Cameron apela à Escócia para manter Grã-Bretanha inteira
Com pesquisas de opinião sugerindo um empate técnico, primeiro-ministro pediu que os eleitores não utilizassem o referendo como um voto de protesto
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2014 às 19h53.
Aberdeen/Londres - O primeiro-ministro britânico David Cameron usou a sua última visita à Escócia antes da votação do histórico referendo que decidirá a independência nesta semana para pedir aos escoceses que permaneçam parte do Reino Unido , advertindo nesta segunda-feira que um voto dissidente seria irreversível.
Com pesquisas de opinião sugerindo um empate técnico, Cameron, líder do partido conservador no poder, que tem a maior parte de seu apoio na Inglaterra, pediu que os eleitores não utilizassem o referendo como um voto de protesto.
"Não há como voltar atrás com isso. Nenhuma reedição. Se a Escócia votar 'sim', o Reino Unido se dividirá e vamos seguir caminhos separados para sempre", disse ele a uma plateia repleta de simpatizantes do Partido Conservador, em Aberdeen, o centro da indústria petroleira da Escócia.
"Não pense: Estou frustrado com a política agora, então eu vou embora. Se você não gosta de mim, eu não ficarei aqui para sempre. Se você não gosta deste governo, ele não vai durar para sempre. Mas se você deixar o Reino Unido, isso será para sempre."
A viagem de Cameron foi o último esforço para tentar convencer muitos eleitores indecisos da Escócia a rejeitar a independência. Estima-se que até 500 mil pessoas, de um total de mais de quatro milhões de eleitores registrados, ainda estão indecisas sobre como votar.
Fazer campanha na Escócia é algo delicado para Cameron, cujo partido inclinado à direita é impopular entre os escoceses que tradicionalmente votam a favor do Partido Trabalhista, de oposição e mais à esquerda, e que guardam lembranças amargas do governo conservador da primeira-ministra Margaret Thatcher, entre de 1979 e 1990.
Os conservadores de Cameron têm apenas um dos 59 assentos parlamentares britânicos na Escócia, e o Partido Nacional Escocês (SNP), pró-independência, tem ameaçado o Partido Trabalhista nos últimos anos para emergir como a força política dominante.
Cameron, com a voz por vezes trêmula por conta da emoção, falou depois da exibição de um vídeo exaltando realizações britânicas e algumas das figuras mais proeminentes da história britânica desde Winston Churchill a Alexander Fleming, um escocês que descobriu a penicilina.
"A independência não seria uma separação experimental. Seria um divórcio doloroso", disse Cameron, em pé na frente de uma bandeira gigante dizendo "Vamos ficar juntos".
"De cabeça, coração e alma, nós queremos que vocês fiquem." Cameron admitiu que sua imagem pública, de inglês privilegiado com raízes aristocráticas, não faz dele a melhor pessoa para argumentar contra a independência escocesa.
Nacionalistas escoceses o criticaram por se distanciar nos primeiros meses que antecederam a votação taxando-o como complacente, e agora que ele está mostrando sua cara, eles o veem como um inglês que não está em posição de aconselhar escoceses sobre como votar.
Líder Pró-Independência
Alex Salmond, líder do SNP, que é pró-independência, também estava fazendo campanha nesta segunda-feira em Edimburgo, onde se encontrou com líderes empresariais que apoiam a campanha separatista.
Ele acredita que os escoceses votarão pela independência e que a próxima visita de Cameron será para discutir os detalhes do acordo de separação dos 5 milhões da população escocesa do Reino Unido.
"A próxima vez que ele vier para a Escócia, não será uma explosão de amor ou para se envolver em desesperado alarmismo de última hora", disse Salmond em um comunicado. "Vai ser para envolver-se em conversas sérias pós-referendo."
Partidários da independência dizem que chegou a hora de a Escócia escolher seus próprios líderes e governos, livre do controle de Londres e dos políticos que eles dizem ignorar suas opiniões e necessidades.
Cameron repetiu o lema contra independência de sua campanha "Better Together" (Melhor junto): se ficar com o Reino Unido, a Escócia pode tirar vantagem dos benefícios de pertencer a uma entidade maior, mais influente, enquanto irá desfrutar de cada vez mais autonomia.