Bombardeios impedem entrega de ajuda humanitária em Ghouta
O comboio que entrou nesta segunda-feira na região rebelde foi obrigado a interromper sua operação de ajuda devido a confrontos do regime contra o enclave
AFP
Publicado em 6 de março de 2018 às 06h44.
Última atualização em 6 de março de 2018 às 10h06.
O comboio humanitário que entrou nesta segunda-feira na parte rebelde de Ghouta Oriental foi obrigado a interromper sua operação de entrega de ajuda devido a bombardeios do regime contra o enclave, sobre o qual avançam as forças de Damasco.
As tropas do governo sírio de Bashar al-Assad já controlam um terço do território rebelde, último bastião insurgente às portas de Damasco.
"Tomaram novas terras agrícolas e continuam seu avanço pelo leste", indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), acrescentando que as forças do governo estão agora a dois quilômetros de Duma, principal cidade de Ghouta.
Duma foi a primeira cidade a receber um comboio humanitário desde o início da atual campanha de bombardeios, em 18 de fevereiro, na qual o regime sírio tem o apoio de seu aliado russo.
Apenas nesta segunda-feira, os bombardeios mataram 73 civis, em vários setores rebeldes, incluindo Duma, segundo o OSDH.
A ONG denunciou ainda "18 casos de intoxicação e dificuldades respiratórias em Hamuriyé, após o lançamento de um foguete por um avião militar contra esta localidade".
A ofensiva do governo sírio tem sido marcada por bombardeios de uma intensidade inédita, já tendo deixado quase 760 civis mortos.
"As forças do regime controlam agora 33%" desse território de cerca de 100 quilômetros quadrados, disse à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
"Avançam rapidamente, porque as operações acontecem, principalmente, nas zonas agrícolas" do enclave, completou.
O Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução nesta segunda-feira que pede a abertura urgente de uma investigação internacional independente sobre a ofensiva de Bashar al-Assad no enclave rebelde.
Proposto pelo Reino Unido, o texto foi adotado por 29 votos dos 47 Estados, dos quais quatro votaram contra e 14 se abstiveram.
Apoiado pela Rússia, o regime sírio espera reconquistar todo o enclave, onde seus 400.000 habitantes sofrem uma severa escassez de alimentos e de remédios, em um "verdadeiro inferno na Terra", como descreveu o secretário-geral da ONU, Antonio Gueterres.
Chegada de ajuda humanitária
Nesta segunda, um comboio formado por 46 caminhões e transportando ajuda médica e alimentos para cerca de 27.500 pessoas entrou em Ghouta Oriental, mas segundo o representante na Síria da Agência para os Refugiados da ONU, a caravana teve que se retirar após nove horas de distribuição devido aos "bombardeios".
"Entregamos o máximo possível em meio aos bombardeios", tuitou Sayad Malik. "Os civis estão presos em uma situação trágica".
Apesar da interrupção, o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), Peter Maurer, celebrou.
"Com tanto sofrimento, é uma corrida contra o relógio para chegar à população de Ghouta Oriental", tuitou Maurer.
"Enfim... Um comboio do Crescente Vermelho sírio, do CICR e da ONU, que transporta a ajuda desesperadamente necessária para dezenas de milhares de pessoas se dirige para Ghouta Oriental na Síria", tuitou mais cedo o chefe de operações do CICR no Oriente Médio, Robert Mardini.
O conjunto de caminhões passou pelo setor de Al-Wafidin, ponto de controle instalado pelos russos e pelos sírios como corredor humanitário para Ghouta Oriental, informou também pelo Twitter o porta-voz do CICR, Pawel Krzysiek.
A agência da ONU indicou, porém, que "não foi autorizada a carregar grandes quantidades de ajuda médica vital". Como consequência, "três dos 46 caminhões que foram enviados a Duma estão quase vazios", lamentou a responsável da Ocha em Damasco, Linda Tom.
Esse corredor faz parte de uma "pausa humanitária" de cinco horas diárias anunciada pela Rússia e que entrou em vigor na terça passada, para permitir o envio de ajuda e a saída de civis desse enclave.
Um segundo comboio deve ser enviado na quinta-feira, segundo a ONU.
Novos bombardeios
Pelo menos 73 civis morreram entre domingo e esta segunda-feira em novos bombardeios aéreos do governo Bashar al-Assad contra Ghouta Oriental, onde o presidente sírio se declarou determinado a continuar sua ofensiva contra os insurgentes, informou o OSDH.
Os bombardeios alcançaram, na noite de domingo e na madrugada de segunda, várias localidades de Ghouta Oriental, incluindo Hamuriye, onde foram lançados barris de explosivos, relatou o OSDH.
"Houve, nesta segunda de manhã, bombardeios aéreos e disparos de foguetes contra vários setores de Ghouta", relatou o OSDH.
As forças do regime seguem "avançando no leste do enclave" sobre posições do Faylaq al Rahman e Yaish al Islam, os dois principais grupos rebeldes da região, segundo Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.
Na noite desta segunda-feira, as forças governamentais recuperaram a cidade de Mohamadiyé, no sul doenclave, após a reconquista de várias cidades do leste nas últimas 72 horas.
O objetivo é dividir em dois o enclave rebelde para separar o setor norte, onde está Duma, da zona sul, revelou Abdel Rahman.
A Síria é devastada por uma guerra civil desde 2011 que já deixou mais de 340 mil mortos.