antes de o Reino Unido abandonar formalmente a UE, Sturgeon fará um discurso no qual anunciará quais serão os próximos passos da independência da Escócia. Segundo analistas, a questão pode ser decidida apenas nos tribunais.

O objetivo do SNP é realizar o plebiscito até o fim do ano. Mas, em razão da forte oposição do governo britânico, os mais otimistas acreditam que o mais provável é que a votação ocorra somente após as eleições regionais de maio de 2021.

Muitos nacionalistas escoceses querem aproveitar os primeiros meses do Brexit, que devem afetar a economia britânica, para aumentar o apoio pela independência da Escócia. De acordo com pesquisas, se o plebiscito fosse realizado agora, o resultado seria apertado, mas com uma pequena vantagem para os que desejam manter o território dentro do Reino Unido.

Outro problema que tende a se agravar após o Brexit é a Irlanda do Norte. Após 30 anos de violência entre católicos e protestantes, que deixou mais de 3 mil mortos, o território foi finalmente pacificado pelo Acordo de Sexta-Feira Santa, de 1998, pelo qual os britânicos concordaram em desmontar os postos de checagem na fronteira.

Sob as regras do mercado comum europeu, as economias das duas Irlandas se tornaram dependentes e integradas. Hoje, ninguém mais aceita a volta da fronteira física entre os dois territórios, o que significa, na prática, uma Irlanda unificada.

Para a nova geração, que não viveu o período turbulento entre 1968 e 1998, a divisão já não faz tanto sentido. Em setembro, uma pesquisa do instituto Deltapoll apontou que 52% dos norte-irlandeses - a maioria jovens - apoiam a unificação, enquanto 39% ainda querem ser parte do Reino Unido.

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