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Brasil não gosta da ideia de ter usinas nucleares, diz estudo

Segundo Felipe de Moura Kipper, fatores emocionais são decisivos na hora das pessoas opinarem se são ou não favoráveis às instalações nucleares

O receio desses acontecimentos permanece vivo no subconsciente popular e o mantém distante da aceitação da energia nuclear (Johannes Eisele/AFP)

O receio desses acontecimentos permanece vivo no subconsciente popular e o mantém distante da aceitação da energia nuclear (Johannes Eisele/AFP)

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Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2012 às 12h25.

São Paulo - A população brasileira tem uma predisposição a não gostar da ideia de o Brasil ter instalações nucleares. Segundo o pesquisador Felipe de Moura Kipper, fatores emocionais são decisivos na hora das pessoas opinarem se são ou não favoráveis às instalações nucleares.

“Os fatores emocionais são baseados em experiências anteriores, como por exemplo o acidente nuclear em Chernobyl (1986). Eles não são aleatórios e, portanto, podem motivar decisões acertadas”, diz Kipper, que pesquisou o tema em seu mestrado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), instituição associada a USP.

O receio desses acontecimentos permanece vivo no subconsciente popular e o mantém distante da aceitação da energia nuclear. “A opinião pública precisa entender os benefícios trazidos por esta energia e só quando isso acontecer se deve investir em instalações nucleares no Brasil, porque a vontade democrática deve ser respeitada.”

A pesquisa foi estruturada a partir da percepção de estudantes do ensino médio em relação às instalações nucleares no Brasil, com o objetivo de entender como a comunicação afetava o entendimento dessas pessoas sobre o tema. Eles tinham de responder de 1 a 5, sendo 1 o menor entendimento e 5 o maior. Dentre as questões colocadas estavam “benefícios da energia nuclear”, “riscos que ela oferece”, etc.

Dentre os meios que o público mais tem acesso para se informar sobre o tema, a TV e o rádio são mais representativos. O pesquisador pontua que a falta de um conhecimento técnico apurado dos profissionais da mídia atrapalha o entendimento das pessoas, pois informações corretas deixam de ser passadas e, muitas vezes, questões como desastres e acidentes são tratadas de maneira catastrófica.

A metodologia do trabalho se alterou com o acidente na usina nuclear de Fukushima, no Japão, em março de 2011. “O acidente aconteceu bem no meio do trabalho e não pudemos ficar alheios à isso. Era uma experiência muito rica envolvendo o assunto e tivemos que passar a considerar os efeitos que esse acidente teria sobre a percepção das pessoas”, afirma Kipper.


Fukushima

Estudando o acidente e os efeitos que ele traria – como os países repensando suas instalações e seus modelos de proteção contra acidentes nucleares, por exemplo -, Kipper e seu orientador, Antonio Carlos de Oliveira Barroso, também do IPEN, consideraram estudar o quanto as emoções eram decisivas na opinião das pessoas. “Com o mesmo questionário sendo aplicado, seria possível avaliar a mudança da percepção das pessoas depois do acidente”, diz.

Novas questões foram propostas aos estudantes do ensino médio e, nessa segunda fase, o pesquisador incluiu especialistas e pesquisadores no assunto para também responderem ao questionário, dando um total de 463 respondidos.

As principais diferenças nas percepções estão relacionadas aos benefícios oferecidos. Eles estão muito mais claros para os especialistas, enquanto pra população em geral esse assunto ainda é nebuloso. “No Brasil, utilizamos muito a energia hidrelétrica, o que gera a dúvida na população do porquê é necessário investir em uma energia considerada mais perigosa.

Na Europa, por exemplo, a situação é diferente, pois há uma forte presença de combustíveis fósseis e carvão mineral, então elas levam mais em consideração os impactos ambientais, especialmente o problema da emissão de gases de efeito estufa, cuja emissão é quase inexistente para as centrais nucleares.”

O papel do entendimento das pessoas passou a ser mais considerado nos últimos anos. O pesquisador se baseou em trabalhos do neurologista Antonio Rosa Damásio, que diz que o entendimento das pessoas está pautado por um modelo formado de acordo com as experiências positivas e negativas vividas, de modo que esse entendimento não é tão irracional, como se poderia imaginar. “As pessoas definem um padrão que acaba sendo bom pra elas. Se neste momento a população brasileira acredita que instalações nucleares não são positivas é porque há fundamentos para dizer que não são.”

Isso fica claro quando os especialistas, favoráveis às instalações nucleares, disseram que sentiriam medo se as instalações fossem construídas próximas às suas casas. “Nas respostas, os especialistas apontaram medo e receio de viver com uma instalação nuclear em seu entorno”, coloca Kipper. Desta maneira, fica claro que apesar de haver uma larga defesa para uma introdução mais abrangente da energia nuclear no Brasil, os próprios técnicos entendedores do assunto não se sentem confortáveis para viver sob os riscos que essa introdução representaria.

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